Na Netflix | Pelé

 

O nome é Edson Arantes do Nascimento, mas o mundo o conhece através de um curto apelido: Pelé.

Considerado por muitos não apenas o maior jogador de futebol de todos os tempos, mas também já foi denominado o atleta do século XX pelo Comitê Olímpico Internacional, superando nomes de peso como Muhammad Ali, Jesse Owens e Michael Jordan.

Apesar de explicar brevemente no início a vida do jogador, o documentário produzido pela Netflix não está muito interessado em abordar as questões pessoais e familiares — tanto que o depoimento de sua irmã e exposição sobre seu primeiro casamento parecem deslocados por conta do objetivo principal da obra.

Os diretores Ben Nicholas e David Tryhorn seguem uma estrutura convencional para o gênero que está inserido, pondo os acontecimentos numa ordem cronológica para que o público compreenda com mais facilidade as coisas, além de sempre alternarem as imagens (belamente restauradas) com depoimentos de jogadores e jornalistas para que o contexto seja estabelecido.

Mesmo que tenha uma imagem mítica no futebol (o único homem da história a ganhar 3 Copas do Mundo dentro das quatro linhas) e ser um dos responsáveis por colocar o Brasil “no mapa” em termos de cultura popular, o documentário tenta humanizá-lo o máximo possível, demonstrando ser um indivíduo que passou por muitos obstáculos na carreira — não sendo à toa que, logo nos primeiros minutos, Pelé apareça quase se arrastando com a ajuda do andador para se sentar na frente das câmeras e também interagir com os companheiros da época numa cadeira de rodas.

Para os amantes do esporte, a Copa de 1958 (onde iria, com apenas 17 anos, fazer dois gols numa final!) e 1970 são bem analisadas de acordo com a proposta narrativa, porém, peca na de 1962 por nunca citar Garrincha e Vavá: os dois principais jogadores que trouxeram o bicampeonato mundial para o país. Ainda que faça sentido comentar sobre Amarildo (seu substituto por conta da lesão), chega a ser desonesto não mencionar uma vez sequer Garrincha pelo fato de ter sido seu grande companheiro na seleção brasileira, conquistando o feito de nunca terem perdido uma partida quando ambos estavam em campo.

A grande polêmica sobre esse documentário foi a politização de tudo. Embora o delicado tópico sobre a ditadura seja discutido, Pelé parece um pouco incomodado com as perguntas, já que nunca foi uma personalidade que se posicionou contra ou a favor do governo; muito pelo contrário, sempre “nadou a favor da maré” por encontrar regalias e favorecimentos justamente por ser uma figura que tinha potencial para influenciar a população.

Diferente daqueles que acham que tal escolha prejudica idelogicamente a nova obra do streaming, a verdade é que tudo é um ato político, incluindo suas omissões. Ainda que, provavelmente, certos depoimentos tenham sido descartados por criticar essa postura neutra do maior atleta brasileiro da história, o segmento se faz até relevante, uma vez que o futebol (como qualquer outro esporte) está dentro de um contexto e isso reflete o maior patrimônio de qualquer país: o seu povo.

Tudo isso culmina na Copa de 1970 (tanto especialistas quanto a opinião pública consideram a maior seleção de todos os tempos) porque ele não queria participar por ter sofrido lesões nas duas Copas anteriores, mas, por pressão do presidente Médici, foi convocado para jogar.

E os diretores estruturam o terceiro ato em torno daquela Copa porque compreendem ser o ápice esportivo para aquele que é considerado Rei, não sendo nada mais que o resultado direto de uma caminhada contestada e repleta de polêmicas, como, por exemplo, acharem que ele estava ficando cego. É o evento definitivo para a superação máxima.

Se a população está feliz, o governo também está. Portanto, todas as atitudes e consequências geram um resultado político, mesmo que você não tenha a intenção, mas toda essa noção decorre mais do próprio intelecto do espectador do que um conhecimento adquirido por causa do documentário.

Mesmo que seja relevante essa estrita relação, o assunto é tratado de forma bastante superficial. Sendo assim, com o claro objetivo de contextualizar o cenário, não consegue alcançar a excelência nem no âmbito político quanto no desportivo.

No fim, com essa notória falta de ousadia, a experiência para desvendar quem é aquele indivíduo é insatisfatória, restando somente como mera curiosidade para os verdadeiros apaixonados por futebol a imensa magnitude de Pelé.

Nota: ★★★✰✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Pelé

Ano: 2021

Direção: Ben Nicholas e David Tryhorn

Fotografia: Michael Latham

Montagem: Matteo Bini e Andrew Hewitt

Trilha Sonora: Felipe Jim

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Jonatas Rueda

Capixaba, formado em Direito e cinéfilo desde pequeno. Ama literatura e apenas vê séries quando acha que vale muito a pena. Além do cinema, também é movido à música, sendo que em suas playlists nunca podem faltar The Beatles, Bob Dylan, Eric Clapton e Led Zeppelin.

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