Moulin Rouge: Amor em Vermelho | Especial
“The greatest thing you’ll ever learn is just to love and be loved in return…“
Há 20 anos, estreava nos cinemas um dos musicais mais importantes dos anos 2000 – se não o mais importante –, Moulin Rouge: Amor em Vermelho. Mais do que um jukebox musical (que apresenta canções de sucesso de um artista ou grupo popular), o filme é o retorno triunfal de um gênero cinematográfico dado como morto. É o século XXI se abrindo e dando as boas-vindas a um musical moderno, pop, extravagante e frenético, que pavimentou o caminho para que Chicago, dois anos depois, vencesse o Oscar de Melhor Filme após décadas sem que um filme musical levasse o prêmio principal da Academia.
Passando-se em Paris na virada do século XIX para o século XX, temos o lendário cabaré parisiense como palco para o desenrolar do amor proibido entre a cortesã Satine (Nicole Kidman) e o jovem poeta inglês Christian (Ewan McGregor) em meio ao ápice da boemia francesa.
No filme, após se conhecerem de maneira errônea, os dois se apaixonam e dão início a um romance secreto que vai trazer a ira e o ciúme d’O Duque (Richard Roxburgh), a quem Satine – a maior e mais bela estrela do local – havia sido prometida pelo dono do Moulin Rouge, Harold Zidler (Jim Broadbent), em troca de investimentos no cabaré e pela realização do sonho da cortesã de ser atriz.
Dirigido pelo australiano Baz Luhrmann e encerrando a sua Red Curtain Trilogy (Trilogia da Cortina Vermelha, em tradução livre), que conta com Vem Dançar Comigo, de 1992, e Romeu + Julieta, de 1996, como os outros dois filmes, Moulin Rouge: Amor em Vermelho é o clímax da filmografia do diretor, onde podemos ver claramente seus habituais delírios e inquietações visuais, só que multiplicados por dez.
Abusando, de forma positiva, no estilismo, Luhrmann nos apresenta uma viagem regada a absinto com direito à fadinha verde personificada na cantora também australiana Kylie Minogue. Uma vez que tomamos a malfadada bebida no início do filme, não tem mais volta. Mergulhamos na fantasia do diretor em defesa da verdade, beleza, liberdade e amor, o lema da boemia.
No entanto, essa viagem não seria nada sem sua frenética Edição, a cargo de Jill Bilcock, que por meio de cortes rápidos e uma montagem veloz abraça a visão do cineasta australiano e nos ajuda a entrar de cabeça na experiência proposta por ele. Para os desavisados, pode parecer difícil de acompanhar a princípio, mas com o passar do filme quem assiste não perceberá o momento em que já foi totalmente dominado e seduzido pelo que acontece no Moulin Rouge.
E falando nele, impossível deixar de destacar o espetacular trabalho de Direção de Arte. Com seus grandiosos e imponentes cenários, não apenas consegue emular a Paris boêmia do período, mas também hipnotiza o espectador com as suas cores e detalhes vibrantes auxiliada por uma Fotografia que aposta em cores chapadas como, obviamente, o vermelho, além do azul e do verde, para dar ainda mais textura visual ao show de Luhrmann.
Ainda que possua como base a velha história do romance proibido, Moulin Rouge: Amor em Vermelho consegue ter identidade própria. E mesmo pesando a mão no melodrama, somos levados a torcer e nos apaixonar pelo casal principal que precisa enfrentar não apenas o poderoso Duque – um vilão unidimensional, diga-se de passagem –, mas também seus próprios desejos, sonhos e o ciúme.
Como Satine, Nicole Kidman, que estava no melhor período da sua carreira marcado anteriormente por seu trabalho em De Olhos Bem Fechados, e em seguida em longas como Os Outros, As Horas – pelo qual ganhou o Oscar – e Dogville, mostra intensidade e vulnerabilidade na medida certa para o que a personagem exige, além de sensualidade e toques de comédia. Destaque para o quão doce e delicada é a sua voz ao cantar, podendo chegar, quando necessário, a um tom mais firme e potente, especialmente ao interpretar a música “The Show Must Go On“.
Ewan McGregor foi outra escolha acertada do filme, seu olhar ingênuo é perfeito para Christian. E ainda que não se destaque tanto quanto sua parceira, ele encanta e quando solta a voz fica impossível resistir ao ator. Cabe ressaltar, também, o excelente trabalho de Jim Broadbent, cujo personagem possui um grande carisma além de uma certa complexidade ao se dividir entre o seu amor pelo Moulin Rouge e seu carinho e consideração por Satine, servindo praticamente como uma figura paterna para ela.
Contudo, para além de seus aspectos visuais e elenco, a grande potência de Moulin Rouge: Amor em Vermelho está em suas músicas. É da trilha sonora escolhida por Baz Luhrmann para sua viagem que o longa tira a energia e onde reside a sua alma. Desde Beatles, Elton John, David Bowie, Dolly Parton, passando por The Police, U2, KISS, Nirvana, e também Madonna e Queen, entre muitos outros, o filme é musicalmente inebriante.
“Green Fairy Medley“, “Zidler’s Rap Medley” e “Sparkling Diamonds” dão o eletrizante pontapé inicial para conhecermos o Moulin Rouge e toda sua magia, o dramático e intenso “El Tango de Roxanne” é uma das melhores cenas do longa e um show de montagem, além do inesquecível “Elephant Love Medley“, capaz de derreter o mais gelado dos corações nos levando a torcer de imediato pelo amor dos protagonistas que acabamos de conhecer – sem contar as referências cinematográficas de toda a sequência. A canção tema do filme “Come What May” é outra que se destaca, especialmente no final, quando ganha tons épicos em consonância com o espetáculo encenado nos palcos do cabaré. Enfim, simplesmente irresistível.
Duas décadas depois, Moulin Rouge: Amor em Vermelho continua empolgando e encantando. Nos convidando, ou melhor, nos empurrando de cabeça para uma experiência que só a visão delirante e inquieta de Baz Luhrmann poderia oferecer. Musicalmente poderoso, o filme com o tempo passou a ser mais e mais valorizado pela sua importância ao ressuscitar o gênero musical, chegando no início do novo século com muita energia e música pop. Sem medo de abraçar fortemente o melodrama e adotar uma história requentada outras tantas vezes, o filme tem identidade e dificilmente deixa quem assiste indiferente à sua excentricidade e extravagância visual.
E se deixar, o espectador com toda certeza vai terminar o filme tendo aprendido pelo menos uma lição: a coisa mais importante que você aprenderá é simplesmente amar e ser amado de volta.
Nota: ★★★★★
- Confira também o nosso Listão do Clube com vinte curiosidades sobre Moulin Rouge: Amor em Vermelho. Basta clicar aqui.
Ficha Técnica
Título Original: Moulin Rouge!
Ano: 2001
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann & Craig Pearce
Elenco: Nicole Kidman, Ewan McGregor, John Leguizamo, Jim Broadbent, Richard Roxburgh
Fotografia: Donald M. McAlpine
Montagem: Jill Bilcock
Trilha Sonora: Craig Armstrong
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