Cine Ceará | O Barco

Dia 01

O cearense Petrus Cariry vem se destacando como um dos diretores contemporâneos nacionais mais ousados da atualidade, e em O Barco não foi diferente. O diretor trabalha um tom quase onírico que ajuda na fantasia de cada história contada por seus personagens; isso é um grande acerto, já que propositalmente torna a obra aberta a diversas interpretações. Cariry não parece estar interessado em impor sua visão no filme e sim deixar que o público tire suas próprias conclusões.

A fotografia com luz natural intensifica o seu onirismo, com planos abertos que trazem reflexões ao público, mesclando sons diegéticos com uma música imponente. Em alguns momentos, temos a impressão que esse elemento musical poderia ser um pouco mais leve, para que fosse mais sentida a leveza das paisagens, das longas passagens enquanto a narração em off se pronuncia.

As metáforas têm um papel importante dentro da narrativa, dando ainda mais força à história. Um bom exemplo: logo no início, o cego está tratando o peixe e a câmera lentamente foca no animal aberto, sobe até os olhos do velho que fala sobre a garota que virá pelo mar, remetendo diretamente à mitologia nórdica e o conto da Völva, que poderia prever o futuro e em outras obras já fora representada por um peixe.

Em alguns momentos o filme se repete, tirando um pouco da força que poderia ter — como diálogos parecidos em pouco tempo de diferença entre eles —, mas não afeta a obra de forma que a estrague. Tudo nela parece mais próximo a um sonho, em alguns momentos me peguei tendo a mesma sensação de ler um livro ficcional, que vaga entre a realidade e a imaginação. Quando notamos que todas as noites os pescadores vão até a cabana da moça que veio do mar, para ouvir histórias e servir peixe ou seus corpos como oferenda para que ela se saciasse, é onde vemos a beleza da obra se completar.

O Barco traz um conto simples e bastante conhecido para ser explorado e debatido abertamente com seu público. Mesmo se repetindo em alguns momentos e tentando parecer mais complexo do que realmente é, a obra não perde força, já que o importante aqui é o peso de sua mensagem; mostrando que mesmo aqueles que são conhecidos por suas historias absurdas e vidas sofridas, não se distanciam da fantasia e nem de sonhar com o que os ajude a seguir em frente.

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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