Na Netflix | Os 7 de Chicago
Quando pensamos em manifestações nas ruas, violência policial e um sistema jurídico onde justiça não é sua força motriz, rapidamente nossas mentes estacionam em exemplos atuais. Mas este novo filme de Aaron Sorkin lançado pela Netflix nos lembra que isso é um problema de décadas que ainda persiste nos dias de hoje. E é encenando um dos julgamentos mais famosos dos Estados Unidos que Sorkin toca nessas feridas da democracia.
A trama de Os 7 de Chicago consiste na história real de um grupo de manifestantes levados à julgamento pelo governo americano, acusados de incitação à rebelião durante protestos acontecidos em Chicago no ano de 1968. Os réus são interpretados por Eddie Redmayne (Tom Hayden), Sacha Baron Cohen (Abbie Hoffman), Jeremy Strong (Jerry Rubin), John Carroll Lynch (David Dellinger), Alex Sharp (Rennie Davis), Noah Robbins (Lee Weiner) e Daniel Flaherty (John Froines).
O elenco é completado por Yahya Abdul-Mateen II, que vive Bobby Seale, o líder dos Panteras Negras Bobby Seale, Joseph Gordon-Levitt na pele do promotor Richard Schultz, Mark Rylance como o advogado de defesa William Kunstler, Frank Langella como o Juiz Julius Hoffmann e Michael Keaton como o ex-funcionário do governo Ramsey Clark.
A partir dessa lista, já dá para perceber que estamos falando de um filme onde se é necessária total atenção para não se perder no mar de informações e personagens. E nisso é algo onde Sorkin e o montador Alan Baumgarten acertam com louvor pois situam um julgamento de mais 180 dias e uma imensa cartela de componentes de um modo que o espectador saiba onde cada um se encaixa.
Dá para dizer que Aaron Sorkin está muito mais em casa com esse drama de tribunal do que em sua estreia na direção com A Grande Jogada. Como era de se esperar, o cineasta capta muito bem as vozes de cada uma daquelas pessoas reais – algo no qual ele já é craque -, mas da mesma forma, não surpreende por trazer uma direção um tanto “quadrada”.
É difícil não soar óbvio quando paramos para observar o desempenho do elenco de Os 7 de Chicago, já que ali há pelo menos oito performances dignas de prêmios – o que certamente não vai facilitar o trabalho da Netflix na hora de decidir em quem focar para a temporada de premiações.
Minha atuação favorita é a de Mark Rylance como um cansado advogado de defesa cujo semblante de esperança desaparece cada vez que o Juiz (vivido por Frank Langella) se mostra mais incompetente e bárbaro na maneira de conduzir o caso. É Langella, inclusive, quem vai fazer o espectador se contorcer de raiva ao longo de todo o filme, o que de certo modo depõe a favor do ator mas contra o roteiro de Sorkin, que soa mais maniqueísta do que eu gostaria de admitir.
Yahya Abdul-Mateen II, por sua vez, está sempre enorme em cena. Sua energia e fúria contra as injustiças absurdas cometidas dentro de um tribunal o permitem brilhar em todas as cenas em que aparece. Eddie Redmayne impressiona por parecer um homem americano (!) normal, cujos valores se chocam com o do personagem de Sacha Baron Cohen, que da mesma forma, se mostra o mais sóbrio que ele provavelmente consegue ser – e isso é um elogio visto que seu personagem sarcástico se encaixou perfeitamente na persona que já conhecemos.
Os 7 de Chicago acaba sendo um filme muito feliz na hora de propagar sua mensagem; até porque Sorkin não faz realmente questão de ser sutil. O governo americano (que serve de exemplo aqui para muitos outros governos democráticos) assume nessa história uma postura de quem está fazendo o que é certo, quando na verdade está apenas priorizando os interesses daqueles que estão no poder.
O longa faz questão de ressaltar quantas vidas foram perdidas e destruídas por causa desses jogos de interesse, seja em guerras sem sentido ou julgamentos facciosos. O final completamente catártico do filme é a prova disso, e ainda que soe um pouco “fantasioso demais”, dá à obra uma resolução satisfatória e serve como uma bela homenagem.
Para assistir o filme na Netflix, é só clicar aqui.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica
Título Original: The Trial of the Chicago 7
Ano: 2020
Direção: Aaron Sorkin
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen, Jeremy Strong, John Carroll Lynch, Yahya Abdul-Mateen II, Joseph Gordon-Levitt, Mark Rylance, Frank Langella, Michael Keaton
Trilha Sonora: Daniel Pemberton
Fotografia: Phedon Papamichael
Montagem: Alan Baumgarten