Licorice Pizza | Nos Cinemas

 

Todo diretor em algum momento de sua carreira quer declarar a sua paixão pelo cinema, seja de uma forma mais aberta ou se utilizando de uma cidade que o mesmo tenha uma ligação grande (Quentin Tarantino fez isso recentemente com Era uma Vez em… Hollywood, Woody Allen diversas vezes com Nova Iorque…). É natural querer expressar esse sentimento, e me agrada muito esse tipo de projeto mais intimista que explora um lado mais apaixonado do artista. 

Com Licorice Pizza não foi diferente. Paul Thomas Anderson imerge o espectador na San Fernando Valley da década de 1970, abrindo um leque repleto de nostalgia e criatividade, transformando a cidade em um personagem essencial para a trama. É bonito ver como o diretor cria todo um contexto histórico para desenvolver assuntos, mesmo que complexos, de forma leve, abordando a juventude e suas dúvidas, os relacionamentos e seus tons de cinza, a liberdade de amar e se deixar ser amado.

Licorice Pizza

O novo filme de PTA é sobre conexão, sobre como conectar com aquele universo tão particular do cineasta os personagens munidos das suas próprias questões e paixões. É lindo como o clima criado com diversos elementos particulares torna tudo tão único e apaixonante. 

Licorice Pizza conta a história de Alana Kane (Alana Haim) e Gary Valentine (Cooper Hoffman), que se conhecem quando o jovem ainda está na escola e se apaixona perdidamente pela garota que é dez anos mais velha. Ambos criam uma conexão de amizade e amor que segue linhas confusas e intensas na San Fernando Valley de 1973.

Licorice Pizza

A simplicidade da sinopse não faz jus a como narrativamente este filme é cativante. Um dos elementos mais criativos e que amplia toda a imersão proposta por Anderson é a trilha do Jonny Greenwood (parceiro já conhecido do realizador). Ela está sempre alinhada com a história que o diretor que contar, nos entregando uma música com elementos bem íntimos, discretos, fazendo toda a diferença, principalmente, nos momentos em que estamos adentrando no relacionamento complexo de Alana e Gary. É redundante falar que o guitarrista do Radiohead é um dos melhores – se não o melhor – compositor da atualidade no cinema. 

A fotografia de Licorice Pizza, assinada pelo próprio Paul Thomas Anderson em parceria com Michael Bauman, é a principal responsável por tornar San Fernando Valley em uma cidade tão viva e representativa para a narrativa, criando contextos belos e reflexivos em relação aos personagens. Exemplo disso está no uso de planos abertos que mostram Gary e seus amigos simulando relações sexuais com garrafas de transportar combustível, enquanto Alana percebe que a diferença entre as suas experiências de vida podem estar atrasando seu futuro. 

Licorice Pizza

O filme é recheado de detalhes que fazem toda a diferença, como a presença de coadjuvantes de luxo no longa. Anderson não os coloca gratuitamente em sua história, se preocupando em justificar suas participações como elementos importantes para o desenvolvimento da relação de Alana e Gary.

A agressividade e insanidade do personagem de Bradley Cooper é hilária, ao mesmo tempo em que une os protagonistas, trazendo reflexões como a citada no parágrafo acima. Sean Penn também entrega um personagem que ao ser introduzido parece ser bem centrado, mas, aos poucos, quanto mais embriagado ele fica, mais se mostra um maluco que não parece se importar muito em fazer loucuras por pura diversão. Ao fim, é como se a história fosse revelada através de vários contos, onde cada um tem sua particularidade e importância para o crescimento dos personagens.

Licorice Pizza

Cabe ressaltar que a escolha de Paul Thomas Anderson de não ficar pontuando as datas em tela é uma solução excelente, pois notamos dentro da própria relação entre os dois protagonistas que o tempo passou e o quanto a vida sempre faz com que eles sigam ligados de alguma forma. É como se ambos estivessem sempre correndo. Seja em direções opostas ou iguais, eles estão sempre em uma linha tênue para se encontrar e se conectar. 

Licorice Pizza

Ao fim, é bonito ver em Licorice Pizza uma carta de amor a uma época, a uma cidade e à Sétima Arte. Principalmente quando o filme explora relações tão humanas, cheias de falhas e dúvidas, mostrando que é possível ser igualmente poderoso quando se investe no que é real e simples, ao invés de apenas nos grandes eventos complexos e longe da realidade, permitindo que o cinemas seja, simplesmente, cinema.

Nota: ★★★★★

 

Ficha Técnica

Título Original: Licorice Pizza

Ano: 2021

Direção: Paul Thomas Anderson

Roteiro: Paul Thomas Anderson

Elenco: Alana Haim, Cooper Hoffman, Sean Penn, Tom Waits, Bradley Cooper, Benny Safdie

Fotografia: Michael Bauman & Paul Thomas Anderson

Montagem: Andy Jurgensen

Trilha Sonora: Jonny Greenwood

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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