Red: Crescer é uma Fera | No Disney+

 

Atenção, esse texto pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco!

 

A transição da infância para a adolescência talvez seja um dos períodos mais turbulentos da vida de uma pessoa. É nesse momento que os hormônios começam a ficar a flor da pele, nossa sexualidade se aflora e passamos a sentir a necessidade de sermos mais independentes, nos descolando do seio familiar em direção a uma preferência pela companhia dos amigos. Para quem é mãe ou pai, certamente não deve ser fácil ter de lidar com tanta potência em erupção vindo dos filhos, ainda mais se forem super protetores.

E, para ambos os lados, há o denominador comum das expectativas, sejam as dos pais sobre os filhos, que desejam arduamente que sejam bem sucedidos ao ponto de os sufocarem, ou dos filhos que acabam se anulando para não decepcionarem seus pais. Só quem foi/é aquele filho “perfeito”, que sente que deve algo aos pais eternamente, sabe o quanto essa cobrança de não corresponder ao que é esperado pesa (e muito) nesse período de transição. E Red: Crescer é uma Fera é justamente sobre se libertar dessa pressão e entender que está tudo bem sermos também estranhos, bagunçados e imperfeitos.

Red: Crescer é uma Fera

No novo filme da Pixar, acompanhamos “Mei-Mei” Lee (com a voz de Rosalie Chiang), de 13 anos, que está experimentando a estranheza de ser uma adolescente com uma reviravolta – quando ela fica muito animada, muito ansiosa, ou muito triste, por exemplo, ela se transforma em um gigante panda vermelho.

Primeiro filme do estúdio dirigido exclusivamente por uma mulher, Domee Shi (responsável pelo curta-metragem de animação vencedor do Oscar Bao), e o segundo a ser protagonizado por um personagem asiático (o primeiro foi Up – Altas Aventuras, de 2009), é perceptível o quão pessoal e apaixonado é esse projeto para a diretora e co-roteirista.

Além de uma homenagem a sua cidade natal, Toronto, o filme abre espaço para abordar aspectos e valores da cultura chinesa que certamente andaram, e ainda andam, com a realizadora e também ser um retrato do momento em que ela era jovem, já que o filme se passa em 2002. Então, se prepare para momentos de nostalgia ao ver tamagotchis, boybands, celulares Nokia, CD’s, enfim, em tela. Um prato cheio para a geração dos 25-35 anos de hoje.

Red: Crescer é uma Fera

No entanto, para além disso tudo, temos aqui um longa que toca em um assunto muito pouco visto no cinema: a menstruação. Através da metáfora nada sutil do panda vermelho, esse tema que para muita gente é ainda tabu, é tratado de forma divertida, mas com todas as emoções que um momento chave como esse para a vida de uma menina tem. Sem contar no tratamento, ainda que discreto, dado ao início da puberdade de Mei-Mei, a partir do momento em que ela começa a olhar os garotos de forma diferente, com entusiasmo.

É importante destacar também a atenção que Red: Crescer é uma Fera dá para a mãe da protagonista. Para além de explorar o controle que ela exerce sobre a filha, o filme aprofunda os conflitos mal resolvidos que ela teve com a mãe. Quando jovem, Ming (com a voz de Sandra Oh) teve uma briga de grandes proporções com a mãe, que não aprovava o seu relacionamento com o pai de Mei-Mei. O resultado foi o rompimento da relação das duas e seu consequente distanciamento, sem que a situação fosse resolvida. Por conta disso, a mãe da protagonista tem suas questões e frustrações que a levam a sufocar a própria filha com suas expectativas. Esse é o catalisador que vai resultar na jornada de Mei de rompimento com essa super proteção e simplesmente se descobrir, permitindo sua existência para além da ideia de filha “perfeita”.

Seguindo o mesmo caminho do que foi abordado em Encanto (dadas as devidas circunstâncias e respectivas narrativas, claro), o trauma geracional aparenta ser um tema que veio para ficar nas histórias que essa nova leva de diretores e diretoras de animações querem contar. Cada geração tem um conflito para chamar de seu, e por conta disso acaba influenciando no conflita da geração seguinte. Afinal, somos também moldados pelos traumas de nossos pais.

Red: Crescer é uma Fera

Com um trabalho excepcional de voz, uma animação que mescla elementos Pixar e também de animes, Red: Crescer é uma Fera ainda que não seja dos trabalhos mais sutis do lendário estúdio, é pura diversão e compreende perfeitamente as angústias que a geração dos 25-35 anos de hoje passa ou passou.

Para assistir o filme no Disney+, clique aqui.

Nota: ★★★★✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Turning Red

Ano: 2022

Direção: Domee Shi

Roteiro: Julia Cho, Domee Shi

Elenco: Rosalie Chiang, Sandra Oh, Ava Morse, Hyein Park, Maitreyi Ramakrishnan, Orion Lee, Wai Ching Ho, Tristan Allerick Chen, James Hong

Fotografia: Mahyar Abousaeedi, Jonathan Pytko

Montagem: Nicholas C. Smith, Steve Bloom

Trilha Sonora: Ludwig Göransson

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Vinicius Dias

Carioca graduado em Relações Internacionais, não sabe muito bem quando começou a sua paixão pela Sétima Arte, mas lembra de ter visto Tarzan (1999) no cinema três vezes e de ter sua fita dupla de Titanic (1997) confiscada pela sua mãe por assistir ao filme mais vezes do que deveria. Não gosta de chocolate, café e Coca-Cola, mas é apaixonado por Madonna, Kylie Minogue e Stanley Kubrick.

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