Love, Club | Nasce Uma Estrela
Sonhos se tornam realidade, carreiras sobem e descem, o músico alcoólatra que conhece a compositora anônima e se apaixona. Nasce Uma Estrela possui um tema muito familiar, devido às tantas adaptações entre os tempos; mas, mesmo com toda essa familiaridade, Bradley Cooper e Lady Gaga conseguem entregar algo novo e vibrante para contar uma velha história para novas gerações.
O desafio de Cooper foi grande. Além de dirigir e atuar, ele co-escreveu o roteiro, respeitando as versões anteriores. Sem perder a sensibilidade genuína da história, adaptou o ambiente para o cenário atual, sociedade e relacionamento. A química entre os protagonistas é quase palpável de tão intensa, e tudo está nos olhos do casal: emoções pungentes que são ativadas pelos diálogos falados, silêncios e letras das canções que acompanham a jornada de seus personagens.
Tell me something, boy. Aren’t you tired trying to fill that void?
Há muitas sutilezas que entregam a sensibilidade do diretor e é igualmente especial observar Lady Gaga acompanhando essa sintonia. Quando Ally compõe uma canção, apenas observando os gestos e as falas daquele homem solitário, fica evidente que a música seria o elo que os manteria conectados, dali em diante. E é justamente a trilha sonora um dos pontos altos do filme, pois funciona como uma extensão da jornada do casal, intensa e terna. Gaga assina boa parte das canções e Cooper é uma revelação como cantor e músico.
O ótimo diretor de fotografia, Matthew Libatique, criou uma paleta visual muito semelhante a O Lutador de Darren Aronofsky. É evidente aquela sensação de túnel, muito comum ao estilo de vida das celebridades. E esse mesmo tom fotográfico (e também temos a mão sensível de Cooper) que trata a personagem de Gaga, primeiro como uma pessoa, para só depois trata-la como ícone; o que permite que ela se abra, tanto nas canções, quanto nos momentos mais íntimos e dramáticos do filme, que são constantemente crus e surpreendentes. A atriz tem uma capacidade surpreendente de entregar o impacto emocional através da música, conjurando uma gama de emoções enquanto canta e atua.
You’re music to my eyes
Em termos de comparação, essa adaptação é a que está mais próxima do filme de 1976, com Barbra Streisand, que se assemelha à Ally em alguns aspectos emocionais. A diferença é que nessa versão o roteiro explora a relação entre os protagonistas com mais profundidade do que qualquer uma das anteriores. É bem visível que Cooper bebeu de muitas fontes para criar a identidade do longa, inclusive, seu personagem remete muito ao de Jeff Bridges em Coração Louco. É quase certo que seu desempenho e dedicação para aprofundar o viés musical, vão lhe render boas indicações nas próximas premiações.
Em sua estreia como diretor, Bradley Cooper entrega uma obra repleta de paixão, em todos sentidos, fato que cria várias conexões para além da tela. Enquanto ele estrela como diretor, Lady Gaga se revela atriz; basicamente uma história sobre ascensão que ultrapassa a ficção. Como estreante no comando do longa, a experiência tem pequenas falhas no que toca montagem e ritmo. Em algum momento do segundo ato, a história esfria um pouco e perde cadência, tornando-a menos imersiva do que na primeira hora; e retorna com mais força no ato final. Não é um filme perfeito, mas possui uma paixão que compensa as falhas da narrativa.
I’ll always remember us this way
A história de Nasce Uma Estrela é atemporal. Para uma estrela nascer, a outra deve se apagar. Um velho melodrama hollywoodiano que mantêm sua fórmula através dos anos; que desenha sua própria história de ascensão e declínio dos astros e que sempre destaca a importância de permanecer humano em meio à descartável indústria das celebridades, que, muitas vezes, dá espaço para aqueles que não oferecem nada de significativo. Há uma fala sobre o que significa ser um artista, que Jack usa para explicar por que Ally é tão especial: “todo mundo é artista, todo mundo é talentoso em alguma coisa. Mas nem todo mundo tem algo a dizer.”
Nota: ★★★★☆
Ficha Técnica:
Nasce Uma Estrela (A Star is Born)
Ano: 2018
Direção: Bradley Cooper
Roteiro: Eric Roth, Bradley Cooper, Will Fetters
Elenco: Bradley Cooper, Lady Gaga, Sam Elliott
Fotografia: Matthew Libatique