Nos Cinemas | Mortal Kombat

 

As adaptações de videogames para as telas do cinema quase sempre tiveram recepções negativas tanto pelo público quanto pelos críticos. A década de 1990 ficou marcada por ter iniciado essa tendência, tendo como seus mais conhecidos exemplares o infame Super Mario Bros., Street Fighter: A Última Batalha e, provavelmente o mais famoso de todos, Mortal Kombat.

Diferentemente da obra de 1995, essa nova adaptação do jogo se leva bem mais a sério do que deveria. É até interessante ver uma abordagem mais sangrenta que entra em sintonia com os famosos fatalitys dos lutadores, como também a presença de frases como “Finish him!” e “Get over here!” que irão deixar os fãs mais apaixonados contentes.

Contudo, só a presença desses elementos não basta. Além do humor pontual pouco inspirado (e quase que exclusivamente de Kano), diálogos expositivos, facilidade para o encadeamento dos eventos e a irritante insistência de explicar uma história tão simples, a obra de 2021 peca por não conseguir imprimir tensão nas cenas de ação através de uma montagem que beira a esquizofrenia.

Os muitos cortes abruptos e os vários núcleos de ação que acontecem numa montagem paralela (algo que tem ficado cada vez mais recorrente nos filmes de ação nos dias de hoje) não fazem com que o espectador se sinta dentro daquele território hostil de batalha.

Como se não bastasse, o estreante na direção Simon McQuoid faz a péssima escolha de querer utilizar de maneira excessiva a trilha sonora composta Benjamin Wallfisch (que tenta emular a de Mad Max: Estrada da Fúria) nesses segmentos, gerando, por consequência, a perda desse impacto porque o trabalho sonoro dos socos e chutes são diluídos na mixagem.

Mesmo com essa intenção de ter uma espécie de engajamento emocional, o filme não acerta nesse aspecto porque não há um desenvolvimento apropriado para os personagens, já que os acontecimentos ocorrem de forma muito rápida — chegando ao ponto de que em apenas um dia, todos os três escolhidos, descobrem suas habilidades especiais da maneira mais conivente possível.

Outro erro dessa produção é o fato de se criar um protagonista completamente novo (não existente na mitologia do jogo) para não ser tão aproveitado assim. Toda a premissa de sua linhagem é logo esquecida e as súbitas aparições de determinado personagem é uma preguiçosa tentativa do roteiro em estabelecer uma conexão do passado com o presente.

Não há problema algum em não ser tão apegado ao material original, porém, além de ser incoerente com os próprios conceitos dos idealizadores que almejam a fidelidade, a impressão que fica é que poderiam ter escolhido algum personagem clássico do jogo e torná-lo o personagem principal da trama.

Para o suposto valor do orçamento, apesar de oscilar em alguns momentos, os efeitos visuais são competentes e ajudam o espectador a acreditar naquele universo fantasioso concebido — ficando também bastante evidente a ausência de mais ambientações por não ter tanto investimento monetário.

O primeiro Mortal Kombat, dirigido pelo britânico Paul W.S. Anderson, possui vários problemas. Entretanto, mesmo com eles, é bem mais carismático e divertido (muito por conta das atuações deliciosamente exageradas) e sintetiza muito bem as obras despretensiosas da década por “abraçar” o seu viés extraordinário.

Já essa nova tentativa é aquela típica adaptação de uma franquia famosa para o público mais jovem. Porém, ainda que tenha essa válida intenção de ser mais sóbria, no fim, se torna apenas mais um produto esquecível dessa predisposição hollywoodiana de remakes e continuações.

E a cena final (com a justa homenagem à música-tema) deixa óbvia essa mania de querer “engatilhar” uma continuação sem ter o cuidado necessário de fazer um bom filme introdutório para estabelecer um vínculo emocional e também de curiosidade/ansiedade ao espectador.

Postura essa que, infelizmente, resume bem a maioria das gigantescas produções de Hollywood.

Nota: ★★✰✰✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Mortal Kombat

Ano: 2021

Direção: Simon McQuoid

Roteiro: Greg Russo, Dave Callaham e Oren Uziel (baseado no videogame criado por Ed Boon e John Tobias)

Elenco: Lewis Tan, Jessica McNamee, Josh Lawson, Joe Taslim, Ludi Lin, Mehcad Brooks, Matilda Kimber, Laura Brent, Tadanobu Asano, Chin Han

Fotografia: Germain McMicking

Montagem: Scott Gray e Dan Lebental

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Jonatas Rueda

Capixaba, formado em Direito e cinéfilo desde pequeno. Ama literatura e apenas vê séries quando acha que vale muito a pena. Além do cinema, também é movido à música, sendo que em suas playlists nunca podem faltar The Beatles, Bob Dylan, Eric Clapton e Led Zeppelin.

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