Misturando sci-fi e comédia, em 2002, os Estúdios Disney surpreenderam o público com Lilo & Stitch, um drama familiar no qual uma solitária garotinha havaiana se torna amiga de um perigoso alienígena. O filme, feito com baixo orçamento, foi visto como um tapa buracos que não atrapalharia o orçamento do estúdio caso fracassasse. Dezesseis anos depois é lembrado com carinho por quem acompanhou a história de amizade da dupla.

No planeta Terra, especificamente no Havaí, reside Lilo. Ela é criada pela irmã mais velha, Nani, com quem tem um relacionamento conturbado. Do outro lado da galáxia, o cientista Jumba Jookiba criou uma série de experimentos, com o intuito de aperfeiçoar máquinas de combate. Uma delas é o Experimento 626, um serzinho azul, de seis patas, antenas e um espírito de destruição.

Como se trata de um ser sem limites o Experimento 626 se rebela e foge de seu criador. Em meio à fuga é atacado e cai na grande ilha do Pacífico. O que o prejudica é o fato de seu ponto fraco ser a água. Acidentado, preso naquele lugar e completamente irritado, o destino providencia seu encontro com Lilo.

A garotinha se sente muito só. Não tem amigas, se sente deslocada no mundo e sua relação com a irmã é conflituosa. Nani, por ter que assumir a responsabilidade pela criança, após a morte de seus pais, parece ter passado por um processo de amadurecimento muito rápido. Lilo, como toda criança, ainda não sabe como se expressar sobre a dor dessa ausência. Aos “trancos e barrancos” as duas sobrevivem, sendo ligadas pelo “elemento” ohana que, com toda certeza, é a melhor definição de família de todo o Universo Disney. Mas daqui a pouco eu falo mais de ohana.

Assim, o monstrinho destruidor é adotado pela família e se forma a dupla mais “perigosamente-divertida” do Universo, Lilo & Stitch. A garota se identifica com o ser extraterrestre, pois o enxerga como algo fora do padrão. Assim como ela, ele não parece se adaptar bem às normas da sociedade. Essa parceria, além de render uma das mais belas amizades dos desenhos animados é, também, marcada por diálogos hilários e situações inusitadas.

Stitch, que inicia o filme como vilão, se redime à medida que os conceitos de amizade e família são apresentados e entendidos por ele. Ohana é como os pais de Lilo e Nani nomearam a união entre os familiares: “Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer“. Essa frase diz muito sobre as relações criadas no filme entre os protagonistas e todos em seu entorno. O que torna a menina e o alienígena semelhantes é o fato de ambos buscarem uma parte que falta neles. Mas é, principalmente, sobre cuidados mútuos.

A animação tem toda sua trilha sonora composta por músicas do rei do rock, Elvis Presley, ídolo de Lilo. As performances da dupla ao som da canção (You’re The) Devil In Disguise — momento em que a menina ensina ao bichinho de estimação como se comportar bem —, é referência ao show de Elvis, em 1973, transmitido ao vivo pela TV estadunidense.

Lilo & Stitch é uma animação com uma narrativa simples que foca em relações de amizade, respeito e empatia. Ao fim do filme, para justificar sua preocupação com a garota, em meio a um sequestro intergaláctico, Stitch diz “Essa é a minha família. Eu achei. Sozinho. Eu achei. É pequena e incompleta. Mas é boa. É, é boa.” Essa afirmação mostra sua mudança — de um ser com o propósito de destruir, para alguém dotado de sentimentos — e o quanto o conceito de família está relacionado a dinâmica entre os componentes desse grupo e o acolhimento dado do que, apenas, ao laço consanguíneo.

Nota: ★★★★✰

Ficha técnica

Nome Original: Lilo & Stitch

Ano: 2002

Direção: Dean DeBlois, Chris Sanders

Roteiro: Chris Sanders, Dean DeBlois

Elenco: Daveigh Chase, Chris Sanders, Tia Carrere, Ving Rhames, Zoe Caldwell, Kevin McDonald, David Ogden Stiers, Jason Scott Lee, Kevin Michael Richardson

Montagem: Darren T. Holmes

Trilha Sonora: Alan Silvestri

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