Love, Club | Crush À Altura

A nova comédia romântica adolescente da Netflix até tem momentos simpáticos, mas exagera (e muito) nos estereótipos

As comédias adolescentes parecem ser um dos estilos de maior sucesso entre os filmes originais da Netflix. Depois da boa recepção do público com Barraca do Beijo e de ter impulsionado carreiras, como aconteceu com a de Noah Centineo (que esteve em Sierra Burgess É Uma Loser, Para Todos os Garotos Que Já Amei e foi protagonista de O Date Perfeito), o streaming parece ter tomado gosto pelo gênero. Nos últimos dias, chegou por lá o novo título, Crush À Altura, a história de uma garota de 1,85 que sofre com as piadas todos os dias na escola por ser tão alta.

Vivida por Ava Michelle uma dançarina americana mais conhecida por aqui pelos espectadores do canal Lifetime por conta do reality Dance Moms , a protagonista Jodi Kreyman passa seus dias no colégio tentando se misturar aos seus colegas  com o desejo de não ser notada. Em vão, já que sua altura chama a atenção, ainda mais pelo fato de ela ser uma garota. É incrível que, nos 101 minutos de filme, não é mencionada nenhuma vez a possibilidade de Jodi se tornar modelo (e ela é magra e bonita) ou atleta; não que essas devam ser as únicas possibilidades para uma menina alta, mas é estranho vê-la sendo resumida como “a altona esquisita” sem tirar qualquer proveito de sua estatura, ou sequer ser aconselhada a isso. 

Pelo contrário, os esforços de seus pais se resumem a atitudes deprimentes, como tentar fazer a filha entrar em um “clube” de pessoas altas. Tudo que, na verdade, só a faz se sentir ainda mais diferente dos outros jovens da sua idade. Jodi se mostra cansada e já passiva aos tormentos dos colegas e conta com a companhia de apenas dois amigos: a impaciente e sem papas na língua Fareeda (Anjelika Washington) e o apaixonado Jack Dunkleman (Griffin Gluck), que alimenta um amor platônico pela amiga desde o primário, mas sem sucesso em convencê-la a lhe dar uma chance. Obviamente, tanto Fareeda quanto Jack têm a estatura menor Jodi. 

A garota sonha com coisas normais de qualquer adolescente, como em ter um namorado e participar dos círculos sociais, mas a altura sempre parece ser um empecilho. Meninos querem se sentir viris e protetores e se assustam com a ideia de sair com uma menina mais alta. A própria Jodi coloca o fato de o garoto ser mais alto que ela como um dos pré-requisitos para o seu homem ideal. 

Eis que surge Stig Mohlin (Luke Eisner), um estudante sueco fazendo intercâmbio. Loiro, bonito e alto (!), o rapaz parece um deus nórdico entrando na escola. O problema desse estereótipo é justamente o personagem quase cair numa caricatura. Ao invés de colocar apenas algumas diferenças culturais, o roteiro investe em fazer Stig ser ora um príncipe, inteligente e atencioso, ora um completo abobalhado (sobretudo em suas interações com Dunkleman, cuja família é quem o hospeda). É como se não houvesse uma decisão se irá se usar uma visão positiva ou negativa por o rapaz ser estrangeiro.

Mas a caricatura do sueco não é o único clichê de Crush À Altura.  Há, claro, a patricinha que é a garota mais popular do colégio, que atormenta Jodi desde a infância e avança logo com suas garras para ficar com o novo aluno bonitão e “exótico”. E, obviamente, ela anda com uma turma que não perde tempo em tirar sarro da nossa heroína. Tem ainda a irmã mais velha “perfeita” de Jodi, que a ajuda a dar um up no visual.

Se a ideia era uma mensagem de que devemos abraçar nossas peculiaridades e ter orgulho de quem somos por inteiro, o tiro sai um pouco pela culatra com um final que poderia ser fofo, mas acaba soando como a personagem se contentando com “o que tem pra hoje”. Crush À Altura tenta, mas não consegue repetir a boa fórmula de outras comédias teens da Netflix, já que aqui os pretendentes de Jodi pisam mais na bola do que acertam e o filme pouco oferece de identificação para alguém que se sinta diferente por qualquer outro motivo. Seria até preferível que a protagonista tivesse um “momento Elsa”, mandasse um “Let it Go” na cara da sociedade e terminasse feliz simplesmente por amar a si mesma.

Nota: ★✰✰✰✰

 

Ficha Técnica

Nome original: Tall Girl

Ano: 2019

Direção: Nzingha Stewart

Roteiro: Sam Wolfson

Elenco: Ava Michelle, Griffin Gluck, Sabrina Carpenter, Luke Eisner, Anjelika Washington, Clara Wilsey, Steve Zahn

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Roseana Marinho

Roseana é publicitária e acha que os dias deveriam ter pelo menos 30h para trabalhar e ainda poder ver todos os filmes e séries que deseja. Não consegue parar de comprar livros ou largar o chocolate. Tem um lado meio nerd e outro meio bailarina.

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