No Prime Video | Sem Remorso

 

O que conheço de Tom Clancy vem dos games e do cinema, portanto, fica muito mais fácil analisar as obras que detém o nome do escritor de forma mais limpa, sem ficar comparando com os livros. Aqui, acompanhamos o protagonista John Kelly (interpretado por Michael B. Jordan) que é um combatente de elite da marinha americana e, logo após uma missão secreta envolvendo a CIA, cai numa armadilha e sua esposa grávida acaba sendo assassinada. Com isso, Kelly parte para uma brutal vingança e acaba esbarrando em uma conspiração envolvendo dois governos. 

Como é comum em Hollywood, a trama é bem manjada, mas isso não impede o diretor (Stefano Sollima) de fazer com que o trabalho de B. Jordan seja sólido e muito bem desenvolvido. Se torna quase um estudo de personagem, já que acompanhamos Kelly tornando-se mais uma peça no jogo governamental, sendo usado por falsos ideais, além de acompanharmos o crescimento do mesmo ao tentar impedir toda a conspiração que está sendo elaborada.

Michael B. Jordan “entra de cabeça” no personagem, entregando um personagem que além de seguir a cartilha do protagonista de filme de ação, crescendo dentro da trama; seguindo da justiça até a revolta; da coragem e ação ao medo, quase uma máquina que vai em busca de sangue.

Em alguns pontos, o roteiro quase consegue me tirar da imersão com a falta de coerência, já que o protagonista, ao mesmo tempo que está disposto a morrer pela sua vingança, deixando de lado toda sua carreira e devoção ao governo estadunidense, também está disposto a apresentar um plano para evitar conspirações.

Claro que o personagem evolui dentro da própria trama, passando a entender que tudo é muito maior, mas o texto é incoerente ao dar pouco espaço para que nós entendamos os motivos do personagem abrir mão de tudo e voltar atrás. 

Contudo, vejo esses detalhes como algo completamente irrelevante porque não afetam todo o exercício de gênero que o diretor se propõe a fazer. Além do trabalho do B. Jordan (que mencionei logo a cima), também tem a ambientação que cria um clima conspiratório sem a necessidade de uma trilha sonora muito expositiva. 

Isso se deve também ao fato do diretor dar a devida atenção e importância a mise-en-scène ao criar cenários hostis, seja dentro de uma cela de cadeia ou dentro de um hotel quando Kelly e seus colegas são atacados por dois atiradores.

Isso Sollima faz de melhor, não utilizando a ação para se pensar nos cenários; ele pensa o contrário, aonde os cenários irão ditar o ritmo da ação, equilibrando o ritmo de acordo com cada adversidade que o personagem principal se envolve.

É bem comum as cenas da qual o protagonista está ferido, porém, mesmo assim, segue seu objetivo, seja caminhando ou se arrastando. Dando ênfase a máquina da qual o personagem se tornou e, a partir disso, quando ligamos o cenário/situação, mais as condições de Kelly (que entendemos como cada ferramenta dessa trinca) faz com que o resultado seja tão satisfatório.

Gosto como o texto vai jogando iscas, aflorando a desconfiança do público perante alguns personagens. Esse jogo só funciona porque o filme é direto, não fica perdendo tempo com tramas paralelas desnecessárias, focando na ação em sua essência e em “dar liga” a todo um contexto que deverá ser estabelecido num futuro próximo, já que, o personagem é a representação do início de toda uma elaborada equipe anti-conspiratória. 

Sem Remorso não é nenhuma obra-prima, mas entrega de forma bem efetiva o que se propõe ao ter um bom desenvolvimento de personagens, uma ambientação primorosa e cenas de ação bastante plausíveis.

Provavelmente, a coisa que faz o novo trabalho do Stefano Sollima ser bom é sua notória despretensão, uma vez que a obra nunca está interessada em ir além do que ela é capaz.

Nota: ★★★★✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Tom Clancy’s Without Remorse

Ano: 2021

Direção: Stefano Sollima

Roteiro: Taylor Sheridan, Will Staples

Elenco: Michael B. Jordan, Jodie Turner-Smith, Jamie Bell, Guy Pearce, Lauren London, Jacob Scipio, Todd Lasance, Jack Kesy, Lucy Russell, Cam Gigandet

Fotografia: Philippe Rousselot

Trilha Sonora: Jon Thor Birgisson

Montagem: Matthew Newman

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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