Nos Cinemas | Mulher-Maravilha 1984

 

Desde a saída de Zack Snyder da linha de frente de comando do universo DC nos cinemas, vemos um universo mais vivo, com personalidades distintas de filme pra filme — o que, de certa forma, os tornam únicos e, consequentemente, mais marcantes. A prova de que essa liberdade criativa que se passa na mente de vários roteiristas e diretores transforma cada filme deste universo singular é o fato de Mulher-Maravilha 1984 ter um tom completamente diferente do seu antecessor.

Aqui, a abordagem em cima da personagem é mais melodramática, explorando um degrau acima a capacidade de atuação (mesmo que bastante limitada) de Gal Gadot e seu relacionamento com Steve Trevor (Chris Pine), que se relaciona com a superação de sua perda e o eterno luto que a mesma é obrigada a conviver.

Em contraponto, toda a estética é bem eficiente, já que a Fotografia aborda ao máximo todas as cores e breguices dos anos 1980. E o fato de ser propositalmente brega funciona, principalmente pelo vilão vivido por Pedro Pascal, que é claramente uma representação da figura de Donald Trump. Não somente o visual com seus cabelos loiros que fazem com que o personagem se destaque, o ator chileno também estabelece uma energia exagerada que o personagem pede e que consegue entreter pelo absurdo.

A trilha sonora composta por Hans Zimmer é menos exagerada e pontua bem as cenas de ação, indo na linha da leveza que a obra se propõe. Em sua grande maioria, as cenas de ação tem uma mescla de bom humor e grandes coreografias. Elas divertem e são bem filmadas, mas uma em especial me incomodou bastante pela postura corporal da protagonista. A cena em específico é quando a heroína persegue um comboio militar e, para evitar qualquer tipo de spoiler, irei deixar que vocês vejam com os próprios olhos a corrida medonha da atriz israelense.

Por mais que o filme da Warner dê um bom tempo em tela para os dois vilões, um deles é um pouco apressado e, quando chega ao seu clímax, a vemos por poucos instantes, perdendo um pouco do potencial dramático que poderia casar perfeitamente com a protagonista. Acho que nesse ponto a DC em seu universo compartilhado ainda precisa “afiar mais as cordas” para ficar 100% e aproveitar mais seus antagonistas.

A dinâmica entre Diana e Steve segue sendo bem sincronizada, fazendo com que o espectador acredite (mais uma vez) no romance entre os dois, mesmo achando completamente desnecessário porque o intuito dele retornar era para que a protagonista passasse por um desafio — este que nunca é realmente explorado. Portanto, por consequência, nunca chega a ser algo que gere a sensação de preocupação, já que a solução tinha sido colocada em cena bem antes.

Além disso, o roteiro em diversas ocasiões facilita as situações para a protagonista e isso tira todo o peso do que poderia ter sido mais desenvolvido tanto em dramaticidade quanto no desafio heroico de salvar o mundo.

Mulher-Maravilha 1984 entrega o que propõe, não sendo nenhuma obra-prima e seguindo uma fórmula mais do que conhecida. Porém, além de divertir o público por conta de momentos pontuais cheios de referências, também constrói bem todo o clima dentro e fora dos quadrinhos dos anos 1980, abrindo margem pra muita obra interessante que se arrisque em explorar outras décadas e fugir cada vez mais da realidade, pois do jeito que as coisas andam em 2020, quanto mais distante, melhor.

Nota: ★★★✰✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Wonder Woman 1984

Ano: 2020

Direção: Patty Jenkins

Roteiro: Patty Jenkins, Geoff Johns, Dave Callaham

Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal, Robin Wright, Connie Nielsen, Lilly Aspell

Fotografia: Matthew Jensen

Trilha Sonora: Hans Zimmer

Montagem: Richard Pearson

Figurino: Lindy Hemming

 

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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