Poltrona Pipoca | Deadpool 2

 

Com seus dois ótimos trabalhos em John Wick e Atômica, David Leitch vem com bastante força para este filme. O desafio não era moleza, já que o original fez um estrondoso sucesso. Toda a estética do diretor é bastante presente no primeiro e no segundo ato, entregando uma cinematografia mais “estilosa”, em ambientes noturnos e luzes fluorescentes.

A sábia decisão de mostrar a rotina agitada do personagem, logo de cara nos posiciona bem dentro da trama, e faz com que o público já entre no clima. Temos uma “enxurrada” de referências, em uma abertura à la 007, misturadas com trabalhos anteriores do próprio diretor. Isso tudo junto torna a narrativa dos 15 minutos iniciais do longa em um ritmo perfeito. Nossa primeira reação é de um inconsciente “UAU”.

Infelizmente, após toda uma introdução espetacular, a trama vai se tornando morna. Isso, para um personagem como o Deadpool, é fatal, levando por água abaixo a impressionante abertura e fazendo com que o filme tenha que, literalmente, se reiniciar. O fato do roteiro repetir a linguagem do primeiro filme não é um defeito em si, pois o personagem para de brincar apenas com o próprio universo e abraça toda a cultura pop. Com isso, muitas piadas realmente engraçadas nos trazem de volta ao filme, junto à trilha sonora, que é uma mistura de rap e música pop elevando o longa ao ponto de interesse desejado.

O longa vai intercalando momentos com o ritmo forte e calmos. O erro, porém, é não trabalhar isso de forma orgânica: as mudanças são bastante bruscas e, com isso, o espectador vai cansando e começando a sentir o filme. Na tentativa de humanizar ainda mais o anti-herói, temos uma decisão equivocada — tenho certeza que vocês irão identificar de imediato este ponto — que começa a levar o protagonista para um caminho que não lhe cabe.

Em contraponto, temos a cena de perseguição mais excitante do ano até o momento. É o tipo de coisa que você espera ver neste tipo de filme, com uma afiada mistura de comédia e adrenalina. Além de Cable (Josh Brolin) e Domino (Zazie Beetz), a obra ainda guarda algumas surpresas que me fez deixar um segundo “UAU” durante a projeção. O principal fator para esta cena funcionar tão bem é a forma como os personagens são apresentados e desenvolvidos, de modo certeiro, mesmo com pouco tempo em tela. Sempre que o filme decide ser direto, ele funciona muito bem; a falha se apresenta quando após momentos diretos e decisivos, temos cenas mornas, que comentei acima.

A violência extremamente gráfica funciona, assim como no primeiro filme e, principalmente, é utilizada como uma ferramenta para o humor. Isso tira o peso de um eventual incômodo do público e o transforma em algo positivo. A decisão de, dessa vez, não ter nenhuma cena de apelo sexual é certíssima já que durante o original as cenas de sexo entre Wade e Vanessa foram uma forma de desenvolver aquele relacionamento, o que tem um efeito decisivo nessa continuação.

A cinematografia, que esteve totalmente coerente nos dois primeiros atos, acaba se tornando um pouco “genérica”, meio como se o diretor tivesse tirado sua assinatura. Acabamos demorando a nos readaptar com o novo tom e isso pesa num ato final, já que, tecnicamente, os últimos 30 minutos deveriam servir apenas como um momento de conclusão.

É interessante observar que esse universo está introduzindo alguns personagens que acabam acrescentando bem, abrindo novas possibilidades para histórias vindouras. É evidente que o final do longa serve como gancho, mas deixa a obra bem fechada ao que se propõe. Sem pontas soltas, mas com um bom espaço para mais cordas se juntarem aos nós.

 Deadpool 2 é um filme divertido, que acerta em boa parte do seu humor, mas peca em forçar isso em absolutamente todos os momentos, tirando a naturalidade das cenas. Tem momentos de ação empolgantes, mas, ao mesmo tempo, se perde ao introduzir um drama morno e incoerente com o personagem. Dito isso, ele se aproxima bastante do primeiro, mas sem o fator surpresa que tivemos há dois anos.

 

PS: A cena pós-créditos é sensacional!

 

Nota: ★★★✰✰

 

Ficha Técnica

Direção: David Leitch

Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick, Ryan Reynolds

Elenco: Josh Brolin, Ryan Reynolds, Morena Baccarin, Zazie Beetz, Brianna Hildebrand, Bill Skarsgård, T.J. Miller, Terry Crews, Rob Delaney, Julian Dennison

Fotografia: Jonathan Sela

Trilha Sonora: Tyler Bates

Montagem: Craig Alpert, Elísabet, Ronaldsdóttir, Dirk Westervelt

Direção de Arte: Roger Fires, Dan Hermansen, Peter Ochotta, Gregory G. Venturi

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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