Aqueles Que Me Desejam a Morte | Na HBO Max

Taylor Sheridan é um dos nomes mais interessantes que surgiram no cinema na última década. Vindo da TV, tendo atuado em séries como Sons of Anarchy e Veronica Mars, ao chegar nas telas grandes construiu um currículo invejável na função de roteirista, sendo o responsável por escrever filmes do naipe de Sicario: Terra de Ninguém, de Denis Villeneuve, e A Qualquer Custo, de David Mackenzie – inclusive sendo indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original por esses dois trabalhos.

Já seu primeiro filme na cadeira de direção foi com Terra Selvagem, um ótimo neo-western protagonizado por Jeremy Renner e Elizabeth Olsen, que se passa em meio ao inverno do estado de Wyoming, numa reserva indígena local. Por esse trabalho, Sheridan foi indicado ao Directors Guild of America Award for Outstanding Directing – First-Time Feature Film, que premia o melhor trabalho de direção em um longa de estreia.

Chegando na HBO Max, estreia o seu segundo longa, Aqueles Que Me Desejam a Morte. Baseado no livro homônimo escrito por Michael Koryta e protagonizado por Angelina Jolie, acompanhamos Connor (Finn Little), um garoto de 12 anos, que assiste o assassinato do pai cometido por dois desconhecidos (Aidan Gillen e Nicholas Hoult). Apesar de conseguir escapar por meio de uma floresta localizada no estado de Montana, o jovem sabe que os assassinos estão atrás dele e não vão desistir tão fácil.

Na fuga, ele cruza com Hannah Faber (Jolie), uma bombeira atormentada com a culpa de não ter conseguido salvar três jovens um ano antes em um incêndio de grandes proporções no local. Quando os criminosos resolvem incendiar a floresta para eliminar todos os vestígios da perseguição, Connor e Hannah se veem numa luta não apenas para fugir dos assassinos, mas também para escapar da violência das chamas.

É curioso perceber que, ao longo da carreira de Sheridan, há um denominador comum presente. Seus principais trabalhos se passam em lugares inóspitos, isolados, selvagens. Normalmente, acabam fazendo um paralelo com a violência que atravessa o arco de seus personagens assim como no desenvolvimento de suas histórias. Aqui não é diferente. Temos uma reserva florestal isolada que vai ser o pano de fundo e onde o fogo será o responsável pelo julgamento, redenção e purificação de todos em tela.

No entanto, diferente de seus projetos anteriores, o cineasta nunca esteve tão preguiçoso tanto no roteiro quanto na direção. Lacunas e mais lacunas são deixadas pelo caminho, especialmente tudo aquilo que envolve os assassinos. Quem são eles? Por que estão atrás do pai de Connor? Quem é o mandante do crime? E essas questões são reforçadas ainda mais após a participação de Tyler Perry, que não acrescenta absolutamente nada à trama ou justifique sua existência no longa. Além disso, a quantidade de decisões estúpidas que não condizem com o status de assassinos profissionais dos antagonistas é vergonhosa, o que reforça os problemas sérios do longa.

Talvez a intenção do diretor e roteirista tenha sido a de usar um “MacGuffin” (uma ferramenta narrativa, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa) para mostrar que a jornada dos personagens é o mais importante, independente do seu fim. No entanto, elas são tão rasas, preguiçosas e burocráticas, que o espectador assiste a tudo de forma indiferente e sem qualquer envolvimento.

E nem Angelina Jolie consegue elevar a qualidade de Aqueles Que Me Desejam a Morte. Considerada a protagonista do filme, sua personagem só ganha espaço de fato na trama com mais de 1/3 do longa já passado – o que não seria um problema se nos 2/3 restantes ela fosse desenvolvida direito, o que não acontece –, mostrando que o longa demora demais a começar ao perder um tempo precioso na introdução, para que no restante ele se atropele nos acontecimentos e não aprofunde praticamente nada. É admirável a falta de empenho e interesse de Sheridan com seu próprio filme.

Com a história desinteressante e personagens superficiais, resta apostar todas as fichas do grande acontecimento do filme: o incêndio. De fato, o tamanho e grandiosidade das chamas demonstra a urgência e perigo da situação, transformando o fogo como o grande antagonista da trama. Só que tudo afeta somente o microcosmo dos protagonistas. Para além deles, o perigo real e o impacto do incêndio naquela comunidade não é mostrado. Em um longa que nos seus minutos finais joga na cara do espectador uma homenagem ao heroísmo de bombeiros, profissionais da saúde e policiais no atendimento às vítimas e combate às chamas, o papel deles na história é nada mais do que uma nota de rodapé.

Até Aqueles Que Me Desejam a Morte, o nome de Taylor Sheridan era sinônimo de projetos com personalidade e, principalmente, bons personagens. Aqui, ele decide andar na contramão e ir oposto a tudo que o tornou alguém a se ficar atento. Resta a esperança de que tenha sido apenas um erro de percurso e o diretor e roteirista volte à forma o mais rápido possível.

Para assistir o filme na HBO Max, é só clicar aqui.

Nota: ★✰✰✰✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Those Who Wish Me Dead

Ano: 2021

Direção: Taylor Sheridan

Roteiro: Michael Koryta, Charles Leavitt, Taylor Sheridan

Elenco: Angelina Jolie, Finn Little, Nicholas Hoult, Aidan Gillen, Jake Weber, Medina Senghore, Jon Bernthal, Tyler Perry

Fotografia: Ben Richardson

Montagem: Chad Galster

Trilha Sonora: Brian Tyler

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Vinicius Dias

Carioca graduado em Relações Internacionais, não sabe muito bem quando começou a sua paixão pela Sétima Arte, mas lembra de ter visto Tarzan (1999) no cinema três vezes e de ter sua fita dupla de Titanic (1997) confiscada pela sua mãe por assistir ao filme mais vezes do que deveria. Não gosta de chocolate, café e Coca-Cola, mas é apaixonado por Madonna, Kylie Minogue e Stanley Kubrick.

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