Nos Cinemas | Judas e o Messias Negro

 

I am… a revolutionary! I am… a revolutionary! I am… a revolutionary!”

 

Baseado em fatos reais, Judas e o Messias Negro acompanha a história de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), presidente do Partido dos Panteras Negras no final dos anos 1960, que foi assassinado aos 21 anos após uma conspiração envolvendo o FBI e o Departamento de Polícia de Chicago, além de um infiltrado na organização chamado Bill O’Neal (Lakeith Stanfield) que repassava informações para o investigador Roy Mitchell (Jesse Plemons). Acusado de terrorismo, a ascensão de Hampton e dos Panteras Negras apavorava o ex-diretor do FBI J. Edgar Hoover (Martin Sheen), cujo temor era o surgimento de um “Messias Negro” que pudesse expandir e fortalecer ainda mais o grupo.

Judas e o Messias Negro

De acordo com o Portal Geledés, o Partido dos Panteras Negras (fundado em 1966 por Huey Newton e Bobby Seale) foi uma organização nacional que tinha como objetivo combater coletivamente a opressão dos brancos. Depois de ver os negros sofrerem constantemente com a tortura praticada por policiais em todo o país, Newton e Seale ajudaram a formar o pioneiro grupo de libertação dos negros para ajudar a construir uma comunidade e confrontar sistemas corruptos de poder. Em meio a esse cenário, o partido foi crescendo e se expandindo, instituindo uma variedade de programas sociais comunitários voltados para a população marginalizada que envolvia café da manhã grátis para crianças e clínicas de saúde comunitárias.

Após a eleição de Richard Nixon para a presidência dos Estados Unidos, Hoover se sentiu ainda mais forte para oprimir, perseguir e destruir o Partido dos Panteras Negras que, para ele, era considerado a maior ameaça ao país.  Para tal, se utilizou de um Programa de Contraespionagem (COINTELPRO) com o objetivo de “desmascarar, perturbar, desorientar, desacreditar ou, caso contrário, neutralizar” as ações da organização.

Do outro lado, Fred Hampton fundou a Rainbow Coalition, uma organização política que unia os Panteras Negras de Chicago, os porto-riquenhos Jovens Lordes e os Jovens Patriotas, composto por brancos (“white trash“) e também firmou uma aliança entre as principais gangues de rua locais para ajudá-los a acabar com as lutas internas e trabalhar pela mudança social. Essa união representou uma ameaça real ao establishment tanto de Chicago quanto nacional, levando o FBI liderado por Hoover e o Departamento de Polícia a organizarem o assassinato de Hampton como forma de minar a coalizão.

Judas e o Messias Negro

Dirigido por Shaka King, que também foi responsável pelo roteiro do filme em parceria com Will BersonJudas e o Messias Negro é o retrato de um período dos Estados Unidos de resistência e luta revolucionária contra a injustiça social, racismo e opressão, que se mantinham através da violência e perseguição para impedir o surgimento de uma sociedade mais justa e igualitária. Além disso, é um filme que defende a memória daqueles que partiram em meio à luta para que eles não sejam esquecidos ou seus legados reduzidos a um ato violento.

Para entender a organização e conhecer seu líder Fred Hampton, o longa segue Bill O’Neal, um ladrão que se finge de agente federal para roubar carros que após ser detido, faz um acordo com  o FBI de se infiltrar no Partido dos Panteras Negras, ganhar a confiança deles e se aproximar de seu presidente. A princípio indiferente às questões políticas e sociais debatidas, admirado pelo tratamento dado por um agente branco a ele e se interessando em trocar informações por dinheiro, aos poucos vemos o personagem ficando cada vez mais dividido em meio à missão. Com o passar do filme, ele vai se envolvendo mais e mais com a organização, entendendo seus objetivos e criando uma consciência sobre o que está em jogo ali, ao mesmo tempo em que é colocado face a sua própria ambivalência. Já com Hampton, o vemos através de um prisma mais humano, por trás da sua figura carismática e de liderança.

O diretor quer mostrar a complexidade da personalidade dos dois, suas dúvidas, dilemas, princípios e medos, fazendo com que o espectador entenda perfeitamente o porquê de fazerem o que fazem e de suas escolhas.

Judas e o Messias Negro

O período é mais um dos vários vergonhosos da história dos Estados Unidos, em que o filme não tem medo de mostrar a faceta violenta, racista e conspiratória do FBI e do governo. Dinheiro, contrainformação, coerção, espionagem, assassinatos, tudo isso rodeava a instituição que estava focada em destruir qualquer coisa que ameaçasse, na visão deles, o status quo branco e capitalista mantido através da injustiça social e opressão.

Daniel Kaluuya entrega a melhor atuação masculina do ano (junto com Chadwick Boseman por A Voz Suprema do Blues) e da sua carreira. Totalmente imerso no personagem, é impressionante como o ator desaparece na pele de Fred Hampton. O trabalho tanto vocal como corporal é impressionante e só prova o quanto ele é talentoso e merece todo o reconhecimento que tem ganhado para o Oscar. Destaque também para Lakeith Stanfield e Dominique Fishback.

A fotografia de Sean Bobbitt é outro ponto a ser ressaltado, colocando com frequência um tom azulado dividindo o mesmo espaço em oposição ao amarelo para mostrar a dualidade de Bill O’Neal, e também a canção original “Fight For You“, escrita e cantada pela cantora H.E.R., que encerra o filme clamando por um luta pela liberdade.

Judas e o Messias Negro

Se falta coragem para Os 7 de Chicago, Judas e o Messias Negro tem de sobra. Shaka King nos entrega um dos filmes mais importantes do ano sobre um período e uma figura histórica que ainda dialogam com a atualidade. Os problemas enfrentados na época e a necessidade de luta permanecem até hoje. A opressão, a injustiça social, a violência policial e o status quo racista se mantém e precisam ser combatidos.

Nota: ★★★★✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Judas and the Black Messiah

Ano: 2021

Direção: Shaka King

Roteiro: Will Berson & Shaka King

Elenco: Daniel Kaluuya, Lakeith Stanfield, Jesse Plemons, Dominique Fishback, Ashton Sanders, Darrell Britt-Gibson, Lil Rel Howery, Algee Smith, Martin Sheen

Fotografia: Sean Bobbitt

Montagem: Kristan Sprague

Trilha Sonora: Mark Isham & Craig Harris

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Vinicius Dias

Carioca graduado em Relações Internacionais, não sabe muito bem quando começou a sua paixão pela Sétima Arte, mas lembra de ter visto Tarzan (1999) no cinema três vezes e de ter sua fita dupla de Titanic (1997) confiscada pela sua mãe por assistir ao filme mais vezes do que deveria. Não gosta de chocolate, café e Coca-Cola, mas é apaixonado por Madonna, Kylie Minogue e Stanley Kubrick.

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