Homem-Aranha: Sem Volta para Casa | Nos Cinemas

 

É inegável que Jon Watts é um diretor limitado, nem falo pela sua técnica aplicada em forma de cinema em si, mas em relação a ideias e execução. É como se ele só estivesse ali para pôr em tela apenas o que os executivos da Disney querem, sem personalidade. Isso fica evidente ainda mais no filme anterior, Homem-Aranha: Longe de Casa, onde vemos uma enxurrada de cenas de ação que não tem um peso narrativo para que se justifiquem. 

Dito isto, podemos afirmar que o trabalho de Watts já se mostra mais claro em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, principalmente na tentativa de nos trazer sequências melhores trabalhadas. Exemplo disso está no plano sequência logo no início do longa que é bem executado e traz uma certa urgência, mas não passa disso. É uma tentativa isolada, já que desse momento para a frente o filme volta para a zona de conforto.

Dando continuidade aos acontecimento do filme anterior, Peter Parker (Tom Holland) precisa lidar com as consequências de ter tido sua identidade revelada pelo vilão Mysterio (Jake Gyllenhaal). Isso é um argumento que poderia trazer uma humanização maior ao herói, já que nos filmes anteriores ele sempre tem um apoio que chega a ser incômodo de Tony Stark (Robert Downey Jr.). A verdade é que de início isso não funciona muito bem. A relação entre Peter e MJ (Zendaya), que chegava a ser artificial, aqui é bem orgânica, sendo inegável a química entre os dois. Outro ponto é que Ned (Jacob Batalon) completa essa relação entre os três sem parecer forçado, consertando mais um ponto dos filmes antecessores. 

Homem Aranha: Sem Volta para Casa

Contudo, mesmo que a interação entre os três funcione bem, com conflitos interessantes em relação aos três não conseguirem passar na universidade ou não serem aceitos em lugar nenhum por serem amigos do herói, não é o suficiente para sustentar a primeira metade do longa. Nela, o que pesa são as piadas forçadas e sem graça. A única que me fez rir nesse início foi uma em relação ao filme Os Bons Companheiros — filme de Martin Scorsese, diretor que já fez declarações polêmicas sobre o MCU ser comparável a um parques de diversões. Curiosamente, eu fui a única pessoa a rir na minha sessão. 

É fato que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa melhora com a introdução do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) e isso me deixou com uma “pulga atrás da orelha” durante a projeção de que sempre o protagonista precisa de um outro personagem para que seu Homem-Aranha consiga sustentar o filme. Felizmente, durante seu desenrolar, o personagem cresce, ganha um arco interessante e se transforma.

Homem Aranha: Sem Volta para Casa

Os vilões, que são introduzidos de forma orgânica, têm suas motivações e seus medos explorados. Isso acaba engrandecendo também Peter Parker, que precisa saber lidar com as consequências de seus atos. 

Homem Aranha: Sem Volta para Casa

É redundante falar isso, mas o quanto Willem Dafoe se destaca aqui é impressionante. Rouba a cena para si, traz ainda mais elementos para complementar o seu icônico Duende Verde e nos aprofunda ainda mais na mente do vilão.

O terceiro ato é grandioso, mas falta peso nas cenas de ação (a que envolve, principalmente, o Duende Verde até funciona), não sentimos a veracidade das batalhas, é tudo muito artificial. O que não chega a estragar o melhor ponto da obra, mas incomoda. O filme é cheio de momentos que o engrandecem e, ao mesmo tempo, tem outros que o puxam para baixo. E durante as mais de duas horas de filme ele fica nesse pêndulo.

Homem Aranha: Sem Volta para Casa

Os fans services se sobressaem por serem bem utilizados. Nós vibramos, nos emocionamos e nos divertimos com eles, que acabam sendo uma parte essencial da narrativa. E graças a isso, somos testemunhas de momentos belíssimos que criam um vínculo emotivo com os espectadores fãs do herói. 

É seguro dizer que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa serve até mesmo como um soft reboot, já que praticamente tudo é zerado e Peter Parker acaba tendo que recomeçar, só que dessa vez de uma forma mais humana. E justamente essa humanidade (elemento que faltou nos dois filmes anteriores) resgatada é o seu maior trunfo, dando otimismo para o promissor futuro do personagem nos cinemas.

Nota: ★★★★✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Spider-Man: No Way Home

Ano: 2021

Direção: Jon Watts

Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers

Elenco: Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Marisa Tomei

Fotografia: Mauro Fiore

Montagem: Leigh Folsom Boyd, Jeffrey Ford

Trilha Sonora: Michael Giacchino

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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