Poltrona Pipoca | Assassinato no Expresso do Oriente
O diretor Kenneth Branagh tem muitos trabalhos interessantes e muito bem dirigidos, como o ótimo Frankenstein de Mary Shelley, e alguns trabalhos medianos, como Thor. Mesmo assim o seu saldo é positivo, e quando a obra em si não é tão boa, vemos que ele tem uma ótima mão na direção. Nesse novo longa temos todo um clima bem fiel ao livro homônimo em que o filme é baseado. O longa se inicia bem apresentando seu personagem principal, Hercule Poirot (Kenneth Branagh), já mostrando todos seus TOC’s e sua extrema eficiência para desvendar crimes.
Infelizmente o roteiro se complica ao fazer com que tudo se encaminhe ao plot principal – como mostrar o quanto nosso protagonista precisa descansar e se auto dá férias, mas na cena seguinte mostra um total preguiça para trazê-lo de volta à ativa -, uma das formas mais bobas possíveis. Esse tipo de situação “facilitada” logo no começo da projeção já causa um estranhamento ao espectador.
A forma como Branagh lida com vários personagens em cena é bem criativa, colocando vários deles em cena e aos poucos ir trocando o foco no rosto de cada um deles, demonstrando tensão e muito questionamento. Isso acaba funcionando muito bem, mas não ganha tanto peso por seus personagens serem mal aproveitados e mal desenvolvidos. Felizmente temos Poirot para se apoiar, é o único bem desenvolvido e com que realmente nos importamos.
Outro destaque positivo é o design de produção, nos imergindo para aquela década, desde o penteado de um personagem, a uma cadeira robusta de época em cena. E mais uma vez o que é digno de elogio acaba perdendo força, o que prejudica nesse caso é o CGI, em vários momentos nos sentimos em um vídeo game de cinco anos atrás, nos tirando totalmente daquele universo e nos lembrando de que realmente aquilo que estamos vendo é um filme.
A todo momento a narrativa vai tentando nos empurrar uma tensão, apenas algumas poucas vezes funciona. Na maioria das cenas isso não funciona e nos faz sentir o peso de sua duração – que nem é tão longa assim -. A perda de ritmo vai arrastando o final cada vez mais e o tédio nos engole sem dó, a fadiga é algo que nenhum cineasta quer que seu espectador sinta, mas, Michael Green e seu roteiro preguiçoso torna os seus 15 minutos finais insuportável.
Assassinato no Expresso do Oriente é mais uma mostra que um bom diretor pode salvar muitas coisas de um filme com o roteiro preguiçoso, mas no geral faz com que o espectador torça para que a projeção acabe de uma vez por todas. Isso é uma pena, pois o material fonte é extremamente bem escrito e imersivo. É uma pena ver uma releitura de uma obra de Agatha Christie ser tão esquecível assim.
Nota: ★★✰✰✰
Ficha Técnica
Nome Original: Murder on the Orient Express
Ano: 2017
Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Michael Green
Elenco: Kenneth Branagh, Daisy Ridley, Leslie Odom Jr., Penélope Cruz, Josh Gad
Fotografia: Haris Zambarloukos
Montagem: Mick Audsley