Bang Bang | Matar ou Morrer (1952)
“Do not forsake me, oh my darlin’…“
Dirigido por Fred Zinnemann (A Um Passo da Eternidade e Oklahoma!), Matar ou Morrer acompanha o xerife Will Kane (Gary Cooper) da pequena cidade de Hadleyville, no Novo México, que no dia de seu casamento com Amy (Grace Kelly) e também de sua aposentadoria recebe a notícia de que Frank Miller (Ian MacDonald), um bandido extremamente perigoso que ele havia enviado para a justiça, fora inocentado e chegaria no trem de meio-dia buscando vingança. Correndo contra o tempo, o xerife local vai procurar ajuda com a população local para montar um pelotão e combater o fora-da-lei. No entanto, essa missão não será tão fácil quanto Kane esperava.
Considerado um dos faroestes mais importantes para o gênero, assim como um dos seus exemplares mais não-ortodoxos, o filme aposta em uma trama que preza pelas questões emocionais e morais de seus personagens ao invés de cenas de ação desenfreadas e tiroteios intermináveis. Aqui, seguimos o xerife em tempo real na sua busca por ajuda para enfrentar um bandido que no passado controlou a cidade trazendo medo e insegurança para seus moradores. No fim, o maior inimigo presente no longa é o tempo, e isso fica claro na constante presença de relógios em cena mostrando que os minutos passando são impiedosos e trazem cada vez mais perto a figura de Miller ao encontro de Kane.
Em Matar ou Morrer, os personagens possuem dilemas morais complexos em que nenhuma escolha é fácil. Esse fato abre espaço para o desenvolvimento de temas como coragem, covardia, orgulho e medo, além de propor um debate interessante a partir da desconstrução da ideia de justiça. Além disso, suas personagens femininas Amy Kane e Helen Ramírez (Katy Jurado) fogem do estereótipo encontrado em filmes semelhantes ao terem seus arcos desenvolvidos com profundidade assim como suas motivações. Nenhuma delas é passiva. Em algum momento da trama elas vão ter que tomar uma decisão, mesmo que vá contra suas crenças ou sentimentos.
Interessante notar também que temos um protagonista envelhecido, cansado, em eminência de largar o distintivo e começar uma vida nova com a sua esposa. Com o passar do filme, o vemos cada vez mais em conflito com ele mesmo, dividido entre seu instinto de sobrevivência de ir embora e se proteger, mas também com seu dever de defender a cidade. E, em meio a isso, tendo que lidar com a decepção e solidão de ter sido abandonado por aqueles que confiava e tomava como amigos, e o interesse de terceiros que fazem de tudo para ter o seu posto.
Por outro lado, Matar ou Morrer também pode ser visto como uma alegoria sobre o período político em que os Estados Unidos estava passando: o Macarthismo. Durante os anos 1950, o país passou por uma crescente repressão política aos comunistas através se utilizando do medo da presença deles em instituição estadunidenses e também de espiões. Promovida pelo senador republicano Joseph McCarthy, essa prática se tornou uma “caça às bruxas” por meio de acusações de subversão e traição por meio de suspeitas dadas como certas mesmo se fossem baseadas em evidências inconclusivas, questionáveis ou exageradas.
Um dos principais alvos do Macarthismo foi Hollywood com a chamada “Lista negra”. Diversos artistas ligados ao cinema, especialmente roteiristas, foram acusados de serem comunistas e consequentemente proibidos de trabalhar para os grande estúdios. Em meio a isso, para que seus nomes não fossem relacionados a esses artistas e sofressem algum tipo de perseguição, várias pessoas se abstiveram e não apoiaram seus pares. Em Matar ou Morrer, a figura do xerife procurando ajuda e toda a cidade virando as costas para ele simboliza muito bem o que aconteceu naquele período.
Vencedor de 4 Oscars, incluindo Melhor Ator, Matar ou Morrer é um clássico do western estadunidense que da mesma forma que revolucionou o gênero ao trazer um componente mais psicológico e debates moralistas para a história, é igualmente corajoso ao ter escancarado o clima que pairava sobre Hollywood na época. Embalado por uma das canções mais conhecidas do cinema, o filme é um ótimo trabalho de tensão crescente que em apenas 85 minutos entrega a jornada de um cavaleiro solitário protegendo uma cidade inteira que lhe virou as costas. Tudo em defesa do dever e da lei.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica
Título Original: High Noon
Ano: 1952
Direção: Fred Zinnemann
Roteiro: Carl Foreman
Elenco: Gary Cooper, Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Grace Kelly, Otto Kruger, Lon Chaney, Henry Morgan
Fotografia: Floyd Crosby
Montagem: Elmo Williams
Trilha Sonora: Dimitri Tiomkin