No Disney+ | Soul

 

Enquanto 2020 se encerra com uma das piores reputações da história — incluindo no mundo do entretenimento —, a Pixar Animation vem na contramão. Não só referente aos tempos caóticos como também no que diz respeito à sua própria trajetória. O estúdio responsável por alguns dos filmes mais brilhantes dos anos 90 e 2000 veio se mostrando desinteressante na última década ao tentar reviver suas obras mais queridas e aclamadas, como Os Incríveis e Procurando Nemo.

O resultado foram continuações que não passavam de filmes divertidos e nostálgicos mas que pouco acrescentavam à filmografia da dona de Monstros S.A., Toy Story e Wall-E. E se títulos como Divertida Mente e Viva – A Vida é uma Festa, lançados em 2015 e 2017, já mostravam que é nas histórias originais que habita a excelência criativa da Pixar, o novíssimo filme do estúdio, Soul, deixa isso mais que evidente.

E não é só no quesito qualidade que Soul se aproxima dos já citados Divertida Mente e Viva. Os três filmes tem bastante coisa em comum, sendo a principal delas suas premissas que dão vida à ideias abstratas e inerentes à humanidade, como as emoções e a morte. O novo longa segue na mesma linha e transforma o propósito da vida em uma dessas figuras concretas típicas da Pixar. No entanto, pode-se dizer sem medo de exagerar, Soul eleva qualquer discussão existencialista encontrada nesses filmes a um outro nível.

soul

Aqui, as coisas se apresentam de forma um pouco menos acessível para as crianças, que provavelmente não conseguirão acompanhar toda a discussão existencial levantada pelo roteiro de Mike Jones, Kemp Powers e do também diretor Pete Docter.

Na trama, Joe Gardner (Jamie Foxx) é um músico que, pela primeira vez, consegue um emprego que lhe dá a tão sonhada estabilidade financeira. Mas é só quando ele tem a oportunidade de se juntar a uma das saxofonistas mais renomadas da área que a sua paixão pela música é acesa e ele explode em empolgação e propósito. O que ele não esperava é que no dia em que sua vida está enfim prestes a mudar, sua alma é levada acidentalmente para um limbo além-mundo extracorpóreo.

Enquanto Joe deseja voltar para sua existência cheia de prospectos, ele conhece Vinte e Dois (Tina Fey), uma velha alma que rejeita veementemente a ideia de habitar um corpo e viver como um humano na Terra. E é diante desse abismo de diferença que os dois personagens vão se ver em uma das aventuras mais importantes da sua vida/pré-vida/pós-vida.

Soul

Como boa parte dos filmes da Pixar e Disney, a construção de mundo de Soul, mais precisamente a do Grande Antes, é uma bela soma dos esforços dos roteiristas, designers de produção e diretores de arte do filme, que estabeleceram suas próprias regras e estética ao dar um aspecto único para sua criação.

Repleto de emoção e momentos densos, Soul se esforça para explorar sentimentos muito profundos enquanto desafia noções um pouco dolorosas demais se questionadas. Qual o sentido da vida? O que torna nossa passagem por aqui gratificante? O fato de estar disposto a fazer essas perguntas, seja para seus personagens ou para o espectador, comprova a coragem e a segurança que os artistas da Pixar tem em suas próprias histórias e público.

As escolhas ousadas de Soul não estão apenas em sua temática e abordagem, mas também em seu visual e trilha sonora. A estética parecida com o 2D que compõe os personagens Jerrys e Terry, funcionários do Grande Antes, soa contrastante em meio à magia da animação 3D. A trilha de Trent Reznor e Atticus Ross mistura duas paisagens sonoras diferentes ao longo do filme, uma etérea e digital e a outra mais tradicional e “jazzista”.

Vale ressaltar ainda que Soul é também muito engraçado, fazendo de toda sua jornada existencialista uma aventura cheia de acenos divertidos do início ao fim. O longa acaba promovendo uma verdadeira reflexão de autoconhecimento e celebra como poucos a complexidade do espírito e da natureza humana. Soul fecha os lançamentos de 2020 marcando um dos maiores acertos dos estúdios Pixar.

Nota: ★★★★✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Soul

Ano: 2020

Direção: Pete Docter

Codireção: Kemp Powers

Roteiro: Pete Docter, Mike Jones e Kemp Powers

Elenco: Jamie Foxx, Tina Fey, Graham Norton, Rachel House, Alice Braga, Richard Ayoade, Angela Bassett

Montagem: Kevin Nolting

Trilha Sonora: Trent Reznor e Atticus Ross

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Evandro Lira

Evandro gosta tanto de filmes que escolheu a opção Cinema e Audiovisual no vestibular, e hoje cursa na UFPE. Em constante contato com a cultura pop, se divide entre as salas de cinema, as aulas sobre Eiseinsten, xingar muito no Twitter e a colaborar com o Clube da Poltrona.

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