Listão do Clube | 10 filmes franceses que você precisa ver

 

Se os franceses são bicampeões mundiais de futebol, no cinema eles colecionam ainda mais títulos! O mais importante deles talvez seja o de “berço do cinema”, afinal, foi numa discreta sessão em Paris que surgiu a arte da qual falamos todos os dias por aqui.

A sétima arte, como ficou conhecida posteriormente, nasceu ali e ganhou o mundo, e hoje o cinema francês é considerado um dos mais importantes e dinâmicos. Foi pensando nisso que o Clube da Poltrona resolveu selecionar dez grandes filmes da França que você não pode deixar de ver. Como de praxe, tem filme para todos os gostos, desde aqueles historicamente relevantes como longas de cineastas contemporâneos. Esperamos que goste!

 

A Trama (2017) 

Vencedor da Palma de Ouro por Entre Os Muros da EscolaLaurent Cantet volta a olhar para um grupo de jovens no seu último filme. Dessa vez, o cenário é uma oficina de escrita ministrada por Olivia (Marina Foïs), uma renomada romancista que passa a bater de frente com um dos participantes, um garoto seduzido por discursos da extrema-direita.  

Enquanto o filme flerta com a metalinguagem — assistimos a várias discussões sobre o processo de criação de uma história —, traz à tona questões delicadas tais quais as convergências ideológicas, cada dia mais presentes e possíveis de ser acessadas de todos os lados. O confronto de seus personagens coloca muita coisa sob perspectivas diferentes e ainda há espaço para traçar paralelos com o passado do distrito de La Ciotat, tornando A Trama um filme que envolve e promove reflexões, não só sobre a situação da França como do mundo contemporâneo. 

Por Evandro Lira 

O Salário do Medo (1953 

Esse ousado e magnífico filme de Henri-Georges Clouzot é um importante filme francês de suspense. Até Alfred Hitchcock disse que, se tinha um diretor que trabalhasse tão bem o thriller, naquela época era Clouzot. Retratando uma cidade pobre, com personagens sofridos e ansiosos para fugir daquele lugar, o filme é recheado de cenas emblemáticas e tensas, como a espetacular cena que se passa num poço de petróleo e as manobras arriscadas dos caminhões sobre as madeiras podres. Embora seja menos pessimista que o também magnífico remake comandado por William Friedkin (Comboio do Medo)O Salário do Medo é exemplo de um clássico atemporal francês que nos deixa tensos do início ao fim. 

Por Ibertson Medeiros 

Viagem à Lua (1902) 

Pode parecer redundante escrever sobre a importância desta obra para o cinema francês e o quanto influenciou a arte em si, mas o filme é tão rico que sempre tem mais um ponto a ser discutido ou analisado. A imaginação humana e a vontade de desbravar são os alicerces principais, é de onde tudo começa a ser construído.  

Outro ponto bem importante que é abordado é a dúvida: até que ponto a insanidade toma conta da lógica humana e nos faz ir além do que nos é determinado? Se tem algo que torna uma obra forte, é a possibilidade dela abrir um debate e Viagem à Lua cria linhas de discussões há mais de um século. 

Azul é A Cor Mais Quente (2013) 

A força desse filme para o cinema francês é sua representatividade, sem maquiar a vida de uma moça apenas com cenas felizes e coloridas. A ousada cena de sexo entre Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux demonstra bem o desejo, a sede entre duas pessoas, tudo muito cru.  

A obra ganhou uma notoriedade enorme e abriu ainda mais portas para que assuntos como homofobia fossem discutidos de vez na sociedade. Existem muitas obras ricas no cinema francês, grandes clássicos a serem citados, mas esta obra entra para essa lista por participar de um ponto muito importante nas discussões sociais humanas.  

Por Ítalo Passos 

O Amante Duplo (2017) 

François Ozon recria as referências de Alfred Hitchcock e David Cronenberg, através de um jogo de psicose e sexualidade. A verdade é que O Amante Duplo representa um cinema francês de qualidade, rebuscado, um thriller moderno com nuances psicológicas.  

Marine Vacth interpreta uma mulher com problemas sexuais e emocionais, atirando-se num intrincado esquema afetivo e orgástico com irmãos gêmeos que também são psiquiatras (um Jérémie Renier sedutor em cena). As interpretações e camadas diversas permitem ao público maiores possibilidades diante de um longa nada previsível. Ozon bebe da fonte de O Bebê de Rosemary de Roman Polanski ao condicionar sua protagonista em um estado de paranoia e desequilíbrio. Sexy e ardilosa obra do ano! 

