Maligno | Na HBO Max

 

James Wan é um diretor bastante imaginativo e o seu cinema é a prova disso. Para além da sua criatividade, ele tem uma base grande de referências do cinema de horror, e em Maligno, seu novo filme, fica evidente a sua paixão pelo cinema japonês e italiano. Aqui, ele deixa isso muito claro ao mostrar que as homenagens não são gratuitas e estão ali para agregar à narrativa, brincando e explorando cada canto do gênero do horror e suas virtudes, indo desde o atmosférico até o slasher sem medo de arriscar. Essa ousadia de transitar entre subgêneros só mostra o quanto Wan sabe o que está fazendo.

Madison (Annabelle Wallis) começa a ter sonhos aterrorizantes de pessoas sendo brutalmente assassinadas e acaba descobrindo que, na verdade, são visões dos crimes enquanto eles acontecem. Aos poucos, ela percebe que esses assassinatos estão conectados a uma entidade do seu passado chamada Gabriel e, para impedir a criatura, Madison precisa investigar de onde ela surgiu e enfrentar seus traumas de infância.

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Logo no começo, me veio um sentimento de estranheza ao ver o filme se iniciar com um castelo à beira de um precipício. Esse lugar, na verdade, é uma espécie de hospital/laboratório em que os médicos/cientistas locais estão tendo dificuldade de controlar uma criatura que se comunica por objetos eletrônicos. Sim, é bem bizarro, mas Maligno funciona muito bem quando se trata de nos fazer comprar a sua história e acabei me deixando levar pelo longa. 

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Enquanto assistia, me lembrei o quão bem James Wan conta suas histórias. Creio que aqui seja o exemplo em que ele melhor desenvolve a narrativa desde Jogos Mortais, ao explorar caminhos que nos trazem questionamentos, além de levar nossa imaginação a tentar decifrar a importância de cada um dos personagens, trabalhando em cima do mistério e criando toda uma mitologia, até que só no final ele deixa claro seus objetivos e nos entrega uma surpreendente revelação. O que mais impacta nessa descoberta não é o grande plot twist que vai mudar todo o rumo da história, mas sim o fato de ser algo completamente impensável, no mínimo ousado.

É interessante como o diretor trabalha a mise-en-scène utilizando bem todo o espaço, deixando claro para o público onde tudo está perfeitamente colocado no cenário. Mesmo em ambientes mais caóticos, James Wan deixa o espectador ciente de todos os lugares dentro do enquadramento em que os personagens podem interagir.

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Além disso, ele se utiliza de pequenos planos sequência para fortalecer a atmosfera, principalmente dentro da casa da protagonista. Um bom exemplo está na cena em que Madison percorre a residência inteira e uma câmera a acompanha viajando pelo teto perseguindo a personagem, fazendo referência ao plot twist que só vai ser revelado lá no final do filme. Além dessa alusão, nessa altura de Maligno, o diretor aproveita e já apresenta para quem assiste cada ponto da casa, que acaba sendo também um personagem a parte.

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A presença de uma atmosfera meio gótica também engrandece todo o misticismo do antagonista, criando um clima digno dos clássicos filmes de horror italiano dos anos 1960. Claramente mais uma forte referência utilizada pelo diretor, que engrandece a narrativa. E ao mesmo tempo em que Wan corre o risco de transformar tudo em uma completa galhofa – que também poderia funcionar –, ele coloca o antagonista em uma sensacional cena de puro gore em uma cadeia. E quando pensamos que acabou, ele complementa essa matança com uma outra sequência digna dos melhores filmes de ação. 

Gosto também de toda a estética do personagem Gabriel que lembra muito os monstros do cinema de horror japonês. E o mais legal nisso é que faz com que ele ganhe uma aura ainda mais misteriosa, nos levando a questionar a todo momento que tipo de criatura é aquela ou até mesmo se ela é real. 

O mais sensacional de Maligno é ver que o diretor, além de ser um apaixonado por cinema, é fã do anime Naruto, visto que a relação entre Madison e o antagonista faz referência ao relacionamento do personagem Naruto e o demônio Kurama, abordando no filme a dependência de um com o outro ou como um dá poder quase sobrenatural ao outro. Isso fica claro em uma sequência que mostra o vilão preso numa cela, simbolizando a protagonista Madison estar isolando toda a influência que ele tem sobre ela. Quem assistiu o anime vai pegar de primeira a referência. 

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Por fim, James Wan ainda acha espaço para falar sobre relacionamentos abusivos e como traumas podem ser o gatilho para grandes tragédias. Inclusive, o quanto traumas e abusos são responsáveis por alimentar o que há de pior no ser humano. 

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Maligno traça pontos divertidos dentro do gênero horror e é muito mais do que suas referências trazidas diretamente do cinema japonês e italiano, crescendo no debate de ideias e na exploração do que é introspectivo. Após o término do filme, você se pega pensando nele mesmo dias após assisti-lo. 

Continua sendo muito bom ver o James Wan fazer cinema.

Para assistir o filme na HBO Max, clique aqui.

Nota: ★★★★✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Malignant

Ano: 2021

Direção: James Wan

Roteiro: Akela Cooper

Elenco: Annabelle Wallis, Maddie Hasson, George Young, Jacqueline McKenzie, Michole Briana White

Fotografia: Michael Burgess

Montagem: Kirk Morri

Trilha Sonora: Joseph Bishara

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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