Curta um Curta | A Morte Branca do Feiticeiro Negro

Alertamos que o curta pode ser gatilho para pessoas que se encontram em processo de depressão e ansiedade, sugerimos a quem está passando por esse momento que não o assista.

Banzo¹.

Essa dor, melancolia e sensação de não pertencimento. Saudade de suas raízes, aversão à privação de liberdade, doença infligida por meio da escravização. Instauração do medo e apagamento de uma história. De maneira poética em um ensaio visual, Rodrigo Ribeiro fala desse sentimento em A Morte Branca do Feiticeiro Negro, de 2020.

O curta, que foi exibido recentemente no Festival Rastro e o Festcurtas da Fundaj, aborda ao longo de seus doze minutos esse vazio.

Intercalando paisagens contemporâneas com fotografias de pessoas negras e takes de ambientes como senzalas e fazendas, o diretor resgata um fragmento dessa história.

Uma experiência sensorial na qual imagem e som constroem um lamento. A trilha parece um choro agoniado e acompanha legendas que relatam a falta de esperança, uma carta de despedida, um adeus suicida. As sensações de angústia e desespero são estabelecidas e impulsionadas para atingir quem está do outro lado da tela.

A Morte Branca do Feiticeiro Negro é um ensaio sobre o banzo, explorando as muitas camadas desse sentimento. Em cores, sombras e movimento, Rodrigo fala sobre cinco séculos do impacto e das consequências da escravização mercantilista em corpos e mentes dos povos negros e seus descendentes. Ele elimina a narrativa linear e em um fluxo perceptual provoca a reflexão sobre o que ultrapassa a perspectiva racional e adentra na profundidade do indivíduo.

Assim, é inevitável não ser envolvido por essa dor pungente que caminha ao longo dos séculos e marca corpos e espíritos afrodescendentes, amplificada por uma sociedade que acolhe o esquecimento das mazelas provocadas pelos anos escravização. Que mais títulos como esse desvendem, por meio das linguagens, sensações.

Nota: ★★★★★

 

¹ Banzo é uma palavra que, segundo Nei Lopes no Novo Dicionário Banto do Brasil, tem origem na língua QUICONGOmbanzu: pensamento, lembrança; e no QUIMBUNDOmbonzo: saudade, paixão, mágoa. Para ele, “Banzo é uma nostalgia mortal que acometia negros africanos escravizados no Brasil”. Nos dicionários oficias de língua portuguesa – os dicionários brancos –, banzo é definido como saudade da África, ou como adjetivação para pessoa triste, pensativa, atônita, pasmada, melancólica. (Portal Geledés)

 

Ficha Técnica

Título Original: A Morte Branca do Feiticeiro Negro

Direção: Rodrigo Ribeiro

Roteiro: Rodrigo Ribeiro

Fotografia: Carlos Adelino & Rodrigo Ribeiro

Produção: Gata Maior Filmes

Contato: Rodrigo Ribeiro – contato@gatamaior.com.br

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Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

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