Horrorscópio | A Bruxa de Blair (1999) – 20 Anos Depois
“Em outubro de 1994, três estudantes de cinema desapareceram no bosque perto de Burkittsville, Maryland, enquanto filmavam um documentário. Um ano depois, suas filmagens foram encontradas.”
Um filme abrindo dessa forma hoje em dia já não tem o mesmo impacto, porque o estilo já está desgastado. Há vinte anos, a suposta fita dos três jovens desaparecidos na floresta, foi um marco na história do cinema de terror alternativo. O filme criado por Eduardo Sanchez e Daniel Myrick, quebrou recordes, faturou 248.639.099 de dólares em todo o mundo e inspirou muitas produções para o estilo found footage.
Antes da estreia de A Bruxa de Blair nos Estados Unidos, em julho de 1999, já circulavam boatos sobre os três estudantes desaparecidos. O truque genial de Eduardo e Daniel para promover o filme foi difundir notícias falsas e espalhar cartazes de “Procura-se”, pedindo informações acerca do paradeiro dos jovens supostamente perdidos. Com a isca jogada, era só esperar o bom e velho marketing boca-a-boca fazer seu trabalho e lançar a fita nos cinemas quando o público estivesse sedento de respostas para aquele mistério.
Um orçamento de 60 mil dólares, filmagens propositalmente toscas com câmeras Hi-8 em 6mm, atores amadores e uma boa ideia na cabeça; não há trilha sonora, nenhum monstro, nenhum efeito especial e nada de sangue. Perceba que o que predomina é o fator mais importante em um filme de terror: o psicológico. O medo que foi plantado antes da estreia se amplia com a falta de efeitos especiais, força o espectador a usar a imaginação para visualizar o que poderia estar causando medo aos jovens da filmagem.
O co-diretor, Eduardo Sanchez, lembra:
“Nós estávamos atrás de realismo absoluto. A gente sabia que, se o fizéssemos com uma equipe, não funcionaria. Desde o começo nosso desejo era fazer A Bruxa de Blair como um filme improvisado. Basicamente, a ideia era deixar os atores por um certo período sozinhos, dizer a eles o que estava acontecendo e os deixar filmando sozinhos por algumas horas de cada vez. Então a gente voltava, revisava as imagens e seguíamos para a próxima cena.”
Outro truque usado pelos diretores para provocar realismo, foi inserir um sargento das Forças Especiais que já havia trabalhado com a dupla em um filme de terror chamado Black Chapters. A função dele era simples: mexer com o psicológico dos atores, como num treinamento de guerra e afastá-los o máximo que pudessem do conceito de uma produção cinematográfica. Para Sanchez, eles precisavam estar inseridos em uma situação de pânico real para que suas emoções fossem genuínas e não apenas por fruto da atuação.
Foi assim que um grupo de atores desconhecidos, Heather Donahue, Michael C. Williams e Joshua Leonard se viram fingindo fazer um filme sobre a antiga bruxa que morava no bosque, enquanto estavam realmente apavorados com outros fatores; além do sargento, a equipe de filmagem inseria homens de aparência sinistra no caminho, ou tocavam fitas de crianças chorando no meio da noite. “Nós éramos a bruxa de Blair”, disse Myrick em uma entrevista. Muitas das cenas icônicas do filme, foram efeito de um medo real, como a parte em que Heather chora com a câmera próxima de seu rosto, fazendo uma secreção genuína escorrer pelo nariz, sem nenhum efeito de maquiagem.
O produto final, entregue aos espectadores em 1999, provou ser uma experiência cinematográfica intensa no gênero do terror, mas, naturalmente, toda a farsa em volta da produção viria à tona meses depois da estreia e do grande sucesso de bilheteria. Após a revelação, o elenco ativo começou a fazer entrevistas e confessou que havia feito um filme a partir de notas deixadas pelos diretores com pistas sobre como eles tinham que seguir e agir diante das câmeras. Foi um golpe que caiu no momento perfeito e os diretores nunca fizeram outro sucesso como aquele. Sequências desastrosas foram feitas, mas longe do conceito de found footage, acabaram sendo fracassos da franquia. Muitas produções se inspiraram no estilo de A Bruxa de Blair, como Atividade Paranornal, REC e Cloverfield – Monstro. Uma produção autêntica — tanto em sua criação quanto em seu marketing — que nos mostra o que pode ser feito com poucos recursos, mas com excesso de criatividade e doses bem medidas de terror psicológico.
Avaliação do Clube: ★★★★☆
Ficha técnica
Nome Original: The Blair Witch Project
Ano: 1999
Direção: Eduardo Sánchez, Daniel Myrick
Roteiro: Eduardo Sánchez, Daniel Myrick
Elenco: Heather Donahue, Michael C. Williams, Joshua Leonard