Listão do Clube | Aberturas de séries mais bem elaboradas (1989-2005)

A série é um formato que consegue atrair as pessoas que gostam de cinema, as que gostam de novelas e também as que não gostam de nenhum dos dois formatos. Pensando em como o modelo foi sendo alterado ao longo das décadas, uma das mudanças sofridas foram em sua apresentação, abertura ou créditos iniciais. O que antes era apenas uma breve introdução se transformou em um “curta-metragem” que resume a ideia central da série.

Trazemos para vocês este Listão do Clube com as aberturas mais bem elaboradas de séries feitas entre os anos 1989 e 2005. Selecionamos cinco exemplos e vamos falar um pouco sobre o que é tão marcante em cada uma delas. 

 

Os Simpsons (1989-) 

Criada por Matt Groening e inspirada em seus pais e em sua infância, Os Simpsons está no ar há 31 anos e, pelo visto, ainda ficará por um bom tempo. O que marca a abertura da animação é o fato dela sempre inserir em uma estrutura padrão algum elemento diferente.

Ao longo dessas três décadas a abertura foi alterada inúmeras vezes. Por exemplo, as frases que Bart copia no quadro negro mudam a cada episódio. Há também o valor de Maggie ao ser passada no leitor do códigos de barras, que corresponde ao custo, em média, que os pais têm com um bebê estadunidense. 

Além das demais cenas cotidianas da cidade de Springfield, que sofre adições a medida em que personagens e história se desenvolvem, há também variações como uma abertura em homenagem a série Game Of Thrones ou até mesmo uma em live action. Impossível falar sobre aberturas bem elaboradas de séries sem pensar “haja criatividade para tantas mudanças na corrida por um lugar no sofá”. 

 

A Sete Palmos (2001-2005) 

A Sete Palmos é uma série da HBO sobre uma família que é dona de uma casa funerária. Cada episódio é iniciado por uma morte que servirá de ponto de partida para as discussões que serão feitas em cena. A dinâmica da família Fischer gira em torno da relação existente entre os componentes e conflitos como confiança, religião, homossexualidade, entre outros.

A abertura, em tom fúnebre e cores pasteis, delineia as práticas dos funcionários da funerária e o método de cuidado com os corpos após o óbito. Ela também apresenta metáforas sobre fim da vida, separação e efemeridade, como as mãos no início (que se separam), o corpo sendo levado em direção a luz (no fim do túnel) e o processo, acelerado, da morte dos lírios brancos. 

A abertura de A Sete Palmos foi desenvolvida pela Digital Kitchen, responsável pelas aberturas de True Blood e Dexter, e seu tema criado por Thomas Newman, amigo e parceiro de criação de Sam Mendes, que trabalhou com o diretor em Beleza Americana e 1917. Essa abertura e seu tema foram premiados com um Emmy em 2002. 

 

The L Word (2004-2009)

Esta abertura é mais original em sua ousadia do que em artifícios visuais propriamente ditos. Por se tratar de uma série sobre lésbicas, bissexuais e gays, na cidade de Los Angeles, falando abertamente sobre tabus, não podíamos esperar menos que descontração e glamour em sua apresentação. 

Embalada pela música tema que narra como aquelas mulheres vivem (Talking, laughing, loving, breathing/Fighting, fucking, crying, drinking/Writing, winning, losing, cheating/Kissing, thinking, dreaming), cada uma das personagens é apresentada. Todas mulheres de aparência vivaz, felizes, de várias etnias, corpos, e profissões, rompendo com estereótipos de lésbicas como pessoas que performam apenas masculinidade. 

A presença de cortes irregulares, excesso de luzes neon, fundos e formas desfocadas versam sobre a vida noturna badalada da cidade. Intercalada a esse aspecto noturno há cenas cotidianas de uma delas na piscina, ao telefone com sua amada, outra em frente ao notebook trabalhando e até um passeio casual de moto… que se encerra com um beijo sensual entre duas das personagens. Sem dúvidas uma abertura que sabe despertar a curiosidade.

 

Desperate Housewives (2004-2012) 

Em forma de colagem de recortes de obras consagradas das artes plásticas, a história da mulher é contada de maneira irônica. Quando a Eva de Botticelli toma para si a maçã, Adão é esmagado por aquela escolha e surge na fruta o título da série. 

A narrativa da história dos casais/das famílias passa por uma mãe egípcia em forma de hieróglifos, sendo esmagada por suas crias. Também atravessa os tempos e a rotina da senhora Arnolfini (Jan van Eyck) limpando a sujeira de seu esposo, e, até mesmo, pelo casal presente na pintura Gótico Americano do artista Grant Wood vivendo uma crise provocada pela sedução de uma pin-up. 

Todo o desenvolver termina em um recorte que remete aos livros em pop-up, com as quatro protagonistas embaixo da macieira, cada uma tomando para si a tal da fruta do pecado. Afinal, dizem por aí que todas nós pagamos pela escolha de Eva. Será? 

 

CSI (2005-2015)

Que atire a primeira pedra quem nunca se pegou cantarolando Who Are You, do The Who, após passar pela sala quando a rede aberta transmitia CSI em horário nobre. A série foi inovadora e provocativa ao mostrar a rotina dos investigadores da perícia da polícia de Las Vegas. Seu sucesso foi tanto que após algum tempo rendeu três spin-offs. 

O que tem de mais marcante e bem elaborado nas cenas é dizer de cara ao que veio com simulações de como as averiguações e exames são feitos de forma minuciosa. Planos detalhes de digitais, gotas de sangue caindo, luzes UV que desvendam fluidos e, inclusive, uma pancada na cabeça de um manequim. 

Essas escolhas alteram a visão comum que foi construída de Vegas em filmes clássicos como os do Rat Pack ou das apresentações de Elvis. Mesmo com panorâmicas sobre a cidade, as únicas luzes que importam são as que permitem desvendar crimes que parecem sem sentido. Além disso, cada um dos personagens é mostrado exercendo sua função, seja de rato de laboratório, detetive, policial de campo ou nerd da informática. 

A concepção de séries policiais onde os protagonistas eram os investigadores é substituída pelos caras que sempre estiveram por trás das cortinas. Creio que em meados dos anos 2000 todo mundo cogitou ser perito para viver uma aventura ao som de um bom rock’n’roll. 

 

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