Descubra um Clássico | Bonequinha de Luxo (1961)

 

A solidão é rara em Nova York. Mas, parece que no amanhecer do dia 2 de outubro de 1960, o diretor Blake Edwards obteve seu momento de glória. Na manhã silenciosa e púrpura, um taxi amarelo para em frente à loja da Tiffany & Co., na Quinta Avenida. A porta se abre. Uma moça sai e se mantem imóvel em frente à fachada imponente. Nesse momento, temos o primeiro vislumbre de Audrey Hepburn como Holly Golightly.

Bonequinha de Luxo é um hino ao amor a à solidão, ao sexo e ao estilo. É tocante o modo como Holly se encaixa no arquétipo frágil de Audrey. Por isso, difícil imaginar  outra atriz para o papel. Jane Fonda foi mencionada, Shirley Maclaine, uma possibilidade quase concretizada, mas estava comprometida com outro trabalho. Marylin Monroe foi a mais desejada por Truman Capote, autor do romance homônimo que inspirou o longa. Segundo Capote, Marylin tinha algo de “inacabado”, aliado à sensualidade, características que a recatada Hepburn não possuía.

Até aquele momento da carreira, Audrey não havia pertencido a nenhuma temática que envolvesse sexo. Sempre era vista em personagens apaixonadas, mas nunca tocadas pela sensualidade, por isso decidiu assumir a personagem com o intuito de fortalecer sua transição para papeis com uma nova visão acerca de moralidade (sexual).

Embora o termo “prostituta” não seja declarado de forma explícita, devido à censura da época, sabemos que Holly trabalha como garota de programa em encontros programados com magnatas e senhores com muita grana no banco. A garota é simples, mas deseja um mundo maior: dinheiro, viagens, joias caras e fama. O típico estereótipo da menina que migra do interior para a cidade grande, em busca de algo mais além do seu mundo.

Ao que demonstra a personagem, Holly não quer pertencer a ninguém, e não gosta de nada que pertença a alguma coisa. Nem mesmo seu gato tem um nome. O pobre coitado não pertence a ela — é livre, então, não precisa de um nome. Quando conhece o aspirante a escritor Paul (George Peppard), que se muda para o mesmo prédio, a moça passa a questionar a sua visão sobre relacionamentos, entendendo que amar também pode significar ser livre. Ambos estão fugindo de seus passados, ​​em busca de um novo começo e um lugar para chamar de lar.

Repleto de cenas marcantes, a fotografia de Franz Planer imprime cenas icônicas, como a sequência de abertura, quando Holly toma café da manhã em frente à vitrine da Tiffany & Co, enquanto seu reflexo aparece na vidraça, quase se fundindo com as joias em exposição e marcando o desejo da jovem de pertencer àquele mundo distante de sua realidade.

No rosto de Audrey, os diversos close-ups, por vezes escondendo parte do semblante  da personagem em pouca luz ou atrás de objetos, denotando sua confusão emocional. O figurino, destacado pelo black, elegância e sobriedade, ganha tons mais quentes e coloridos, com roupas mais confortáveis e simples, enquanto Holly começa a gostar de Paul e mostrar sua real personalidade.

A memorável cena da festa, no minúsculo apartamento de Holly, apesar da dificuldade de ser filmada, se tornou uma das mais divertidas do longa. O chapéu de uma senhora em chamas; um homem de ponta cabeça; uma mulher que conversa com seu próprio reflexo no espelho; um rapaz embriagado usa o corpo de Paul como cadeira, entre outras cenas, marcam a hilária sequência, filmada durante seis dias, segundo notas da Paramount.

O ponto alto, marcado em sua trilha sonora, acontece quando a versão mais autêntica de Holly, canta Moon River, sossegada na janela da sacada, dedilhando um velho violão. A antiga canção sulista que conta a vida de dois andarilhos sonhadores, vai de encontro com a narrativa da protagonista e sua busca por algum tipo de felicidade. Talvez, a sequência mais suave do filme, em seus 115 minutos de metragem.

Envolto em atmosfera aconchegante, Bonequinha de Luxo foi ousado para sua época, apesar de ser extremamente discreto ao falar sobre assuntos considerados tabus. Essa sutileza tornou o filme ainda mais charmoso. Embora existam atos falhos, como o caricato e desnecessário Sr. Yonioshi (Mickey Rooney), ou o happy ending entre Holly e Paul, nada tira o brilho dessa deliciosa comédia romântica que marcou uma época, através da performance inesquecível de Audrey Hepburn.

Nota: ★★★★✰

 

 

 

Ficha Técnica

 

Título original: Breakfast at Tiffany’s

Ano: 1961

Direção: Blake Edwards

Roteiro: George Axelrod e Truman Capote

Elenco: Audrey Hepburn, George Peppard, Mickey Rooney

Fotografia: Franz Planner

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Elaine Timm

Elaine é gaúcha, formada em Jornalismo, atua como social media e curte freelas. Blogueira de várzea, arrisca escritas diversas. Cinéfila, amante dos livros, musical e nerd desde criança, quer ser Jedi, mas ainda é Padawan. Save Ferris.

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