Listão do Clube | Filmes para celebrar o Mês do Orgulho LGBT

 

Como um dos maiores meios de comunicação em massa do mundo, o audiovisual acaba por ser peça essencial no combate contra o preconceito sobre diversos grupos marginalizados. A comunidade LGBT há cada ano ganha mais espaço em mídias até então pouco representativas, como o cinema, que nas últimas décadas nos presenteou com obras singulares acerca do tema. Neste mês do Orgulho LGBT então, reunimos algumas dessas obras para figurarem no nosso “Listão do Clube”.

11 filmes, alguns muito conhecidos e outros nem tanto, sugeridos por cada membro do Clube da Poltrona. Esperamos que goste!

Azul É a Cor Mais Quente (2013)

Vencedor da tão desejada Palma de Ouro em Cannes, Azul É a Cor Mais Quente tem como objetivo analisar a paixão incondicional através de uma perspectiva inicialmente romântica, mas que, de maneira gradual, adquire contornos dramáticos que levam ao desespero e carência emocional.

Tais características podem ser notadas na poética e metafórica cena em que a protagonista, após o rompimento, não consegue esquecer sua companheira: a água da praia (que a envolve completamente) adquire uma tonalidade azulada para remeter à cor do cabelo de sua amada. O final é tão devastador quanto a magnética atuação de Adèle Exarchopoulos.

Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)

Primeiro filme com temática gay a ganhar o prêmio máximo da Academia, a obra-prima de Barry Jenkins é sutil ao abordar múltiplos temas, incluindo relações familiares, violência e o preconceito velado.

E, assim como o filme mencionado anteriormente, Moonlight: Sob a Luz do Luar tem um poder metafórico gigantesco. Se a cor azul ganha diversas conotações para a obra, o mar (símbolo máximo de renascimento e, neste caso, também de liberdade) aparece em todos os três atos, representando a felicidade que o personagem principal tanto almeja — sendo sintomático seu primeiro beijo ser à beira da praia e, após tantos anos, presenciar o mar no horizonte como ferramenta visual para lembrar o espectador de sua essência.

Tão lindo, mas tão lindo, que dói justamente por compreendermos a jornada excruciante de Kevin para viver sem qualquer vestígio de medo.

Por Jonatas Rueda

Orgulho e Esperança (2014)

Ao perceber que os trabalhadores grevistas das minas de carvão estavam sofrendo tanto escárnio quanto os homossexuais perante o governo inglês, a polícia e a opinião pública, Mark (Ben Schnetzer) e seus amigos ativistas resolvem tentar juntar forças com os operários. Não seria fácil, já que os próprios mineiros eram extremamente conservadores. Ou seja, antes de se fazer ouvir pela sociedade em geral, Mark e os outros precisariam quebrar a barreira do preconceito que os separavam do grupo a quem eles queriam ajudar.

A beleza deste filme — e da circunstância que ele apresenta — está na improbabilidade. Quem imaginaria trabalhadores braçais do interior da Inglaterra unindo forças com ativistas gays e lésbicas moderninhos da capital? Mais que isso: quem diria que aquela união iria transpor a própria causa e tornar-se um exemplo de respeito e amor ao próximo?

Para continuar tendo fé na humanidade, um “detalhe”: é uma história real — ocorreu entre 1984 e 85.

Por Roseana Marinho

Bent (1997)

Bicha não foi feita para amar. Ninguém aceita isso.” Premiado dramaturgo, o norte-americano Martin Sherman escreveu Bent por volta de 1978. Vinte anos depois, seu texto foi adaptado por ele próprio, sob a direção de Sean Mathias. O longa traz basicamente todos os diálogos e atos principais, um retrato tocante e contundente sobre a Segunda Guerra e a perseguição contra os judeus. E um registro sobre os homossexuais que eram torturados e mortos pela Gestapo, em pleno fascínio e ascensão do período nazista.

Na fita, vemos a paixão que ocorre quando Max (Clive Owen) se apaixona por Horst (Lothaire Blutheau) em um campo de concentração. Enquanto o primeiro tenta ocultar sua homossexualidade, usando a estrela amarela na camisa, que identificava judeus; o outro ostenta com orgulho seu triângulo rosa, que “marcava” quem era gay. Com diálogos teatrais e forte carga dramática, temos um trabalho emocionante e que traça reflexão sobre um período sombrio da história.

De Repente, Califórnia (2007)

Um surfista se apaixona pelo irmão mais velho de seu melhor amigo. Como lidar com tal situação? Eleito pelo público como melhor filme no Festival Mix Brasil da Diversidade Sexual, em 2007, De Repente, Califórnia expõe uma problemática comum em várias tribos: a dificuldade em viver um amor de verdade. Neste caso, o romance se restringe ao senso homossexual. Jonah Markowitz dirige e roteiriza sua idealização de “amor impossível” entre dois homens como poucos filmes já mostraram

O título original tem muito mais sentido — Shelter significa abrigo. E é justamente essa situação exposta: Zach encontra em Shaun (os ótimos Trevor Wright e Brad Rowe) um conforto, um alicerce, um suporte. A representação de dois homens másculos, sem afetações, permite um diálogo mais realista. Pertinente, com nuances de drama, mas com um verniz mais leve, temos um trabalho que dialoga com a atualidade e sem reforçar estereótipos gays.

