Passaporte | Um Contratempo
Nos últimos anos, a Netflix tem dado ao público a oportunidade de conhecer dramas e thrillers que fogem do eixo Estados Unidos e Inglaterra. Quando um assinante do streaming se pega assistindo a Um Contratempo, filme espanhol com ares de David Fincher lançado em 2016, é fácil perceber que: 1) há um catálogo imenso e inexplorado de produções à sua espera, e 2) vai ser impossível desligar sua atenção pelas próximas horas.
Na trama de Um Contratempo, o bem sucedido empresário Adrián Doria (Mario Casas) é acusado de matar sua amante Laura (Bárbara Lennie) depois que ele é encontrado ao lado do corpo da mulher em um quarto de hotel. O homem, no entanto, nega a acusação e jura que havia outra pessoa no quarto, que bateu nele e cometeu o assassinato.
E para ajudar Doria a contar essa história de forma convincente, está uma das maiores profissionais do ramo, Virginia Goodman, uma advogada que, com seu jeito duro, tenta preparar o homem a todo custo para sua defesa. A partir da reconstrução dos fatos que levaram o empresário até o quarto àquela noite, o espectador se deleita com o emaranhado de tramas que envolvem o crime.
Ainda que eletrizante, Um Contratempo é essencialmente racional, justificando sua paleta de cores sóbria, que abusa do azul e do cinza em boa parte do filme. É cheio de diálogos ágeis e repetições de momentos sob outra ótica, se mostrando a cada minuto altamente bem elaborado, e mesmo quando parece que vai deixar a peteca cair, pega a próxima curva e eleva o nível dos detalhes. O roteiro é do também diretor Oriol Paulo, que transforma cada cena em uma peça chave para entender a próxima reviravolta da trama.
Para além dos méritos pelo roteiro, Paulo faz um trabalho exemplar com a câmera. O diretor entrega planos elegantes e também funcionais para a narrativa, já que da mesma forma que o visual embeleza a história, ele vai plantando pistas inteligentes ao longo de todo o filme para algo que só descobriremos no final.
A atuação do protagonista, Mario Casas, se mostra correta mas é engolida pelas performances de suas co-stars Bárbara Lennie e Ana Wagener. Na pele da Laura, Lennie vive duas versões de uma mesma mulher, sempre pela ótica dos personagens de Casas e Wagener. Seja a jovem fria e cínica ou a jovem carregada de culpa, Lennie entrega um trabalho maduro, deixando seu talento muito mais evidente ao lado de Casas. Wagener, por sua vez, apresenta uma performance cheia de sutilezas com sua personagem, uma figura blindada e que está sempre um passo à frente.
Envolvente e impactante, Um Contratempo não permite que alguém saia indiferente ao que acabou de assistir. O filme brinca o tempo todo com a verdade por trás das ações de seus personagens, desafiando o espectador cem por cento do tempo e cabendo a ele extrair o que é real desta história imperdível.
Nota: ★★★★✰
Ficha Técnica
Título Original: Contratiempo
Ano: 2016
Direção: Oriol Paulo
Roteiro: Oriol Paulo
Elenco: Mario Casas, Bárbara Lennie e José Coronado, Ana Wagener
Fotografia: Xavi Giménez
Montagem: Jaume Martí
Trilha Sonora: Fernando Velázquez