Apimentário | Y Tu Mamá También (2001)

O amadurecimento sexual tem sido tratado no cinema há muito tempo e de múltiplas formas, mas quando a película consegue reunir sexualidade e questões políticas, traçando paralelos acerca da vida das personagens, a experiencia torna-se ainda mais prazerosa, tamanha a riqueza do roteiro. A cena sexual isolada, sem pontas a se conectarem, se torna um pornô barato de narrativa preguiçosa. Y Tu Mamá También, de Alfonso Cuarón, consegue ser cru, sentimental, sensual e político, para entregar um road movie cheio de nuances através do intenso triangulo amoroso entre Tenoch, Julio e Luisa.

A espanhola

Não há melhor maneira de definir o tom do filme do que as cenas explícitas da abertura em que Tenoch (Diego Luna) e Julio (Gael Garcia Bernal) transam com suas respectivas namoradas, com toda a potência da sexualidade adolescente, brutal e precoce. Com a partida das meninas para uma viagem à Europa, os rapazes se sentem livres para buscar tudo e qualquer coisa que suas mentes pequenas possam desejar. Fantasiando colegas de escola, a professora de arte, primas e Salma Hayek, a cena da masturbação no trampolim da piscina é estranhamente natural — mas, a memória que culmina no êxtase do ato, é a lembrança mútua da espanhola que ambos conheceram numa festa de família; a muito atraente e muito mais velha Luisa (Maribel Verdú).

y tu mamá también_2001

A Boca do Céu

Passando por um casamento desfeito e saúde debilitada, Luisa se sente atraída a participar da viagem à uma praia mística junto dos garotos, o que desencadeia os acontecimentos seguintes. Como em todo o road movie, a jornada serve para revelar as fragilidades dos envolvidos; e aqui, também a metáfora política representada por eles. Ideologicamente, as diferenças políticas e econômicas opostas permeiam a vida dos dois garotos, paralelo à uma amizade harmoniosa e cheia de testosterona. Se há um aspecto concreto nesse filme, é a coragem de ser grosseiro e descarado sobre a ideia da representação do sexo. Tenoch e Julio não guardam pudor em relatar suas conquistas sexuais masculinas e o fazem com naturalidade e deboche, deixando Luisa cada vez mais à vontade para se expor e revelar suas experiências mais avançadas.

y tu mamá también_2001

Olha pra mim

Toda a prepotência masculina se esvai em segundos quando Luisa se mostra disposta a fazer sexo (primeiro com Tenoch, depois com Julio para igualar a tensão entre os dois). As duas cenas não pecam em mostrar o modo desajeitado e grosseiro da transa ligeira dos garotos; um, que é mais pra esquerda do que pra direita (baita sacada do roteiro), se joga entre as pernas da moça, como fosse abocanhar um alimento qualquer, culminando num pedido de desculpas por ter sido precoce demais. O outro, parecendo operar uma máquina, obriga Luisa a pedir que a olhe nos olhos e sinta ela, com calma. “Espera, espera”. Mas, pedir não foi suficiente porque o ato termina em segundos, com mais um rapaz se desculpando ao desabar, exausto, em seu seio nu.

y tu mamá también_2001

O melhor prazer é dar prazer

Toda essa sensualidade cômica não funcionaria sem as performances pontuais de Luna e Bernal, que capturam não apenas a energia de Tenoch e Julio, mas também sua incompreensão sobre os sentimentos complicados em ebulição; Verdú mostra exatamente a qualidade exótica de uma personagem feminina nesse contexto: Luisa, uma mulher entre os meninos. Os caras fazem todo o barulho, mas ela está no controle.

Dentre tantas cenas com transas afoitas permeando entre o trio, algumas das sequências mais sensuais são as que não contêm o ato sexual, até porque, estas estão sempre envoltas em uma atmosfera cômica. Quando Luisa põe a tocar no jukebox uma canção repleta do calor latino e os rapazes a envolvem numa dança erótica, a sexualidade está à flor da pele e uma energia intensa toma conta do momento que acabaria na libertação seguinte, com a catarse das personagens e o fechamento da trama. Y Tu Mamá También é um filme excitante, não somente na forma como aborda a temática sexual, mas também por seus estímulos intelectuais que são tão afrodisíacos quanto o sexo, propriamente dito. O prazer de assistir é real, em todos os sentidos.

Nota: ★★★★

Ficha técnica

Título Nacional: E Sua Mãe Também

Ano: 2001

Direção: Alfonso Cuarón

Roteiro: Alfonso Cuarón, Carlos Cuarón

Elenco: Gael Garcia Bernal, Diego Luna, Maribel Verdú

Fotografia: Emmanuel Lubezki

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Elaine Timm

Elaine é gaúcha, formada em Jornalismo, atua como social media e curte freelas. Blogueira de várzea, arrisca escritas diversas. Cinéfila, amante dos livros, musical e nerd desde criança, quer ser Jedi, mas ainda é Padawan. Save Ferris.

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