Na Netflix | Relatos do Mundo

Baseado no livro homônimo escrito por Paulette Jiles e publicado em 2016, Relatos do Mundo é ambientado no sul dos Estados Unidos após o fim da Guerra de Secessão e acompanha o Capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks), um ex-combatente que serviu na guerra e se encontra atualmente viajando pelo oeste selvagem do país levando notícias do mundo para os habitantes das cidades que passa.

Em uma de suas jornadas, cruza o seu caminho Johanna (Helena Zengel), uma menina de dez anos de origem alemã que estava sendo encaminhada às autoridades para retornar a seus familiares. Sequestrada após a morte dos pais e irmã e criada por uma tribo indígena local, a jovem não conhece sua família e resiste o máximo possível a ser entregue aos seus tios desconhecidos. Sendo assim, Jefferson Kidd aceita a missão de levá-la e, consequentemente, atravessar mais de 600 quilômetros Texas adentro.

Relatos do Mundo

Temos aqui uma típica estrutura que acompanha personagens que saem do ponto A e precisam chegar até o ponto B, cuja jornada está repleta de perigos e desafios que precisam ser vencidos e/ou superados. É um arco pautado na aproximação entre dois personagens completamente diferentes lidando com suas próprias tragédias inseridos em um contexto hostil que os levará a encarar seus respectivos passados. A partir daí, um laço de empatia, amizade e confiança nascerá dessa relação, mas não sem muito conflito e desconfiança antes.

Dependendo quase que exclusivamente da interação e relação entre os personagens vividos por Hanks e Zengel para o filme acontecer, temos uma dupla com química e competência atuando conjuntamente em praticamente todas as quase duas horas de duração. O ator possui o carisma e vulnerabilidade que o papel exigia, ao mesmo tempo em que Zengel não se apequena perto do astro, apresentando uma Johanna corajosa em busca do seu lugar no mundo. A medida em que vão atravessando a paisagem árida texana, os dois vão aprendendo a se conectar um com o outro.

Relatos do Mundo

Aqui, o diretor Paul Greengrass abre mão de sua conhecida câmera frenética em prol de um trabalho mais controlado e, de certa forma, contemplativo. Por ser uma história pautada mais na humanidade dos personagens do que na ação em si, a direção mais contida de Greengrass se justifica aqui. Focar mais no desenvolvimento da relação entre Kidd e Johanna leva o cineasta a apostar num trabalho oposto ao que fez anteriormente em filmes como A Supremacia Bourne, O Ultimato Bourne e Capitão Phillips, por exemplo. Isso permite que o espectador seja o terceiro integrante dessa jornada física e emocional ao mesmo tempo em que torna o diretor irreconhecível.

No entanto, para além disso, Relatos do Mundo é um filme em defesa da importância de se contar histórias. Histórias essas não só para informar, colocando a população a par do que está acontecendo pelo país e pelo mundo, mas também para dar esperança, fazer rir ou apenas distrair, especialmente num contexto pós-guerra, onde a pobreza e a violência consomem o dia-a-dia daquelas pessoas. São elas que, por alguns minutos ou horas, atraem a atenção e encantam ou até causam indignação naqueles que as escutam, levando-os a esquecer um pouco a própria realidade.

Relatos do Mundo

Relatos do Mundo aposta no seguro com uma narrativa “quadrada” e desenvolvimento previsível. Entretanto, se torna interessante graças à química entre Tom Hanks e Helena Zengel, que carregam o filme nas costas. Tecnicamente competente, a direção de Paul Greengrass desaparece em meio a um trabalho mais contido que não lembra em nada projetos anteriores seus, ainda que condizente com a proposta do filme.

Para assistir o filme na Netflix, clique aqui.

Nota: ★★★✰✰

 

Ficha Técnica

Título Original: News of the World

Ano: 2020

Direção: Paul Greengrass

Roteiro: Paul Greengrass e Luke Davies (baseado no livro de Paulette Jiles)

Elenco: Tom Hanks, Helena Zengel, Tom Astor, Elizabeth Marvel, Ray McKinnon, Mare Winnigham

Fotografia: Dariusz Wolski

Montagem: William Goldenberg

Trilha Sonora: James Newton Howard

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Vinicius Dias

Carioca graduado em Relações Internacionais, não sabe muito bem quando começou a sua paixão pela Sétima Arte, mas lembra de ter visto Tarzan (1999) no cinema três vezes e de ter sua fita dupla de Titanic (1997) confiscada pela sua mãe por assistir ao filme mais vezes do que deveria. Não gosta de chocolate, café e Coca-Cola, mas é apaixonado por Madonna, Kylie Minogue e Stanley Kubrick.

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