Jurassic World: Domínio | Nos Cinemas
Atenção, esse texto pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco!
Quando, em 1993, Steven Spielberg nos apresentou ao seu Jurassic Park – Parque dos Dinossauros, o mundo ficou encantado ao ver efeitos visuais tão incríveis numa época em que eles ainda não eram tão comuns como se mostrou no futuro. Somado a isso, os dinossauros animatrônicos, a trilha sonora marcante de John Williams, seus personagens carismáticos e sua história com um arco simples, mas bem amarrado, o diretor nos entregou não apenas o maior filme do ano, mas também um marco para a história do cinema. O longa rendeu quase 1 bilhão de dólares nas bilheterias (tornando-se a maior de todos os tempos na época, um recorde mantido até o lançamento de Titanic em 1997) e elevou ainda mais o nome do já cultuado Spielberg.
Após diversas sequências que deram seguimento à franquia, sendo Jurassic World: Domínio o encerramento da trilogia iniciada em 2015 com Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, posso dizer que o único filme realmente bom ficou em 1993. Nem mesmo a continuação da trilogia original O Mundo Perdido – Jurassic Park, que foi dirigida pelo próprio Spielberg, chegou aos pés do primeiro.
A coexistência entre humanos e dinossauros
Em Jurassic World: Domínio, quatro anos após a destruição do Jurassic World na Ilha Nublar, os dinossauros coexistem com os humanos, dando continuidade ao assunto que já havia sido introduzido no longa anterior, que termina mostrando os primeiros contatos entre humanos e dinossauros e como seria a existência de ambas as espécies nos mesmos ambientes.
O filme começa nos mostrando um pouco sobre a exploração dos dinossauros, mas que fica apenas nesse início. Isso acontece pois, após o surgimento de uma nuvem gigantesca de gafanhotos pré-históricos que ameaça o futuro da humanidade na Terra, a coexistência deixa de ser uma pauta realmente relevante para a trama e o foco se distribui entre esse perigo e o sequestro de dois personagens, o que quase torna o projeto em um filme do James Bond. Chega a ser bizarro os idealizadores prepararem seu público para algo que parece ser um debate interessante, para logo em seguida largar de mão e focar em uma trama de espionagem e resgate.
Uma estrutura de roteiro mal definida
Colin Trevorrow e Emily Carmichael, que ficaram responsáveis pelo roteiro – sendo o primeiro responsável pela direção de Jurassic World: Domínio –, parecem não saber qual história realmente querem contar e como vão contar. Eles introduzem personagens com motivações não claras na história e mais uma vez reciclam a narrativa de um novo “maior carnívoro já existente”, algo recorrente na série. No entanto, dessa vez, esse predador tão terrível não tem a menor importância para a trama.
Além dele, também é citada a T-Rex do primeiro filme e, no momento em que falam dela, vemos uma reação bem enfática de um dos personagens, dando a entender que a mesma teria papel fundamental no longa, porém, isso não se torna realidade em nenhum momento.
E, diferente do seu antecessor Jurassic World: Reino Ameaçado, que também partilha de uma trama igualmente mirabolante, Domínio não consegue nem ao menos criar cenas de horror interessantes para fazer com que o espectador se importe minimamente com os personagens em tela, principalmente quando existem dinossauros por perto. Não há qualquer construção satisfatória de tensão ou a sensação de que alguém está realmente em perigo.
Um filme que tenta se sustentar na nostalgia
Com um texto tão bagunçado e ruim, o que sobra para o filme é tentar prender o público com a nostalgia ao recriar cenas quase idênticas ao filme original e trazer de volta alguns personagens icônicos da primeira trilogia, como a Dra. Ellie Sattler (Laura Dern), o Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum) e o Dr. Alan Grant (Sam Neill). Isso não seria um problema, afinal, gerar uma sensação nostálgica para o seu público é uma ferramenta totalmente válida, porém, o longa de Trevorrow acaba se apoiando completamente nisso e não tenta nem ao menos criar uma personalidade própria. No fim, vai ser lembrado como mais um filme da franquia em que as pessoas não se recordam do que aquela história entregou.
Colin Trevorrow nunca soube qual história contar
É tão evidente que o diretor nunca teve o controle do que queria realmente pôr em tela, que no final de Jurassic World: Domínio temos uma narração em off e cenas – bem bonitas por sinal – mostrando os dinossauros e animais contemporâneos coexistindo de maneira amigável. Inclusive, fazendo uma correlação entre as espécies mais parecidas. Isso só mostra que o filme nunca desenvolveu o raciocínio que criou no final do filme anterior, preferindo dar espaço a uma trama genérica e irrelevante. No fim, o que se perdeu aqui, e na trilogia iniciada em 2015 no geral, foi uma boa oportunidade de criar um mundo fantástico que poderia render vários debates futuros e ser lembrado como algo além de só mais um filme com dinossauros.
A franquia “Jurassic” precisa de um longo descanso. Ou talvez seja o caso de nunca mais voltar em respeito a Jurassic Park – Parque dos Dinossauros, que segue sendo o único exemplar realmente bom e relevante da franquia.
Mas quem manda é o dinheiro. Sempre o dinheiro.
Nota: ★★✰✰✰
Ficha Técnica
Título Original: Jurassic World: Dominion
Ano: 2022
Direção: Colin Trevorrow
Roteiro: Colin Trevorrow, Emily Carmichael
Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Laura Dern, Sam Neill, Jeff Goldblum, DeWanda Wise, Mamoudou Athie, Isabella Sermon, Campbell Scott
Fotografia: John Schwartzman
Montagem: Mark Sanger
Trilha Sonora: Michael Giacchino