Festival de Veneza | Sem estrelas, Roma agrada com seu tom humanista
O drama familiar mexicano do premiado diretor Alfonso Cuarón também foi um dos destaques do Festival de Veneza até aqui. Sem estrelas em seu elenco, a narrativa tem toques autobiográficos de seu realizador e encantou com sua linda fotografia em preto e branco. O filme é uma produção Netflix, mas os planos são de lançá-lo primeiro nos cinemas.
Owen Gleiberman, da Variety, afirma que o filme “é tão naturalista que é como um documentário dramatizado. Ao mesmo tempo, Cuarón transforma seu olho-câmera em algo inebriante e estetizado. Ele nos mergulha, momento a momento, imagem por imagem — luminosamente compostas — em um panorama da agitação da Cidade do México em 1970 e 1971 — a miséria brilhante das ruas, os fragmentos americanizados da cultura pop […]”.
Ele completa relatando que Cuarón “apresenta a vida na indisciplinada metrópole mexicana como uma experiência imersiva, extasiante. Roma é maravilhosamente bem feito, mas você pode se sentir gentilmente absorvido mais do que profundamente comovido por ele. Se o filme fosse mais chacoalhante e vulgar, não seria um objeto de arte, mas poderia ter sido mais radicalmente estimulante”.
Todd McCarthy, do The Hollywood Reporter, escreve que “o drama autobiográfico de longa data de Alfonso Cuarón recria de forma impressionante o bairro-título da Cidade do México por volta de 1970-71, mas se concentra menos nas crianças do que no comportamento às vezes confuso dos adultos à sua volta”. Ele completa, elogiando o trabalho do diretor: “um banho imersivo em algumas das imagens em preto-e-branco mais luxuosamente belas que você já viu, esse é o trabalho de um grande cineasta que exibe controle absoluto e confiança no que está fazendo”.
McCarthy atenta para o fato de que “o filme é construído em torno de situações, em vez de enredo” e que “em termos cinematográficos, Cuarón pode ter guardado o melhor para o final, uma sequência de tirar o fôlego da família em férias se aventurando no oceano, um plano lateral entre a praia e o rebentar do mar, com o sol se pondo ao fundo”.
No The Wrap, Alonso Duralde destacou o teor humano do longo, afirmando que “o filme fica basicamente em casa para nos contar a história de uma família burguesa na Cidade do México na década de 1970 pelo ponto de vista da sua governanta, Cleo (Yalitza Aparicio, atriz de primeira viagem). E o que quer que falte em termos de pirotecnia ou esplendor de efeitos visuais (falando superficialmente, pelo menos), mais do que compensará com emoção e humanidade”.
Duralde reforça sua percepção ao escrever que “há, com certeza, uma montagem impressionante e cenas poderosas, mas são os momentos quietos e cotidianos que dão impacto ao filme. Tendo aparentemente dominado os blockbusters de Hollywood, Cuarón parece estar voltado para um tipo mais íntimo de filme, seguindo a linha de grandes humanistas do cinema, como Yasujiro Ozu ou Lucrecia Martel”.
Robert Ebert, do site Roger Ebert, analisa a fotografia do filme dizendo que “a história não é contada de uma forma dramática mainstream. O estilo de Cuarón aqui tem desde cedo inspirações em Fellini e Tarkovsky, particularmente O Espelho (não procure por esta influência em mais que o plano de abertura do filme), o que também é comunicado pela propensão particular do diretor por planos longos. Mas não há nada aqui que imediatamente faça o espectador pensar “como eles fizeram isso” como em Filhos da Esperança”.