Nos Cinemas | Invasão Zumbi 2: Península

Misture Baby Driver: Em Ritmo de Fuga com Mad Max. Adicione efeitos à la Michael Bay e uma dose sutil de qualquer filme de zumbi aleatório. Não, isso não é uma receita de bolo, mas parece ter sido a fórmula que o diretor sul-coreano Sang-ho Yeon usou na hora de realizar seu novo filme chamado Invasão Zumbi 2: Península. Apesar de ter garantido o seu selinho da Seleção Oficial do Festival de Cannes 2020, a continuação do surpreendente Invasão Zumbi é problemática do início ao fim.

Pra começar, o filme não consegue uma imersão imediata do espectador, talvez porque seu enredo inicial nos lembre demais da realidade atual: um vírus misterioso e mortal que coloca um país inteiro em estado de quarentena, deixando o mundo em alerta.

Isso poderia até contar a favor do filme caso os personagens fossem mais carismáticos, porém, o que ocorre é o exatamente o oposto: um protagonista desinteressante que vai encontrar pelo caminho um núcleo feminino com bom potencial, mas mal desenvolvido; e também vilões que acabam por forçar uma ideia de maniqueísmo sobre a história — e, dessa forma, lá se vai a possibilidade de colocar para o espectador dilemas morais tão típicos do gênero.

Se no primeiro temos relações familiares fortes, um grupo de jovens estudantes e um certo senso de heroísmo por altruísmo do protagonista, em Invasão Zumbi 2: Península os personagens soam muito mais distantes, criando uma barreira de identificação com o público. Até mesmo os acontecimentos parecem distantes do filme predecessor, já que essa continuação se passa 4 anos depois daquela fatídica viagem de trem que acompanhamos até a cidade de Busan.

Um ponto crítico do filme é a péssima qualidade do CGI, sobretudo nas cenas com carros, onde tudo parece muito obviamente artificial. A sensação é de estar vendo na tela um jogo de videogame (talvez The Last of Us?). Como boa parte do filme se passa em ambientes escuros, sob a luz noturna de lanternas e faróis dos carros, as imagens ficam ainda mais esquisitas, bem computadorizadas.

Não há problema algum em zumbis que correm. Como toda criatura inventada no imaginário popular, cada realizador tem lá suas liberdades na hora de decidir os atributos dos mortos-vivos que vai colocar em seu filme. Eles têm força? Têm olfato? Enxergam? Eles correm? Sim, e tudo bem. O problema aqui é que os zumbis parecem ter tido uma aula no Cirque de Soleil, tal o nível de contorcionismo e acrobacias que aqueles corpos em estado de decomposição são capazes de realizar. Não tem suspensão de descrença que ajude.

invasão zumbi 2

Contudo, pra não dizer que eu sou amarga, vamos falar de coisa boa. O elenco mirim, em especial a garotinha mais nova, é o pequeno sopro de frescor do filme, pilotando seus carrinhos de controle remoto para distrair as hordas de zumbis nos momentos críticos. Em certo ponto, lá pela metade do filme, ele até parece apresentar uma melhora de ritmo (e até de roteiro), mas só pra iludir o espectador e, no fim das contas, apresentar um final bem mais ou menos.

Com a infelicidade de sair no meio de uma pandemia no mundo real, Invasão Zumbi 2: Península pouco lembra o seu antecessor no carisma, certo apuro técnico e nível de diversão que oferece aos seus espectadores.

Afinal, sejamos justos: nem tudo é culpa do coronavírus. O filme pode ser vítima das circunstâncias atuais, mas sofre principalmente pelas escolhas duvidosas dos realizadores.

 

Nota: ★★✰✰✰

 

Ficha Técnica:

Título Original: Train to Busan 2

Ano: 2020

Direção: Sang-ho Yeon

Roteiro: Sang-ho Yeon e Ryu Yong-jae

Elenco: Dong-won Gang, Jung-hyun Lee, Re Lee, Ye-won Lee, Do-yoon Kim, Min-Jae Kim

Fotografia: Hyung-deok Lee

Trilha Sonora: Mowg

Montagem: Jinmo Yang

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Roseana Marinho

Roseana é publicitária e acha que os dias deveriam ter pelo menos 30h para trabalhar e ainda poder ver todos os filmes e séries que deseja. Não consegue parar de comprar livros ou largar o chocolate. Tem um lado meio nerd e outro meio bailarina.

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