Por Cristiano Contreiras

Tomboy (2011)

A política de gênero é tratada de uma forma interessante, através do cotidiano de garotos pré-adolescentes, no longa de Celine Sciamma. Um conceito simples, marcado por performances naturalistas e tom documental. Após um voo lúdico, cheio de significado, Laure (Zoé Héran) aterrissa em sua nova morada e conhece novos amigos. Um simples “Qual o seu nome?”, se converte em “Quem é você?”, fazendo a jovem enxergar, na banalidade da pergunta, uma oportunidade existencial. Ela responde: “Mickaël”. A partir daí o filme segue os prazeres e ansiedades possibilitados por aquela resposta alternativa, já que Laura se torna Mickaël, durante a maior parte do verão.

Um belo estudo sobre o modo como a criança se enxerga na sociedade, no que tange a questão de gênero. Como essa criança irá crescer em uma cultura que quer classificá-la? Embora seja complexo o tema tratado, Tomboy é um filme extremamente simples e afetuoso, ao mostrar Laure/Mickaël em uma aventura que pode ser esquecida na idade adulta ou pode formar sua vida adulta. A reflexão é jogada para interpretações pessoais e diversas.

Por Elaine Timm

Corações de Pedra (2016)

A Islândia vem mostrando força no cinema e contrasta o clima gélido do país com o calor humano de algumas relações. Corações de Pedra é um retrato singelo de adolescentes que descobrem a sexualidade. Cristian, um dos personagens, é desses que sentem desejo sexual enorme, mas é aparentemente inalcançável pela realidade familiar e da cidade onde vive. O peixe-pedra que os garotos maltratam no início do filme simboliza os maus-tratos que muitos LGBTs sofrem ao evidenciarem a sua sexualidade perante a sociedade. A rejeição e preconceito codificados em uma mensagem sutil, mas poderosa.

Mistérios da Carne (2004)

Mistérios da Carne, antes de ser uma história que toma emprestado muitos elementos da ficção-científica, trata de temas como homossexualidade, preconceito, pedofilia e traumas de infância. O final perturbador mostra o quanto um evento danoso do passado pode influenciar toda uma vida. Joseph Gordon-Levitt em um dos seus primeiros papéis no cinema e, talvez, uma das suas performances mais emblemáticas.

Por Ibertson Medeiros

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014)

Longa de Daniel Ribeiro, conta a história de Leonardo (Guilherme Lobo), um adolescente cego que vê desabrochar em si um sentimento até então desconhecido: a paixão por um colega de classe, o novato Gabriel (Fabio Audi). É comovente a maneira gentil com que Ribeiro trata seus personagens e as relações entre cada um deles que, apaixonantes e poderosas, vão desde a amizade de Léo e Giovanna (Tess Amorim) até a do garoto com sua avó ou seu pai.

Um dos muitos méritos de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é transformar o dilema de Léo em algo muito mais intimista e real do que dramático e clichê. Não há um grande conflito acerca da sua cegueira ou orientação sexual, quase como se essas não fossem questões. E, de fato, não são. O filme trata desses temas com a sensibilidade que merecem, porém, é muito mais sobre autodescoberta e busca pela independência do que qualquer outra coisa. É tudo perfeitamente equilibrado para soar tão intimista quanto universal.

Com Amor, Simon (2018)

Temos vivenciado uma época onde minorias sociais começam, finalmente, a se ver representadas no cinema mainstream. Sucessos absolutos como o de Mulher-Maravilha e Pantera Negra comprovam que o mundo clama por diversidade nas histórias que estão sendo contadas. A aposta do estúdio Fox aqui trata-se de Com Amor, Simon, um filme sobre um jovem que, embora seja bem resolvido consigo mesmo, teme não ser aceito pelo mundo ao seu redor.

É dosando humor e drama que o longa de Greg Berlanti entretém e deixa todos ao final da sessão com vontade de ser jovem, viver uma aventura com os amigos e se apaixonar. Ele acerta ao retratar dilemas que qualquer um que precisou lidar com o peso inicial da sua homossexualidade na adolescência, viveu.

E ainda que converse com uma geração específica, Com Amor, Simon chega para tocar plateias das mais variadas, não só jovens e pessoas LGBT. Afinal, como o próprio Simon narra logo no início, ele é como eu e você.

Por Evandro Lira

O Segredo de Brokeback Mountain (2005)

A ousada ideia de fazer um filme sobre dois cowboys (símbolo do machismo americano) gays já era para se enaltecer. Ang Lee pegou todos aqueles estereótipos e os remodelou, mostrando o ponto mais fraco de pessoas que convivem em uma sociedade preconceituosa e rebatendo esse preconceito com pura arte.

O amor é transmitido através das atuações de Heath Leadger e Jake Gyllenhaal (aliás, atuações para serem aplaudidas de pé). Com pequenos gestos, troca de olhares e até pelo modo como posicionam seus corpos em cena, os atores nos passam todo o desejo que um sente pelo outro, mesmo que sejam obrigados a permanecer separados. A cena em que os dois têm sua primeira relação sexual é praticamente um grito de liberdade. Sem dúvidas, um dos filmes mais importantes deste século.

Por Ítalo Passos

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Evandro Lira

Evandro gosta tanto de filmes que escolheu a opção Cinema e Audiovisual no vestibular, e hoje cursa na UFPE. Em constante contato com a cultura pop, se divide entre as salas de cinema, as aulas sobre Eiseinsten, xingar muito no Twitter e a colaborar com o Clube da Poltrona.

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