Nos Cinemas | Ford Vs Ferrari

22 de novembro de 201919 de junho de 2020 Roseana Marinho 1090 Views 0 Comment Caitriona Balfe, Christian Bale, James Mangold, Jon Bernthal, Matt Damon, Noah Jupe

Pelo título, pode parecer que Ford Vs Ferrari é apenas mais um filme sobre automobilismo. Mais um longa cheio de carros velozes, ultrapassagens perigosas e acidentes. Felizmente, o filme de James Mangold é bem superior a uma mera história sobre máquinas; é uma história sobre ambição, determinação, talento e, acima de tudo, amizade.

Após uma aposentadoria forçada das pistas por seus problemas cardíacos, Carroll Shelby (Matt Damon) investe na indústria automobilística, mesmo que não mais por trás do volante. Ele treina pilotos e funda a Shelby America, uma companhia de equipamentos e customização de carros. Logo sua empresa começa a trabalhar com a Ford, que está começando a se inserir no mundo das corridas e tem a ambição de bater a Ferrari. O filme é didático na medida certa, fazendo o espectador entender por que uma fábrica tradicional como a Ford seria levada a cobiçar um espaço na indústria esportiva de alta velocidade.

Christian Bale, mais uma vez excelente em seus maneirismos, surge como o piloto e mecânico Ken Miles, o homem de confiança de Shelby. Com problemas financeiros e um temperamento difícil, ele quase desiste das pistas para trabalhar como um funcionário em uma oficina comum. Com a proposta de Shelby, Miles ganha a chance de voltar às pistas — e a notícia, aliás, rende uma ótima cena com a esposa Mollie (Caitriona Balfe) ao volante do carro da família. É uma pena que mesmo com uma intérprete tão boa o filme não mostre um pouco mais da grande influência de Mollie na vida de seu marido, já que ela também era bem envolvida com o mundo da velocidade.

Somos compensados com uma ótima química entre os co-protagonistas. O público consegue comprar a ideia da parceria de Miles e Shelby justamente porque a sintonia entre Bale e Damon é tão boa. E apesar do roteiro de Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e Jason Keller praticamente transformar a Ford em um personagem maior que seus próprios executivos, é no trabalho em equipe que mora o grande trunfo do filme. Enquanto o personagem de Josh Lucas, Leo Beebe, quer sobrepor o nome da fábrica a qualquer outra coisa, Shelby, Miles, Lee Iacocca (Jon Bernthal) e, por vezes, até Henry Ford II (Tracy Letts) percebem que o fortalecimento da marca está atrelado a muito mais do que apenas estampar sobre a potência dos motores nos jornais.

Se você (assim como eu) não é lá um super fã de automobilismo, pode se surpreender com o fato de que as cenas de corrida são qualquer coisa, menos chatas. Isso porque o trabalho de edição tornou o velho modus operandi de imagens do câmbio, mão no volante, piloto de olhar compenetrado, pneus riscando a pista e ultrapassagens em algo que vale a pena prestar atenção; a montagem de Andrew Buckland, Michael McCusker e Dirk Westervelt coloca o espectador não só no cockpit, como também em um espaço VIP das arquibancadas dos locais de corrida. É uma visão privilegiada para quase vivenciar as disputas junto com os pilotos, em voltas que têm mais do que ultrapassagens e acidentes: têm emoção genuína. O visual dado ao filme pelas mãos e olhar de Phedon Papamichael (indicado ao Oscar em 2014 pela fotografia de Nebraska) também é belíssimo.

Ford Vs Ferrari é um filme com dois protagonistas carismáticos e uma narrativa emocionante. Não chega a ser uma obra-prima de James Magold (que anteriormente dirigiu o maravilhoso Logan), mas é correto sem ser quadrado. Assim como dentro da história, o trabalho em equipe rendeu frutos positivos.