Em sua estreia em um longa-metragem, Olivier Ayache-Vidal nos traz educação e respeito, em uma trama simples, mas que tem muito a falar. Acompanhando François Foucault (Denis Podalydès), um professor de quarenta anos, que ensina literatura na mais renomada escola de Paris é forçado a aceitar uma transferência de um ano para um colégio suburbano. É interessante observar o quanto o roteiro é preocupado em fazer o público entender logo de cara o quão rígido é Foucault, em sua primeira cena o professor já sai em sala distribuindo notas baixas para seus alunos. E isso vai sendo trabalhado não só dentro da escola, em sua vida pessoal também. Ter que tomar conta do cachorro de sua irmã enquanto ela viaja quebra a rotina de nosso protagonista e vemos um tremendo desconforto de sua parte. O primeiro ato é basicamente um desenvolvimento de personalidade.

A forma como a narrativa vai trabalhando em mostrar os novos ares em que Foucault tem que trabalhar é bem interessante, primeiro o fazendo estacionar atrás de um carro totalmente queimado, mostrando que aquele ambiente é hostil, seu recém colega professor de matemática dando dicas de ter o pulso firme, para que a turma o respeite, até o ponto onde ele realmente se encontra com seus alunos e as primeiras trocas de palavras são gritos de “silencio”. Isso tudo dá realmente a entender que será um grande desafio, mas ao decorrer do longa isso não se torna algo tão complexo assim, chega a ser um pouco frustrante preparar o público para algo que realmente vá ser complicado e acaba sendo resolvido em pouco tempo. Nisso acompanhamos o professor perceber que ensinar com mãos de ferro naquele ambiente não irá funcionar, assim acompanhamos a sua evolução para ser mais próximo aos alunos, decorando os seus nomes, sendo menos exigente nas notas e os fazendo ler mais. A sensação de que foi tudo fácil demais é inevitável.

Toda ambientação escolar é muito bem-feita, nos faz sentir realmente que estamos em uma escola, trazendo nostalgia para aqueles que não vão há muito tempo em um local como este. A música leve misturada com o som de crianças conversando, até o arrastar de cadeiras é essencial para o funcionamento a história, assim tudo ganha vida e o que poderia ser um filme arrastado, faz com que fique totalmente dinâmico. Olivier claramente consegue passar uma mensagem forte sobre respeito, a intenção clara de que as pessoas procurem todos os dias respeitar os outros e a si mesmas, isso sendo recompensa de uma boa educação. Em tempos em que as pessoas estão cada vez mais agressivas, achando que segurar uma arma em mãos é a solução para tudo, a mensagem de que pessoas com livros em mãos conseguem ser muito mais poderosa que qualquer bala.

Infelizmente a força do filme sofre algumas rupturas com o roteiro contendo algumas incoerências. Uma delas vemos Seydou (Abdoulaye Diallo), um aluno problemático ser expulso da escola por mal comportamento, Foucault faz de tudo para que o colégio o aceite de volta. Após conseguir isso o professor percebe que este aluno faltou, ao ir atrás dele, vemos que o aluno está faltando aula para andar com uma gangue, ao tentar falar com o garoto, o protagonista acaba sendo ameaçado para que o deixe-o em paz. Na cena seguinte Seydou retorna para a sala de aula, sem nenhum tipo de explicação. Assim temos uma cena de 5 minutos que não serviu de absolutamente nada, já que não temos nenhuma consequência daquilo, tirando o peso que uma atitude dessas poderia causar. Felizmente esse tipo de situação não afeta a mensagem, mas fragiliza o filme em certos pontos.

 O Melhor Professor da Minha Vida é um filme simpático, com uma linda mensagem e nos faz observar claramente que não é fácil estar no lugar dos nossos professores, pois eles fazem aquilo por amor e principalmente para que a sociedade permaneça junta para poder seguir em frente. A reflexão sobre ensino, educação e respeito permanece mesmo que o filme se vá, e é por isso que se torna importante sempre aplicar um bom conteúdo ao roteiro, mesmo que não seja capaz de construir uma estrutura perfeita.

Nota: ★★★✰✰

Ficha Técnica

O Melhor Professor da Minha vida (Les Grands Esprits)

Ano: 2017

Direção: Olivier Ayache-Vidal

Roteiro: Olivier Ayache-Vidal

Elenco: Denis Podalydès, Abdoulaye Diallo, Tabono Tandia, Léa Drucker, Pauline Huruguen 

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