Fotogramas | Clube dos Cinco

No começo dos anos 1980, John Hughes nos apresentou um filme de forte identidade juvenil. O Clube dos Cinco, além de simbolizar a década, tratou de descontruir os estereótipos adolescentes como poucos filmes conseguiram.

Uma das maiores sequências do filme é quando os cinco adolescentes — que estão confinados em uma biblioteca, em um sábado inteirinho, por mal comportamento — dançam ao som da canção We Are Not Alone, de Karla DeVito.

Toca o som, DJ!

O take abre com Brian Johnson (Anthony Michael Hall), dentro de um escritório, do lado direito e ao fundo, colocando um disco para tocar. A música engasga rapidamente, como se a agulha estivesse enroscada no começo da canção.

Quando o primeiro acorde inicia, a montagem estabelece uma interessante dinâmica: há um rápido corte para Alison Reynolds (Ally Sheedy), que se encontra em outro ambiente, na parte inferior. A jovem, ao ouvir a canção, começa a rodopiar, enquanto a câmera a enquadra em um zoom out, que também exibe, ao fundo, John Bender (Judd Nelson), debruçado sobre uma árvore de plástico, dançando efusivamente.

Há um rápido corte para Brian, mostrando o garoto já se movimentando pela sala, enquanto atira discos de vinil em todas as direções. Um novo corte exibe Claire Standish (Molly Ringwald) em uma espécie de coreografia solitária, girando o corpo em 180º, no meio de uma escada redonda.

A cena continua e estabelece uma dinâmica de imagens que entrecortam os personagens, já que estão em ambientes diferentes.

Um novo e ágil corte segue para Andrew Clark (Emilio Estevez) que, sentado no guarda-corpo da biblioteca, simula um movimento com as mãos, como um “batuque” nos joelhos. Novamente, um corte exibe John sobre a árvore, a câmera o centraliza em plano-médio, enquanto ele maneia a cabeça insistentemente para frente.

“Things look clear in black and white, the living color tends to dye our sight…”

Voltando para Brian, a câmera se mantém estática no enquadramento, é quando o garoto sai dançando para o lado esquerdo do quadro. Anthony Michael Hall parece se divertir com seu personagem, fazendo movimentos frenéticos da cabeça enquanto se dirige para a outra extremidade do corredor.

O refrão da música entoa a frase:

“We are not alone, find out when your cover’s blown, there’ll be somebody there to break your fall, we are not alone, ‘cause when you cut down to the bone, we’re really not so different after all…”

Enquanto isso, o take freneticamente passa de um jovem ao outro, para captar a agilidade da dança que cresce e o libertar dos corpos dos adolescentes em coreografias particulares.

Em close up, vemos Alison de olhos fechados balançar a cabeça, como se alucinada pela canção, numa espécie de transe; Andrew, agora em pé, próximo ao guarda-corpo, imita com as mãos o movimento de um guitarrista; Brian gira em 180º e Claire maneja a cabeça, olhando para o chão.

Todos em espaços diferentes, distantes um dos outros, mas parecem próximos já que a edição favorece uma conexão diante da dinâmica dos cortes.

Interessante como vemos em poucos segundos, também, pequenos planos detalhes dos pés de cada um; mostrando os passos e o ritmo cadenciado que cada jovem cria em seu ambiente de dança.

Em pouco mais de 1 minuto de cena, agora a dinâmica ganha outro formato: há um corte que já exibe os jovens interligados, não mais em espaços individuais.

Primeiro, John dança com Alison em pé em cima do guarda-corpo, num enquadramento estático de câmera, enquanto os dois se agitam da esquerda à direita. Em outro corte, vemos o trio masculino: John, Brian e Andrew, numa espécie de “fila indiana” ou “trenzinho”, movimentando-se para frente e para trás. E a montagem finaliza em Claire e Alison que também fazem uma coreografia em sincronia.

Nos últimos segundos da sequência, temos uma intercalação de planos detalhes nos pés de John, enquanto a câmera o exibe em plano médio mostrando-o dançando de forma efusiva — em rápido corte, em contrapartida, a música vai sendo finalizada em Alison, que se agita em movimentos rápidos e braços que imitam alguém sendo “eletrocutada”. Em pé, ela ligeiramente se abaixa e se atira ao chão.

Todo esse take alia-se de uma direção que sabe conduzir os atores em espaços de danças, revelando as suas personalidades através dos movimentos. Ponto positivo para a edição que cria uma atmosfera pulsante e uma dinâmica elétrica para um dos momentos mais interessantes do filme.

Assista a cena completa:

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Cristiano Contreiras

Publicitário baiano. Resmungão e sentimental em excesso. Cresceu entre discos de Legião Urbana e Rita Lee. Define-se como notívago e tem a sinceridade como parte de seu caráter. Tem como religião o cinema de Ingmar Bergman. Acredita que a literatura de Clarice Lispector seja a própria bíblia enquanto tenta escrever versos soltos sobre os filmes que rumina.

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