Curta um Curta | The Cloverfield Files

 

Desde 2008, quando Cloverfield foi lançado, se criou uma legião de fãs do intrigante filme sobre um ataque de um monstro gigantesco a Nova Iorque. Uma campanha viral feita na internet, junto com as poucas informações reveladas, mantendo o mistério, trouxe um novo fôlego para os fãs de ficção-científica contemporâneos.

Obviamente que a partir dali os idealizadores entenderam que manter o mistério nos lançamentos da franquia era vital para tornar este universo mais interessante. Como disse há pouco, fãs abraçaram a ideia e, a cada ano que se passa, se espera que algo deste universo seja explorado um pouco mais. Dentro desta legião de fãs, temos o Produtor de áudio visual e diretor de cinema cearense, Bruno Albuquerque.

Quando uma ousada ideia, de Bruno, de explorar um pouco mais deste universo foi divulgado, quase ninguém sabia do que se tratava; foram meses camuflando este projeto para fazer jus a toda a franquia: pegar seus fãs de surpresa.

Um dos primeiros elementos que notamos no início do curta é que o diretor entende muito bem sobre o universo que quer explorar, mesmo com informações limitadas. Não enrola seu público tentando manter mais mistério, de cara, numa tela de computador, nos é exposto em qual universo aqueles personagens vivem e o que podemos esperar dali para a frente.

Um dos maiores trunfos do curta é o fato de Bruno não subestimar seu público, ele faz questão de não utilizar diálogos expositivos, trabalhando muito bem nos planos detalhes, como na carta da empresa Tragruato sob a mesa do pai de Miguel (Pedro Siolli). Esse tipo de atitude faz com que a obra se torne mais rica, trazendo total atenção e imersão de seu público.

Foto: Screen Filmes

Isso também traz uma naturalidade maior a obra, o que se mostra ser essencial durante os pouco mais de 13 minutos do curta, nunca soa exagerado ou forçado. Em momento algum me peguei sendo tirado daquele universo, através de situações absurdas, indo completamente na contramão de O Paradoxo Cloverfield, que extrapola nesse tipo de situações, se tornando insuportável.

O elenco está bem, consegue entregar seus papeis de forma bem natural, com a Andressa Medina que segura mais o filme. Mas, o principal aqui é a sincronia entre os protagonistas, o relacionamento deles é bem construído e, novamente, sem precisar ser expositivo.

Foto: Screen Filmes

Um dos pontos mais positivos da obra é todo seu trabalho de som, desde a trilha sonora até a mixagem. Com sons escolhidos a dedo, ajudam a puxar ainda mais quem assiste para dentro do universo, e utiliza a música quando necessária, deixando-a de lado também quando é preciso. A composição do Daniel Vieira é precisa, criando algo que se mescla entre a ficção- científica e a tensão, tendo até elementos de horror.

A escolha de Bruno ao utilizar o found footage não é gratuita, faz sentido ela estar ali, dando mais força aos acontecimentos, tornando mais orgânicos e, ao mesmo tempo, homenageando o filme original. Aqui, diga-se de passagem, temos um trabalho melhor do que o de Matt Reeves no uso da câmera.

The Cloverfield Files é um exemplo perfeito do quanto de talento temos em nosso cinema independente, que mesmo entrando em um universo já explorado, Bruno nos traz novos questionamentos, sem precisar ficar esfregando na cara de seu público e investindo nos detalhes. Superando todas as dificuldades e fazendo cinema com amor.

Nota: ★★★★✰

Confiram o curta clicando aqui: The Cloverfield Files

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2019

Direção: Bruno Albuquerque

Roteiro: Bruno Albuquerque

Elenco: Pedro Siolli, Andressa Medina, Wladimir Almeida, Yuri Melo, Michael Stahl-David

Montagem: Bruno Albuquerque

Fotografia: Luan Andrade, Bruno Albuquerque

Figurino: Maria de Fátima Matias, Michely Quinto

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Ítalo Passos

Cearense, estudante de marketing digital e crítico de cinema. Apaixonado por cinema oriental, Tolkien e ficção científica. Um samurai de Akira Kurosawa que venera o Kubrick. E eu não estou aqui pra contrariar o The Rock.

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