Horrorscópio | Pânico
Em 1996 o slasher, gênero que ficou famoso por colocar em evidência grandes assassinos mascarados e suas lâminas, estava ficando bastante saturado, isso por conta do enorme número de continuações de Halloween, A Hora do Pesadelo, Sexta Feira 13, etc. Wes Craven, que pouco mais de uma década antes havia feito seu nome com o terrível Freddy Krueger, viu que o gênero não ia bem das pernas e resolveu inovar, marcando mais uma vez seu nome no terror.
Craven entendeu que poucas pessoas estavam levando as situações que deveriam ser “chocantes” ou “amedrontadoras” de um maníaco atrás de sua vítima a sério. Percebeu que por conta disso era preciso subverter o gênero, dando uma pitada de humor, junto a própria história dentro da obra. Era hora de tirar sarro do que ele tanto ajudou a consolidar, mas de forma inteligente, na qual as pessoas passassem a enxergar esses filmes de outra forma, assim dando uma nova vida ao slasher.
Com essas ideias, Craven nos apresenta Pânico, que é uma verdadeira sátira do slasher. E uma das sacadas mais interessantes que o diretor teve, foi de abraçar basicamente a cinefilia de seus personagens, se utilizando de várias referências do gênero, enriquecendo o filme e dando um tom de humor que era meio absurdo imaginar em um filme desses naquela época. Craven sabia que o segredo era seu filme não se levar a sério, e isso fica comprovado de cara quando vemos pela primeira vez o Ghost Face meio estabanado correndo atrás de sua primeira vítima. Ele cria um assassino que em nenhum momento nos passa a sensação de ser imbatível, pelo contrário, desde o primeiro minuto, Craven nos deixa claro que aquele é um humano qualquer e que pode sim ser ferido.
Outro ponto que enriquece a obra é o fato da identidade do assassino ser algo que realmente não importa muito, aquilo não é algo essencial pra prender o público. O que deixa a obra brilhante são suas sutilezas. Os planos detalhes nos sapatos do assassino e de alguns personagens, as referências e homenagens ao slasher, citando Sexta-Feira 13, homenageando Halloween, brincando com as próprias obras de Craven. O personagem cinéfilo que cita o passo a passo da estrutura de um filme slasher que os fizeram se tornar tão previsíveis.
É brilhante quando Craven coloca os seus personagens para reagir ao assassino, e não apenas fugir ou morrer. Existe sim um conflito, com uma boa dose de clichês que são utilizados em momentos cômicos. Um dos mais brilhantes é o momento em que se revela o assassino, o mesmo, claro, conta seu plano e suas motivações, e o mais genial é Craven fazer ele se autodestruir, subvertendo toda a expectativa que criamos, e coroando a obra com aquela pitada de humor bem sarcástica.
Ainda sobra um bom tempo para o diretor fazer uma crítica direta aos jornais e suas matérias sensacionalistas em meio a tragédias e assassinatos, introduzindo Gale Weathers (Courteney Cox) como a repórter que abusa da inconveniência e da inverdade para ganhar audiência. Se pensarmos bem, as coisas permanecem iguais, visto os inúmeros programas policiais e sensacionalistas a nossa TV tem hoje em dia.
Pânico é o clássico filme de um cinéfilo feito para cinéfilos. Muita gente que não tenha visto pelo menos meia dúzia de slashers pode estranhar o tom satírico e até achar o filme bobo, mas isso é o maior mérito da obra: brincar com o gênero e fazer o público interagir com o filme de uma forma diferente, através das referências, e não levar tão a sério o fato de quem realmente é o assassino. Craven brinca com a câmera na mão, quando o assassino persegue suas vítimas em um espaço mais fechado, trazendo todos nós para dentro do filme da forma mais pura que o cinema pode proporcionar.
Nota: ★★★★★
Ficha Técnica
Título Original: Scream
Ano: 1996
Direção: Wes Craven
Roteiro: Kevin Williamson
Elenco: Drew Barrymore, Neve Campbell, Skeet Ulrich, Courteney Cox, David Arquette, Liev Schreiber, Matthew Lillard
Fotografia: Mark Irwin
Trilha Sonora: Marco Beltrami
Montagem: Patrick Lussier
Figurino: Cynthia Bergstrom