Na Netflix | Rosa e Momo
Sophia Loren é uma lenda viva não só do cinema italiano, mas também do cinema mundial. Seu trabalho no filme Duas Mulheres, de 1961, a fez entrar para história como a primeira atriz ou ator a ganhar um Oscar de atuação em língua não-inglesa. Além disso, ela coleciona diversas outras conquistas como um Grammy, cinco Globos de Ouro, um BAFTA e os prêmios de melhor atuação feminina nos festivais de Veneza e Cannes. Após mais de dez anos sem aparecer nas telas – seu último trabalho foi no musical Nine, de 2009 –, Loren retorna no longa Rosa e Momo lançado pela Netflix e sob direção de seu filho, Edoardo Ponti.
Baseado no livro La vie devant soi do francês Romain Gary, o filme se passa na costa da Itália e acompanha o nascimento de uma improvável amizade entre Rosa (Sophia Loren), uma sobrevivente do Holocausto dona de uma creche que acolhe filhos de prostitutas e Momo (o estreante Ibrahima Gueye), que acabara de roubá-la e, até então, se encontrava sob tutela do Dr. Cohen (Renato Carpentieri) desde que o jovem perdeu a mãe aos 6 anos de idade.
Como falado antes, Sophia Loren é uma figura lendária dentro do Cinema, possuindo o respeito e admiração de pessoas tanto dentro quanto fora da indústria cinematográfica. No entanto, sua escolha para retornar não poderia ser mais decepcionante e aquém do seu talento. Com uma história digna de Sessão da Tarde já vista e revista várias vezes em incontáveis outros longas, Rosa e Momo é um melodrama apelativo e repleto de clichês feito para tirar lágrimas do espectador.
O maior problema do projeto reside em seu roteiro previsível e chapado no desenvolvimento de personagens, principalmente os secundários que possuem conflitos superficiais servindo apenas como pobres artifícios para a história andar para a frente. Isso fica claro no arco dramático da personagem Lola (Abril Zamora), vizinha de baixo de Rosa.
Em dado momento do filme, quase em seu terceiro ato, um conflito relacionado ao seu pai querer conhecer o neto, mas não querer ver a filha (por ela ser uma mulher trans) é jogado simplesmente na cara do público. Isso ocorre para que mais a frente se torne uma justificativa que vai tirar Lola de cena e possibilitar que Momo efetue o resgate de um personagem sem ser impedido.
Além disso, as relações estabelecidas de forma apressada não dão tempo do espectador abraçar e se envolver com o que está assistindo, tornando toda a experiência mais apelativa e enfadonha. Por exemplo, a própria amizade dos protagonistas é desenvolvida sem nuances, passando de total conflito para compreensão sem mostrar muito o processo de um ponto até outro. A mesma coisa acontece na relação de Momo e Hamil (Babak Karimi), dono de uma pequena loja do bairro, a princípio estabelecida com o objetivo de emular uma conexão entre pai e filho, mas que é igualmente feita de forma rápida demais e pouco crível.
É inegável que Loren seja uma grande atriz. Aqui, a qualidade da sua atuação reside no seu olhar que diz muito sobre o que a personagem Rosa está sentindo mais do que qualquer linha do fraco roteiro. É um trabalho mais discreto feito com muita competência, porém, não suficiente para uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, como tem sido ventilado por muitos. Já Ibrahima Gueye atua de forma sensível, mas sem muitas nuances para além da raiva, felicidade e tristeza. Talvez com uma direção de atores melhor, o menino possa brilhar muito mais. Talento existe.
Rosa e Momo é um filme sobre carinho e amizade entre duas pessoas machucadas pelo mundo que ainda sofrem com as cicatrizes deixadas por ele, mas que não sai do “lugar comum” que já foi visto em vários longas parecidos. Infelizmente o talento de Sophia Loren não é suficiente para compensar um script repleto de problemas que impossibilita qualquer envolvimento do espectador com a história e seus personagens. É burocrático, previsível e totalmente esquecível.
Para assistir o filme na Netflix, clique aqui.
Nota: ★★✰✰✰
Ficha Técnica
Título Original: La vita davanti a sé
Direção: Edoardo Ponti
Roteiro: Edoardo Ponti, Ugo Chiti
Elenco: Sophia Loren, Ibrahima Gueye, Abril Zamora, Renato Carpentieri, Babak Karimi, Massimiliano Rossi
Montagem: Jacopo Quadri
Fotografia: Angus Hudson
Trilha Sonora: Gabriel Yared
O filme é ótimo! Achei essa crítica muito dura.
Acontece… Discordar faz parte! haha