Sci-Fi | Fuga no Século 23
Distopias e ficção-científica são termos que estão intimamente ligados. Uma realidade diferente da nossa, principalmente com efeitos negativos para o ser humano, é o foco da distopia, que geralmente se passam em um futuro distante ou até mesmo em realidades paralelas. Em 1976, o diretor Michael Anderson resolveu adaptar o romance de William F. Nolan e George Clayton Johnson para o cinema: o filme Fuga no Século 23, que se passa no ano de 2274 e a sociedade não mais existe como antes.
Pessoas encontram-se isoladas em espécies de redomas e lá existe uma regra de que ao completar 30 anos de idade os residentes daquele local são sacrificados e substituídos por outros, renascidos. O bizarro sacrifício ocorre no evento chamado Carrosel: ao completar a idade designada, os indivíduos flutuam numa espécie de área respectiva e são destruídos. Para viverem de forma harmônica com os poucos recursos que existem na área e prevenir a superpopulação, esse sacrifício é exigido.
A ideia de viver ultrapassando os limites do prazer e do hedonismo permeiam a trama, até completar a faixa etária. No filme, por conta da censura e da época, essa temática do prazer e sexo é explorada de uma forma sutil. A fim de saber a data-limite para a morte, os habitantes possuem uma espécie de jóia acoplada na palma da mão, que muda de cor à medida que os anos se passam, ficando vermelha quando está próximo dos 30 anos; assim como as vestimentas dos personagens, com cores diversas para identificar as idades.
O personagem principal é Logan (Michael York) e ele é um Sandman, profissional especialista em conter alguém que tente fugir daquele local. Junto a outros Sandmen, Logan encontra mulheres voluntárias para engravidar e dar início a um novo ciclo de vida, já que com a morte de uns, outros precisam entrar naquela “sociedade”. Tudo muda quando Logan, certo dia, ao matar um dos fugitivos, descobre uma estranha chave que pode levar ao enigmático Santuário, que se encontra externamente à redoma. E ao descobrir que está prestes a completar a idade limite, Logan resolve fugir, junto a uma rebelde chamada Jessica (Jenny Agutter), daí o título original da obra.
O filme tem efeitos especiais muito sofisticados e utiliza com sapiência maquetes para representar aquela sociedade distópica de uma maneira crível, tanto é que venceu um Oscar na categoria. O design de produção também é muito cuidadoso, os cenários são majestosos. Quando os personagens saem da redoma, o mundo exterior é de uma beleza magnífica, principalmente com o verde da vegetação.
Logan e Jessica não conhecem nada da vida externa, não sabiam que existiam pais e filhos e o conceito de envelhecer lhes era estranho. Quando eles encontram o senhor, interpretado por Peter Ustinov, o mundo abre diante de seus olhos.
Existem conceitos muito instigantes na obra que poderiam ser melhor explorados: a crise existencial ao descobrir um mundo maior do que imaginavam; o fato do mundo ter “acabado” não é muito explanado (talvez no livro seja); e o sexo e luxúria que os habitantes se utilizam para viver o máximo da vida com prazer são pouco explorados no longa. Um remake bem construído e com um roteiro sólido poderia preencher essas lacunas em um futuro filme (que inclusive está em planejamento há um tempo).
As atuações são caricatas e, em alguns momentos, o filme é datado quanto aos efeitos especiais, principalmente na cena em que os protagonistas estão numa caverna de gelo e encontram um robô chamado Box. Está certo que o filme foi lançado um ano antes de Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança, mas se compararmos o C3PO com esse robô de Fuga no Século 23, a diferença em termos de qualidade é gritante.
Fuga no Século 23 é uma sci-fi com temáticas inteligentes que poderiam ser bem melhor exploradas. Sentimos, ao término do filme, que poderia ter um potencial ainda maior, embora exista uma série lançada em 1977, de 14 episódios, que talvez explore mais os conceitos da obra. Porém, na visão que Michael Anderson proporcionou — e principalmente levando-se em conta a época que o filme foi feito —, é um trabalho ousado e que pode gerar muitas reflexões no espectador ávido por distopias.
Nota: ★★★✰✰
Ficha Técnica
Fuga no Século 23 (Logan’s Run)
Ano: 1976
Direção: Michael Anderson
Elenco: Michael York, Richard Jordan, Jenny Agutter, Peter Ustinov, Farrah Fawcett
Roteiro: David Zelag Goodman, baseado em obra de William F. Nolan e George Clayton Johnson
Trilha Sonora: Jerry Goldsmith