Elvis | Nos Cinemas

 

We’re caught in a trap, I can’t walk out…

 

Desde que Bohemian Rhapsody estreou nos cinemas em 2018 e fez quase um bilhão de dólares nas bilheterias, além de ter ganhado quatro Oscars – incluindo Melhor Ator para Rami Malek e Melhor Montagem (isso aqui foi imperdoável) –, as cinebiografias musicais voltaram com tudo. Sinal disso é que, já no ano seguinte, Elton John teve sua vida e carreira retratadas em Rocketman. Porém, ainda que inegavelmente superior, o filme ficou bem distante de obter o mesmo sucesso e reconhecimento que o longa sobre Freddie Mercury e companhia.

Agora, chegou a vez de Elvis Presley ter sua vida contada – novamente (em 1979, um filme protagonizado por Kurt Russel e dirigido por John Carpenter foi lançado, só que para a TV) – nas telonas, sob a direção de ninguém mais, ninguém menos que o australiano Baz Luhrmann (Moulin Rouge – Amor em Vermelho, O Grande Gatsby).

Em Elvis, a vida e carreira do Rei do Rock (Austin Butler) é contada desde seus primeiros dias, até se tornar uma estrela do rock’n’roll e do cinema, bem como seu relacionamento complexo com seu empresário, o coronel Tom Parker (Tom Hanks).

Elvis

Quando pensamos em Elvis Presley, a primeira coisa que vem a nossa cabeça é seu estilo extravagante e colorido, presente em suas roupas, penteados e acessórios. Além disso, sua presença e entrega nos palcos foram únicas, influenciando gerações de artistas que viriam em seguida.

Sendo assim, para comandar isso tudo fazendo jus ao cantor, era imprescindível chamarem para a direção alguém com uma visão poderosa e de personalidade. E a escolha de Luhrmann não poderia ter sido mais correta.

Conhecido pelo seu êxtase e efervescência visuais, o diretor consegue trazer para Elvis, através de sua conhecida câmera inquieta e uma montagem rápida e criativa, toda a potência do Rei do Rock, que atinge o espectador como um raio. E mesmo para quem está familiarizado com o estilo do australiano e talvez não se surpreenda com o que é feito aqui, só de haver esse esforço de Baz em trazer algo a mais (pelo menos no que diz respeito ao visual) a um subgênero já esgotado, é um diferencial.

Elvis

E se a direção de Luhrmann é um raio, a atuação de Austin Butler é um incêndio. Nas palavras do próprio diretor em entrevista à revista Entertainment Weekly, o que o ator de 30 anos faz aqui “não é uma personificação, mas viver Elvis, na medida em que o humaniza”.

Vemos em tela uma entrega total, um show a parte, em que Butler ao mesmo tempo que respeita Presley, ele não o copia, pelo contrário. Descobrimos e nos apaixonamos pelo cantor através do ator, graças não somente à caracterização, mas também ao trabalho vocal e físico. Ele consegue unir a sensualidade e vigor do artista, com uma certa inocência e ingenuidade, trazendo camadas e complexidade ao personagem.

Se Elvis permanece vivo na música até hoje, Austin Butler, com sua performance, o eternizou no cinema.

Elvis

Já Tom Hanks, que dá vida ao antagonista, faz um coronel Tom Parker excêntrico, com muita prótese de maquiagem no rosto e enchimento no corpo. O personagem, com mais tempo de tela que o próprio Elvis, é propositalmente cartunesco, com suas manipulações e armações para se manter no controle dos rumos da carreira de Presley, o “herói” da trama. Um trabalho bem distante em qualidade e profundidade se comparado ao seu companheiro de elenco. Porem, funcional e justificado dentro das escolhas narrativas do longa.

Curiosamente, é do ponto de vista do “vilão” interpretado por Hanks que Elvis é narrado, e não por alguém tradicionalmente neutro. Essa escolha faz com que o filme possa tomar algumas liberdades e tenha sua narrativa “contaminada” com a versão dada pelo algoz de Presley. Ou seja, ao mesmo tempo em que reforça a aura mística por trás da lenda, ela maximiza a influência de Parker para o sucesso do cantor e minimiza sua culpa na decadência do artista.

Pode parecer desonesto, a princípio, mas é bastante interessante observar Elvis Presley por um ângulo mais cínico. Indo além da neutralidade e de uma sucessão de acontecimentos comprometidos com a fidelidade aos “fatos”.

Elvis

Contudo, embora haja essa busca por uma abordagem diferente, o filme, ainda assim, é refém da estrutura de ascensão e queda quase onipresente nas cinebiografias musicais. Mesmo impactante em imagética, a sensação é de estarmos assistindo a um resumão dos principais acontecimentos que marcaram a carreira do Elvis, sem se aprofundar muito na maioria deles. Especialmente no que se refere ao uso de drogas por Presley e das suas relações extraconjugais.

No fim, o cinismo do narrador não é suficiente para substituir o tom chapa-branca do projeto. Faltou coragem de se debruçar com mais profundidade nas polêmicas do cantor.

Cabe ressaltar, no entanto, um cuidado importante e mais do que necessário presente na trama de Elvis: mostrar as raízes e influências musicais negras do cantor. Artistas como Sister Rosetta Tharpe, “Big Mama” Thornton, B.B. King e Little Richard, e toda a cultura de Beale Street são retratados como essenciais para a formação e inspiração musical de Presley. Ou seja, sem essa base tão importante, Elvis não seria Elvis.

Elvis

Com Elvis, Baz Luhrmann se esforça para apresentar ao espectador algo além do esperado para uma cinebiografia musical. Para isso, ele aposta em um visual pulsante e em uma trama sendo contada pelo ponto de vista do antagonista. E ainda que não seja suficiente, o filme tem a visão poderosa do diretor e a atuação de Austin Butler na manga. Isso o coloca um degrau acima da média de outros exemplares semelhantes.

Nota: ★★★✰✰

 

Ficha Técnica

Título Original: Elvis

Ano: 2022

Direção: Baz Luhrmann

Roteiro: Baz Luhrmann, Sam Bromell, Craig Pearce, Jeremy Doner

Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Helen Thomson, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr., David Wenham, Kodi Smit-McPhee, Luke Bracey

Fotografia: Mandy Walker

Montagem: Matt Villa, Jonathan Redmond

Trilha Sonora: Elliott Wheeler

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Vinicius Dias

Carioca graduado em Relações Internacionais, não sabe muito bem quando começou a sua paixão pela Sétima Arte, mas lembra de ter visto Tarzan (1999) no cinema três vezes e de ter sua fita dupla de Titanic (1997) confiscada pela sua mãe por assistir ao filme mais vezes do que deveria. Não gosta de chocolate, café e Coca-Cola, mas é apaixonado por Madonna, Kylie Minogue e Stanley Kubrick.

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