Sci-Fi | Gattaca – A Experiência Genética

 

Em Gattaca – A Experiência Genética, o mundo alçou o ápice da intolerância quando humanos “perfeitos” são criados artificialmente para serem úteis para a sociedade, à medida que pessoas “imperfeitas” e nascidas à moda antiga vivem à margem. O protagonista Vincent (Ethan Hawke) pertence a esse segundo grupo.

No entanto, ele está disposto a burlar esse sistema para realizar seu sonho de ir para o espaço. Para isso, depois de ser contratado como zelador na empresa de viagens intergalácticas Gattaca, Vincent faz um acordo com um homem cadeirante chamado Jerome (vivido por Jude Law), que lhe concede seu material genético – desde cabelo e sangue a pele e urina – para que Vincent possa atuar com uma nova identidade e crescer dentro da Gattaca.

É partindo desse conto distópico à la Aldus Huxley e George Orwell que o filme se desenrola ao longo de quase duas horas. Na década de 1990, Gattaca – A Experiência Genética surge como um respiro, sendo uma obra de ficção-científica que enfatizava muito mais sua atmosfera e seus personagens do que efeitos visuais de computação gráfica ou cenas de ação.

A reflexão sobre esse conceito de perfeição que assombra nosso coletivo ecoa por todo o filme, podendo nos remeter a coisas completamente diferentes, como estratificação social, ideologias eugenistas ou até um dos temas mais debatidos nos últimos tempos, como a cultura do cancelamento. Um fato é que o universo construído pelo roteirista e diretor Andrew Niccol evoca um futuro anêmico, mas onde o progresso científico permitiu com que o homem brincasse de Deus e, mais que isso, lutasse contra a ideia de imperfeição quase que literalmente.

Embora dialogue com todos esses conceitos, Gattaca não se contenta em abusar apenas de uma trama sci-fi distópica e se debruça sobre um thriller com elementos de filmes noir. Após o assassinato de um importante empregado da empresa e um cílio de Vincent ser encontrado na cena do crime, uma sensação de paranoia se apropria da história de forma que assistimos ao personagem principal se desdobrar para escapar da verdade. 

O filme segue o protagonista em sua jornada para esconder sua identidade e alcançar seu grande sonho de ser mandado para Titã. Há aqui um bom trabalho do elenco, incluindo Ethan Hawke e Jude Law que protagonizam algumas das melhores cenas do filme. Enquanto o primeiro interpreta um homem inteligente e carismático, o segundo vive um homem amargurado e alcoólatra. Uma Thurman, por sua vez, interpreta a colega e amante de Vincent, Irene, mas não tem espaço para ir muito além.

Um dos muitos méritos de Gattaca é que ele passa longe de sofrer com qualquer mania de grandeza por parte de seus idealizadores. Niccol faz um excelente trabalho na hora de limitar o universo daqueles personagens a alguns poucos cenários, evitando mostrar o exterior dessa cidade futurista onde eles vivem. Enquanto isso, a suntuosa fotografia de Krzysztof Kieslowski ressalta essa simplicidade estética desejada por Niccol e o design de produção (indicado ao Oscar) evoca um misto de passado e futuro que permite dar ao filme seu visual atemporal.

Mais próximo do fim, o longa decide por uma guinada não muito surpreendente, envolvendo o irmão “perfeito” de Vincent e que, apesar de ser compreensível para a conclusão do arco do protagonista, falha por tentar resolver tamanho dilema de forma simplória. Ainda assim, se tem algo com o qual aprendemos com Gattaca é que procurar a perfeição não é a melhor forma de lançar seu olhar sobre alguma coisa.

O saldo ainda é de uma obra hipnótica lembrada mais de 20 anos depois do lançamento como um dos melhores filmes de ficção científica do cinema americano.

Nota: ★★★★✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Gattaca

Ano: 1997

Direção: Andrew Niccol

Roteiro: Andrew Niccol

Elenco: Ethan Hawke, Jude Law, Uma Thurman, Loren Dean, Gore Vidal

Fotografia: Krzysztof Kieslowski

Montagem: Lisa Zeno Churgin

Trilha Sonora: Michael Nyman

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Evandro Lira

Evandro gosta tanto de filmes que escolheu a opção Cinema e Audiovisual no vestibular, e hoje cursa na UFPE. Em constante contato com a cultura pop, se divide entre as salas de cinema, as aulas sobre Eiseinsten, xingar muito no Twitter e a colaborar com o Clube da Poltrona.

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