Fotogramas | Interestelar – Planeta de Miller

 

A partir do momento em que Cooper e sua equipe pousam no planeta de Miller, somos orientados por Nolan sobre todos os elementos que serão fundamentais para toda a sequência. Primeiro somos lembrados pelo piloto que a cada hora que se passava no local, era equivalente a sete anos na Terra. Junto à trilha sonora que começa quase imperceptível a soar como um relógio, deixando tudo mais urgente, fazendo com que o público se sinta pressionado junto aos personagens.

Outro ponto crucial é mostrado assim que Brand sai da nave e observa o horizonte. Vemos o que parecem grandes montanhas ao longe e, enquanto a personagem analisa o local, a música vai se intensificando e a cada segundo vai ficando mais perceptível que cada segundo ali é precioso.

Miller

A princípio, a cena pode parecer simples, mas alguns detalhes nos fazem perceber o quanto Nolan queria mostrar o quão cruel e perigoso pode ser o tempo, de uma forma menos óbvia. A água limitando a locomoção dos personagens, tornando seus movimentos arrastados, enquanto o relógio vai ficando mais rápido, deixando tudo mais tenso.

O mais interessante é quando Cooper percebe que o que os personagens viram no horizonte não eram montanhas, mas sim ondas gigantes, que eram formadas por conta da atração gravitacional de Gargantua. No momento em que ele avisa aos demais membros da equipe que devem retornar à nave, a música explode e se torna definitivamente uma contagem regressiva, já que uma das ondas está mais próxima que o imaginado.

Você se pega temendo pela vida dos personagens, e quando Cooper pede para T.A.R.S. ir salvar Brand, que ficou presa nas ferragens, aquela contagem regressiva da trilha se junta a tons mais heroicos, com o piano de Zimmer imponente. Entendemos que o formato de monólito do robô não é apenas uma referência a 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Kubrick. Ele foi pensado para ocupar pouco espaço dentro das naves e para ser bastante ágil quando for preciso. Nesse momento, T.A.R.S. sai rolando em forma de estrela para chegar a tempo em Brand.

Durante essa cena, o filme intercala com momentos que se passam na Terra, a transição entre elas dá a entender que eles passam um bom tempo no planeta procurando rastros de Miller. Isso conta bastante no fim da cena, pois além do tempo perdido, Doyle morre ao esperar que T.A.R.S salve Brand. Se não bastasse, Nolan também nos coloca dentro da nave quando ela é atingida pela onda, nos deixando junto dos personagens, ilhados naquele planeta.

É interessante notar que o roteiro quer nos mostrar que o tempo pode ser relativo por diversos fatores, e se nós não aproveitarmos cada segundo, podemos nos perder de forma mais introspectiva, onde o tempo não só levará nossa sanidade, mas vai cobrar pela vida que estamos deixando para trás. Basta reparar que o planeta é coberto pela essência da vida, mas é morto, com um tom acinzentado, quase de luto, com duas colunas imponentes que estão ali apenas para cobrar o tempo que cada um vem desperdiçando.

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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