Por Cristiano Contreiras 

Elle (2016)

Um thriller sombrio sobre violência sexual, que reflete sobre os encantos discretos da burguesia francesa. Certamente, se fosse filmado nos EUA, o diretor Paul Verhoeven poderia ser criticado pela violência explícita que o filme promove. Mas o cinema francês acaba por articular a narrativa de forma mais eloquente e crua do que poderia ter sido em território americano. No topo, o desempenho fascinante de Isabelle Huppert como uma personagem que é, ao mesmo tempo, vítima e manipuladora. O diretor observa seus personagens, mas não os julga. Em vez disso, nos deixa decidir acerca de seus comportamentos e motivações. Elle é um filme extremamente imprevisível, e é isso que o torna uma experiência selvagem e surpreendente.  

Os Incompreendidos (1959) 

O longa de François Truffaut é um dos mais significativos da fase Novelle Vague. O diretor nos traz um capítulo na vida de seu alter ego cinematográfico, Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud). Uma criança imaginativa que é sufocada pelos rigores do sistema educacional francês. Esteticamente inovador, foi o primeiro longa rodado na França a ser gravado no formato widescreen, além de ter popularizado o efeito de quadro congelado, através da marcante cena final. Uma obra prima do gênero coming of age, que evita o sentimentalismo e não convida a falsas emoções. Tal como acontece com todos os grandes clássicos (e bons vinhos), o passar do tempo só nos faz apreciá-lo mais. 

Por Elaine Timm 

Meu Rei (2015) 

Tony (Emmanuelle Bercot) sofre um acidente de ski e, enquanto tenta recuperar seus movimentos, embarca em um passeio pela memória, refletindo sobre a grande jornada que foi sua relação com Georgio (Vincent Cassel). A história de amor entre os dois se tornou uma relação abusiva, mas, ainda assim, havia uma dependência emocional da equação. 

A diretora indicada à Palma de Ouro, Maïwenn, convida o espectador em todas as situações junto com os personagens. O mais interessante é que, ainda que vejamos uma relação claramente abusiva se desenhar ali e tenhamos um olhar crítico sobre isso, mesmo assim é totalmente possível entender o encantamento que Tony tem pelo sedutor Georgio e o motivo pelo qual ele não a deixa seguir em frente. Cassel e Bercot dão uma profundidade e veracidade ímpar a seus personagens, tornando-o multidimensionais. Ela, inclusive, ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes (empatando com Rooney Mara, por Carol). 

Por Roseana Marinho 

Noite e Neblina (1956)  

Alain Resnais é conhecido por obras-primas como Hiroshima, Meu Amor e O Ano Passado em Marienbad, mas o mesmo também dirigiu um dos documentários mais importantes da história, registrando, após uma década, os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. A obra é voraz ao constantemente colocar imagens cruéis de uma época sombria. Porém, também é reflexiva quando aborda a fragilidade das memórias, se preocupando com o possível esquecimento da maior atrocidade que nossa espécie já cometeu — e essa sensação ganha mais intensidade com o contraste (em cores) dos locais após tanto tempo.  

O documentário é tão atemporal que o diretor francês não está preocupado em “apontar o dedo” para figuras específicas, mas sim propor uma discussão sobre cumplicidade coletiva, além do próprio receio de que isso é plenamente possível de repetir-se por causa da nossa própria natureza.  

Absolutamente necessário não só como registro histórico, mas também uma maneira de expor nosso gigante poder de autodestruição. 

Um Condenado À Morte Escapou (1956)  

Filme que rendeu a Robert Bresson seu primeiro prêmio de direção em Cannes se torna impressionante pelo brilhante uso da narração em off: no lugar de ser redundante (algo bem comum para o artifício), nos coloca praticamente junto com o protagonista num ambiente solitário e opressor, onde a comunicação verbal era um risco a ser tomado.  

E se o diretor não filma os alemães (a maioria das vezes apenas escutamos suas vozes e mesmo quando aparecem seus rostos não são revelados) numa espécie de repúdio pelos atos hediondos cometidos na guerra, o mesmo por meio da utilização de múltiplos fade outs, estabelece para o espectador uma realidade sem grandes acontecimentos, onde o único objetivo que atravessa toda a narrativa é a fuga. Uma obra narrativamente angustiante, mas que, por meio de seu final, dá uma mensagem importante sobre esperança e perseverança. 

Por Jonatas Rueda 

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Evandro Lira

Evandro gosta tanto de filmes que escolheu a opção Cinema e Audiovisual no vestibular, e hoje cursa na UFPE. Em constante contato com a cultura pop, se divide entre as salas de cinema, as aulas sobre Eiseinsten, xingar muito no Twitter e a colaborar com o Clube da Poltrona.

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