I Am Mother | Análise

 

O Festival de Sundance 2019 lançou I Am Mother e a Netflix comprou os direitos de exibição, o qual faz parte agora da grade de programação do canal de streaming. Dirigido por Grant Sputore, em seu primeiro longa-metragem, esse filme australiano é um eficiente sci-fi que utiliza sabiamente o pouco orçamento e tem um resultado impressionante quanto aos seus aspectos técnicos.

O início do filme mostra que ocorreu alguma catástrofe com a humanidade, guerra ou algo semelhante e passamos a conhecer uma unidade de repovoamento liderada por robôs. O “término” da humanidade é conhecido como “extinção” e milhares de embriões estão guardados a fim de serem utilizados para o “renascimento”. A tecnologia é tão avançada que o embrião é colocado numa espécie de útero artificial, e dentro de 24 horas o feto se desenvolve e um recém-nascido surge.

É o que acontece com a Filha, personagem sem nome interpretada por Clara Rugaard. Ela passa por esse processo e acompanhamos, assim, o seu crescimento. A Mãe é uma robô, cuja voz é da atriz Rose Byrne. A robô que alimenta, educa e faz tudo até a garota atingir a adolescência. Nos perguntamos como que existem tantos embriões conservados no local e só utilizam de um em um, mas em determinado momento essa pergunta é respondida: a robô como Mãe precisa de tempo para cuidar dos seus filhos, então seria inviável criar várias crianças de uma só vez. O processo de repovoamento tornaria-se muito demorado, já que apenas uma mãe existe para tudo aquilo.

Com a chegada de uma estranha ao local, interpretada por Hilary Swank, a filha passa a questionar toda aquela realidade, sobre o que tem do lado de fora e o que realmente aconteceu com a humanidade. Mais um derivado do Mito da Caverna de Platão.

I am mother

Um dos grandes destaques do filme é a sua ambientação: para um debut em longa-metragem, o diretor concebeu um filme com um design inventivo e que, em nenhum momento, questionamos a falta de recursos utilizados para criar o ambiente futurista. Corredores, máquinas, o robô (um misto de efeitos práticos e performance humana, interpretado por Luke Hawker), tudo é muito bem feito e impressiona o espectador.

Além disso, as performances não decepcionam. Clara Rugaard é a protagonista e é uma atriz muito expressiva, carrega o filme quase inteiro sozinha, de uma maneira eficaz. Clara, que lembra uma Natalie Portman mais jovem, dá vida a uma personagem que faz o papel do espectador, questionando-se diante de todo aquele mistério pós-apocalíptico. Rose Byrne, através somente de sua voz, dá uma personalidade a uma máquina. Assim como Ela (de Spike Jonze), a inteligência artificial, através da voz humana, gera empatia. A voz de Byrne é carinhosa, calma, como uma mãe preocupada com seus filhos, e é um ponto bastante positivo para criarmos certa afeição à máquina.

A oscarizada Hilary Swank não tem grande destaque, mas também não faz feio, interpretando uma sobrevivente que lembra bastante a Sarah Connor da franquia O Exterminador do Futuro. O feminino e a maternidade são temas centrais no longa. Com exceção do ator que interpreta a máquina quanto aos movimentos, só mulheres estão no filme. É uma visão interessante sobre a maternidade e como a mulher é importante na salvação da humanidade. A força de uma mãe, da educação, da preocupação, mostra que, diante de uma tecnologia avançada em que possa conceber vida a um feto armazenado, o papel do homem é irrelevante.

Os problemas do filme residem no segundo ato até o desfecho: enquanto a trama é instigante, reviravoltas bobas acontecem e o transformam numa ficção-científica genérica. No entanto, as qualidades superam e I Am Mother é um exemplo de sci-fi bem feita e promissora quanto à carreira do diretor Grant Sputore. Uma boa opção na Netflix para quem busca uma história pós-apocalíptica que provoca reflexões e ainda entretém o espectador no meio do caminho.

Nota:  ★★★✰✰

 

 

 

Ficha Técnica

Nome Original: I Am Mother

Ano: 2019

Direção: Grant Sputore

Elenco: Clara Rugaard, Hilary Swank, Rose Byrne, Luke Hawker, Tahlia Sturzaker

Roteiro: Michael Lloyd Green e Grant Sputore

Fotografia: Steven D. Annis

Montagem: Sean Lahiff

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Ibertson Medeiros

Graduado em Direito, sempre quis trabalhar de alguma forma com cinema, pois é uma paixão desde a infância. Cearense, fã dos anos 1970, curte o bom e velho Rock ‘n Roll e um cinema mais alternativo e underground, sem tirar os olhos das novidades cinematográficas.

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