Sci-Fi | Alien, o Oitavo Passageiro

 

Até o presente momento, Ridley Scott é conhecido por sua irregularidade ao dirigir bons filmes como Perdido em Marte e O Gângster, mas ser responsável por obras fracas e esquecíveis como O Conselheiro do Crime e Êxodo: Deuses e Reis. Contudo, no final da década de 1970, ganhou um prêmio em Cannes por O Dualista em sua estreia nas telonas, sendo que seu próximo trabalho viria a ser considerado por muitos a obra-prima do gênero e de sua carreira, como também uma aula de cinema com Alien, o Oitavo Passageiro.

Já nos créditos iniciais, notamos a proposta intimista dessa ficção científica ao evidenciar o espaço sideral como metáfora para o isolamento através de imagens da silhueta de um planeta. Em seguida, após a introdução assombrosa, a câmera parece investigar todos os cantos da nave para que o espectador tenha a noção da lógica geográfica dos acontecimentos que ocorrerão no futuro.

Assim, a mise-en-scène estabelece uma cuidadosa preocupação com a posição daquela equipe situada num ambiente fechado e que, por diversas vezes, se torna claustrofóbico. A criação da tensão beira o impecável, onde o roteiro gradativamente constrói a expectativa em relação ao xenomorfo — que aparece diante das câmeras com quase 1 hora de duração e na forma adulta somente no sufocante terceiro ato.

Além disso, o roteiro também é sábio em não tentar explicar absolutamente todos os detalhes de onde veio o alienígena, priorizando o puro horror em que os personagens estão envolvidos. E mesmo quando explica a finalidade da empreitada, é realizada de maneira orgânica devido ao desespero que vai tomando conta por causa das mortes.

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O filme adquire excelência em seu patamar visual desde o design de produção (indicado ao Oscar) clean futurístico, típico do gênero, até os mínimos cuidados em relação aos ovos, do parasita e a forma gosmenta da criatura. Como se não bastasse, a fotografia de Derek Vanlit enquadra as faces dos indivíduos de um modo que parece aprisioná-los em virtude da situação em que estão inseridos.

E, no próprio aspecto imagético, temos uma das respostas da trama: enquanto todos, em muitos momentos, utilizam roupas claras e amenas, Ash (interpretado por um Ian Holm que flerta genialmente com o robótico) veste uma camisa e calça azulada, porém, ainda assim, elas não são intensas o bastante para se destacarem por justamente ter o propósito de poder se adaptar ao ambiente que não pertence.

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Igualmente interessante notar que alguns arcos dramáticos são realizados de forma elegante e sutil, como por exemplo, o fato do personagem de John Hurt ser o primeiro a acordar da longa hibernação, mas também ser o primeiro a morrer.

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A trilha sonora de Jerry Goldsmith contribui muito ao conseguir evocar o medo e a sensação inquietante de que algo errado está prestar a acontecer, sem ser exagerado ou óbvio demais. Entretanto, o diretor britânico compreende que não é necessário pontuar todas as cenas com ela, já que que o silêncio (algo que poucos sabem lidar com competência) é assustador o suficiente.

Apesar de todos esses elementos tornarem o filme em algo grandioso, o que se tornou, ao longo dos anos, memorável foi a tenente Ripley. É bem verdade que a primeira heroína numa ficção científica foi Jane Fonda em Barbarella em 1968, mas quem levou o protagonismo feminino para um nível menos sexual e mais badass foi essa icônica e querida personagem vivida por Sigourney Weaver que não tem receio em explodir a própria nave, além de manejar e usar com destreza um lança-chamas.

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O fato de Ripley (que se torna devidamente protagonista apenas na reta final) estar trajando roupas íntimas no clímax não quer dizer que tenha a intenção de a sexualizar; pelo contrário, o objetivo é demonstrar o quanto ela é vulnerável diante de uma implacável ameaça e, mesmo não sendo uma super-heroína, conseguir superar esse dificílimo obstáculo.

Alien, o Oitavo Passageiro, após quase 40 anos, não envelheceu um ano sequer (inclusive, o setor de efeitos visuais que consagrou-se vencedor no Oscar) e, apesar das limitações tecnológicas da época, possui o controle absoluto de tudo que envolve a produção — tendo, também, a ciência de que mostrar o menos possível ajuda a plateia a imaginar e criar subjetivamente coisas relacionadas aos seus mais íntimos receios.

De fato: no espaço ninguém escutará você gritar. Existe algo mais apavorante que isso?

Nota: ★★★★★

 

 

 

 

Ficha técnica

alienNome Original: Alien

Ano: 1979

Direção: Ridley Scott

Roteiro: Dan O’Bannon e Ronald Shusett

Elenco: Sigourney Weaver, Tom Skerritt, John Hurt, Ian Holm, Harry Dean Stanton, Veronica Cartwright, Yaphet Kotto

Montagem: Terry Rawlings e Peter Weatherley

Fotografia: Derek Vanlit

Design de Produção: Michael Seymour

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Jonatas Rueda

Capixaba, formado em Direito e cinéfilo desde pequeno. Ama literatura e apenas vê séries quando acha que vale muito a pena. Além do cinema, também é movido à música, sendo que em suas playlists nunca podem faltar The Beatles, Bob Dylan, Eric Clapton e Led Zeppelin.

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